A juventude sempre foi considerada o motor de mudança e inovação em qualquer sociedade. No entanto, um recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) expõe uma realidade preocupante: 20,4% dos jovens em todo o mundo não estão nem trabalhando nem estudando. Esse cenário, agravado por desafios econômicos e sociais, revela uma crise silenciosa que pode ter repercussões duradouras para o futuro da sociedade global.
O Desafio do “Nem-Nem”
O termo “nem-nem” se refere a jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho nem em programas educacionais ou de treinamento. A última pesquisa da OIT estima que essa parcela da juventude representa 20,4% da população jovem global. Esse dado alarmante traz à tona a crescente ansiedade entre os jovens em relação ao futuro e às suas oportunidades de vida. Embora as taxas globais de desemprego juvenil tenham mostrado uma tendência de queda nos últimos anos, essa melhoria não tem sido suficiente para integrar uma parcela significativa dos jovens ao mercado de trabalho formal.
Panorama global do desemprego juvenil
A taxa global de desemprego juvenil foi estimada em 13% em 2023, equivalente a 64,9 milhões de jovens sem trabalho. Este é o menor índice registrado em 15 anos, indicando uma melhora lenta, mas constante, nas perspectivas de emprego para os jovens. A expectativa é que essa taxa caia para 12,8% até 2025, sugerindo uma continuação da tendência positiva. No entanto, essa recuperação é desigual, com algumas regiões experimentando desafios mais acentuados.
Por exemplo, os Estados Árabes, a Ásia Oriental e o Pacífico enfrentaram taxas de desemprego juvenil mais elevadas em 2023 do que em 2019, destacando a variabilidade regional nas oportunidades de emprego. Essas disparidades regionais mostram que, embora alguns países estejam avançando na criação de empregos para jovens, outros ainda lutam para oferecer oportunidades adequadas.
A realidade dos empregos informais
Um dos aspectos mais preocupantes destacados pelo relatório da OIT é o alto índice de empregos informais entre os jovens. Em 2023, mais da metade dos jovens que estavam empregados tinham empregos informais. Em economias emergentes e em desenvolvimento, a situação é ainda mais grave, com uma grande maioria desses jovens sem acesso a empregos decentes e permanentes. Apenas em economias de alta e média-alta renda a maioria dos jovens trabalhadores possui empregos estáveis e seguros.
Essa falta de acesso a empregos formais contribui para a perpetuação da desigualdade e da insegurança entre os jovens. Muitos deles acabam recorrendo a trabalhos temporários ou por conta própria, sem garantias de continuidade ou de proteção social, o que exacerba a sua vulnerabilidade econômica.
O relatório também destaca uma preocupante desigualdade de gênero no acesso ao mercado de trabalho. Dois em cada três jovens classificados como “nem-nem” são mulheres, refletindo as persistentes barreiras que elas enfrentam para acessar oportunidades de emprego e educação. Essa disparidade de gênero é particularmente evidente em economias emergentes, onde as normas culturais e sociais muitas vezes limitam as oportunidades para as mulheres jovens.
Ansiedade e insegurança com o futuro
A falta de empregos decentes e a insegurança econômica estão alimentando uma crescente ansiedade entre os jovens. O diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo, alertou que “nenhum de nós pode esperar um futuro estável quando milhões de jovens ao redor do mundo não têm trabalho decente e, como resultado, estão se sentindo inseguros e incapazes de construir uma vida melhor para si e suas famílias”. Ele enfatizou que sociedades pacíficas dependem de estabilidade, inclusão e justiça social, com o trabalho decente para os jovens sendo um componente central desses pilares.
A pandemia de COVID-19 agravou essa situação, interrompendo a educação e as oportunidades de trabalho para milhões de jovens em todo o mundo. Embora a recuperação econômica esteja em andamento em algumas regiões, a retomada não tem sido universal, e muitos jovens, especialmente mulheres e aqueles em regiões mais pobres, continuam a enfrentar dificuldades significativas.
Para enfrentar essa crise, é essencial que os governos, as organizações internacionais e o setor privado colaborem para criar um ambiente mais favorável para a juventude. Isso inclui políticas que promovam a criação de empregos formais e de qualidade, ampliem o acesso à educação e ao treinamento vocacional, e abordem as barreiras de gênero que impedem o pleno potencial dos jovens.
Além disso, é crucial que as economias emergentes invistam em infraestrutura que possa suportar o crescimento de empregos formais e fornecer redes de segurança social para aqueles que estão atualmente empregados de forma informal. Programas que incentivem o empreendedorismo juvenil também podem ser uma parte importante da solução, oferecendo aos jovens as ferramentas e o suporte necessários para iniciar e sustentar seus próprios negócios.
Conclusão
O relatório da OIT sobre as tendências globais de emprego juvenil em 2024 pinta um quadro preocupante, mas também oferece uma visão sobre as áreas que precisam de intervenção urgente. Com 20,4% dos jovens fora do mercado de trabalho e sem acesso à educação ou treinamento, é evidente que há uma crise que precisa ser enfrentada com determinação e ação coordenada. Somente através de esforços conjuntos, focados em criar oportunidades de emprego decente e inclusivo, poderemos garantir um futuro mais estável e promissor para a juventude global.
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