O sol ainda nem se levantou e as ruas silenciosas de Praia Grande, em Santa Catarina, começam a se agitar com os passos ansiosos dos turistas que se reúnem, entre 04h15 e 06h, para viver algo que transcende o comum. Não é para ir à praia. É para voar. Em silêncio, balões coloridos ganham o céu sobre os impressionantes cânions dos Aparados da Serra, numa dança aérea que mistura adrenalina e contemplação.
A cidade, carinhosamente chamada de Capadócia brasileira, tornou-se referência internacional em voos de balão. Mas, como em toda atividade de turismo de aventura, há riscos — e a tragédia ocorrida em 21 de junho de 2025, que tirou a vida de oito pessoas, trouxe à tona uma pergunta que paira no ar como os próprios balões: até onde vale a pena arriscar por uma experiência inesquecível?
Com isso, tanto os familiares das vítimas como a própria cidade de Praia Grande precisam de força. Os familiares perderam pessoas que amavam, e Praia Grande pode sentir essa atividade turística desacelerar, resultando em desempregos e fechamentos de empresas. Portanto, o objetivo deste artigo do Jornal da Fronteira é solidarizar-se com as famílias das vítimas e ajudar a cidade a manter-se ativa com o turismo de balonismo.
Turismo nos céus: o que torna Praia Grande única?
Praia Grande se destaca não apenas pelo nome — que pode confundir os desavisados, pois está a quilômetros do mar —, mas pela geografia exuberante que a cerca. Os voos de balão revelam um dos cenários mais cinematográficos do país: a vista panorâmica dos Canyons dos Aparados da Serra, vales, montanhas e litoral.
É neste território de belezas vertiginosas que as empresas de turismo oferecem passeios que duram entre 40 e 60 minutos. Os balões podem alcançar altitudes que variam de 500 até 1.500 metros, dependendo das condições climáticas. O espetáculo visual inclui os vales verdes, o litoral distante e as formações rochosas que fazem dessa região uma das mais fotogênicas do Brasil.
Em dos sites de empresas que divulgam conteúdos sobre passeios de balões em Praia Grande, encontramos este depoimento: “Eu já fiz alguns voos de balões memoráveis pelo mundo: na Capadócia, nos arredores de Paris, em Portugal, mas nenhum se comparou com o voo pelos Canyons da divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, porque além do cenário único, além do profissionalismo do pessoal dos Canyons & Peraus, eu tive ainda a ajuda do papai do céu, que nos deu nuvens baixas no voo, cobrindo os canyons, que aos poucos nos foram revelados. Das coisas mais lindas que testemunhei e vivenciei e um passeio obrigatório para quem passa por aqui”, disse o empresário influenciador Álvaro Garnero
Do encantamento ao alerta
O voo daquele sábado tinha tudo para ser mais um entre os tantos realizados em segurança. No entanto, o inesperado aconteceu quando incendiou o cesto do balão, resultando com a morte de oito pessoas. Mas isso já foi notícias em todos os lugares, e este não é o objetivo deste artigo. O acidente acendeu um debate sobre os procedimentos de segurança aos turistas, bem como os limites e a regulamentação do turismo de aventura no Brasil.
Imediatamente, buscas no Google sobre “voo de balão em Praia Grande” dispararam. Era a combinação de curiosidade, comoção e a necessidade de entender os riscos. Para muitos, foi a primeira vez que ouviram falar da cidade. Para outros, uma lembrança agridoce de passeios realizados anteriormente.
Como funciona um voo de balão? Segurança, horários e estrutura
Os passeios começam cedo, com encontro dos passageiros nas agências por volta das 4h15 da manhã. O objetivo é decolar ao amanhecer, quando os ventos são mais estáveis e a paisagem se revela sob luz dourada. Há também voos vespertinos, das 16h às 18h30, quando o céu ganha tons alaranjados.
Antes do voo, há um briefing de segurança. Os balonistas são profissionais habilitados e experientes, e os equipamentos seguem normas internacionais de aeronavegabilidade. A altitude depende da estabilidade do clima e das correntes de ar — por isso, o cancelamento de voos por condições meteorológicas adversas não é raro, mas essencial.
Durante o trajeto, o silêncio impera. Não há motores ruidosos nem janelas que separam o passageiro da paisagem. É apenas o som do vento, o calor do queimador e a sensação de flutuar entre o céu e a terra.
O que está sendo feito após o acidente?
Após a tragédia, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e autoridades locais iniciaram uma revisão dos protocolos de segurança. Foi determinada a suspensão temporária de alguns voos e exigido das operadoras locais um novo conjunto de certificações. A prefeitura também passou a exigir alvarás mais rigorosos e fiscalização contínua da estrutura dos balões e do treinamento dos pilotos.
Empresas do setor, preocupadas com a imagem do destino, têm investido em novas formas de demonstrar segurança ao turista, como vídeos explicativos, checklists de inspeção publicados no site e QR codes nos cestos dos balões para mostrar a regularidade dos registros.
Por que o voo de balão é tão procurado?
A resposta está na natureza humana. O desejo de ver o mundo de cima, de viver uma experiência transcendental, de colecionar memórias únicas. Em Praia Grande, esse desejo encontra cenário, estrutura e beleza.
O pós-pandemia também reforçou essa busca por turismo de natureza e imersão, algo que o balonismo oferece com excelência. Para muitos viajantes, o voo de balão se tornou uma metáfora da vida: subir, contemplar, sentir-se pequeno diante da grandiosidade do mundo — e retornar, transformado.
Dicas para quem quer viver essa experiência com segurança
- Escolha empresas com boas avaliações e certificações da ANAC.
- Verifique se o piloto possui licença válida e experiência comprovada.
- Use roupas confortáveis e agasalho: o frio em altitude é maior.
- Esteja ciente de que voos podem ser cancelados por causa do clima.
- Não viaje com medo: siga as instruções do piloto e aproveite o momento.
O céu de Praia Grande continua encantador, apesar das cicatrizes deixadas pelo acidente. A atividade de voo de balão não perdeu sua essência, mas ganhou novas camadas de consciência e responsabilidade. Voar é, sim, um risco — como tudo que envolve natureza e aventura.
Mas é também uma escolha. A escolha de ver o mundo de outro ângulo, de se deixar levar pela leveza de algo maior. Para os que seguem em busca do indescritível, Praia Grande continua sendo um convite a abrir mão do chão — e ganhar o céu, com os pés firmes na responsabilidade.
O acidente em Praia Grande, SC, foi o primeiro acidente fatal desde que o município começou com esta atividade turística, em 2017.