A World Athletics, federação internacional de atletismo, anunciou que todas as atletas passarão por um teste de saliva para identificar o sexo biológico.
A medida, segundo a entidade, busca garantir a integridade das competições femininas. O presidente Sebastian Coe afirma que a decisão visa proteger a categoria e assegurar justiça esportiva.
Desde 2023, a participação de atletas trans que passaram pela puberdade masculina já havia sido vetada. Agora, a exigência se estende também às atletas com Distúrbios de Diferenciação Sexual (DDS), condição genética que pode gerar desenvolvimento atípico dos caracteres sexuais.
Nesses casos, algumas mulheres podem possuir o cromossomo Y e estruturas internas como testículos rudimentares, além de níveis mais elevados de testosterona, embora em certos quadros sejam biologicamente insensíveis aos efeitos desse hormônio.
O teste se baseia na identificação do gene SRY, que indica a presença do cromossomo Y, usando a técnica de PCR, a mesma aplicada em exames de Covid-19.
A prática remete aos testes compulsórios adotados nos anos 1960, quando atletas eram submetidas a inspeções físicas ou testes genéticos, prática encerrada oficialmente no final dos anos 1990, quando passou a ocorrer apenas mediante suspeita ou denúncia.
Especialistas destacam que nem sempre a presença do gene SRY determina características masculinas. Há casos em que o gene está inativo, e o desenvolvimento físico permanece tipicamente feminino. A bióloga Carolina Barros explica que há mulheres intersexo que, mesmo com o gene SRY, não produzem testosterona de forma efetiva no organismo.
Um caso emblemático é o da espanhola María José Martínez Patiño, que, em 1985, foi impedida de competir após exames indicarem o cromossomo Y. Posteriormente, foi reconhecida como intersexo e readmitida nas competições femininas após comprovar insensibilidade hormonal.
Patiño se manifestou contrária à nova diretriz, argumentando que ela pode afetar negativamente pessoas com DDS, que não escolheram sua condição biológica, e que deveriam ser tratadas de maneira diferente das atletas trans.
Críticas também vieram da pesquisadora Blair Hamilton, da Universidade Metropolitana de Manchester. Ela afirma que não há evidências científicas que comprovem vantagens de desempenho que justifiquem a imposição desses testes para toda a categoria.
Em resposta, a World Athletics esclareceu que o teste de saliva não é definitivo, funcionando apenas como triagem inicial. Nos casos positivos para o gene SRY, as atletas podem apresentar exames adicionais, como testes de sangue seco, para comprovar a ausência de sensibilidade aos hormônios androgênicos.
A entidade estabelece que atletas com DDS devem manter níveis de testosterona abaixo de 2,5 nmol/L durante 24 meses antes da competição, alinhando-se aos parâmetros considerados médios na categoria feminina.
O debate ganhou ainda mais repercussão com o caso da sul-africana Caster Semenya, bicampeã olímpica dos 800 metros. Diagnosticada com hiperandrogenismo, ela se recusou a seguir o tratamento hormonal imposto pela World Athletics em 2019, o que a impediu de competir nas provas de 400 m a 1.600 m. Desde então, migrou para distâncias mais longas, como os 5.000 metros.
Linha do tempo sobre testes de verificação do sexo biológico em atletas femininas:
- 1966: Exames físicos compulsórios no Campeonato Europeu de Budapeste, com análise visual feita por bancas médicas.
- 1968: Introdução do teste genético nos Jogos da Cidade do México, buscando identificar o cromossomo Y.
- 1999: Fim dos testes compulsórios, limitando-os a situações de suspeita ou denúncia.
- 2025: Implementação do teste de saliva pela World Athletics para triagem de todas as atletas.
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