Recentes escavações em Burgbernheim, na Alemanha, revelaram uma descoberta arqueológica impressionante: vestígios de uma antiga padaria datada de 2.800 anos. O achado, que surpreendeu especialistas, lança nova luz sobre a produção de alimentos e as práticas agrícolas durante a Idade do Ferro, oferecendo pistas preciosas sobre o cotidiano das comunidades que habitavam a região.
Durante os trabalhos para a construção de uma nova sede de uma rede de panificadoras, arqueólogos identificaram resquícios que indicavam atividades relacionadas à produção de pães. Entre os achados estavam uma pedra de moer, usada para transformar grãos em farinha, restos de grãos queimados e uma alta concentração de poços de cozimento. A descoberta oferece um raro vislumbre das técnicas e hábitos alimentares da época.
Os vestígios encontrados incluem cereais como trigo, espelta, einkorn — um tipo ancestral de trigo — e aveia, além de sementes de fisális, fruta que ainda hoje é consumida. Essa diversidade de grãos indica que os habitantes dominavam técnicas de cultivo e processamento avançadas para o período.
A pedra de moer, um dos objetos mais intrigantes, apresenta uma superfície desgastada em forma de tigela, evidência de seu uso frequente. Essa ferramenta era essencial para transformar os grãos em farinha, fundamental para a produção de pão. A combinação de poços de cozimento e os resíduos encontrados apontam para a existência de uma organização complexa voltada à produção alimentar em grande escala.
De acordo com a professora Stefanie Berg, chefe do Departamento de Preservação de Monumentos Arqueológicos do Escritório Estadual da Baviera, a quantidade de poços de cozimento em um só local é surpreendente. “Essas estruturas documentadas são altamente significativas para a reconstrução de dietas e práticas agrícolas durante as Idades dos Metais na Baviera”, afirmou Berg.
Os poços funcionavam como fornos primitivos, onde o calor era mantido por carvão em brasa. A datação por radiocarbono do carvão encontrado revelou que essas estruturas foram usadas por volta de 800 a.C., situando a padaria em plena Idade do Ferro.
A produção de pão em Burgbernheim ilustra uma evolução significativa nas práticas alimentares. Os antigos habitantes dominavam desde o cultivo dos cereais até a produção do produto final, sugerindo uma organização social voltada à cooperação. Esses avanços também ressaltam a importância do pão como base da dieta há milênios.
O local também destaca o papel central da região da Baviera na agricultura antiga. Conhecida por sua tradição agrícola, a descoberta reforça a ideia de que os ancestrais da região desenvolveram técnicas que influenciaram gerações futuras.
Os objetos encontrados serão transferidos para uma oficina de restauração, onde passarão por análises detalhadas. A intenção é preservar os materiais e aprofundar os estudos sobre a história agrícola da Alemanha.
Os arqueólogos também esperam que essa descoberta possa esclarecer como os habitantes de Burgbernheim interagiam com outras regiões e comunidades, abrindo caminhos para compreender melhor as redes de troca e influência da época.
É curioso pensar que o terreno onde uma rede de panificadoras contemporâneas será erguida guarda as memórias de uma antiga padaria. Essa coincidência simbólica conecta a produção de pão de diferentes épocas, mostrando que, apesar dos avanços tecnológicos, o pão continua sendo um elemento essencial na cultura humana.