Vaso milenar com nome de mulher é achado no Tajiquistão

Arqueólogos do Museu Nacional do Tajiquistão, em escavações no sítio de Khalkajar, próximo à vila de Sarband, anunciaram a descoberta de um vaso de cerâmica raro, datado da época do Império Kushan, que floresceu entre os séculos I e III d.C. A peça chama atenção não apenas pela sua antiguidade ou integridade, mas por algo ainda mais raro: uma inscrição escrita em língua bactriana, com o nome de sua antiga dona.

O vaso em questão, dotado de duas alças e formas que remetem ao estilo utilitário do cotidiano doméstico kushan, carrega pintada em sua lateral a inscrição: “Este jarro de água pertence à mulher Sagkina”. A delicadeza da pintura revela a habilidade técnica envolvida, mas é a presença do nome feminino que desperta maior interesse entre especialistas.

Uma mulher chamada Sagkina

A identificação do nome “Sagkina”, segundo linguistas consultados pelos pesquisadores, é uma descoberta de grande relevância para os estudos onomásticos, ramo que investiga a origem e uso dos nomes próprios. Em um mundo onde a memória feminina muitas vezes não foi registrada em pedra ou pergaminho, encontrar um nome gravado de forma tão pessoal representa uma valiosa chave para compreender as dinâmicas sociais, culturais e familiares da época.

Esse simples gesto de marcar um objeto doméstico com o nome de sua proprietária revela também um aspecto crucial da sociedade kushan: o costume aparentemente comum de identificar objetos pessoais por meio da escrita. Isso, por sua vez, sugere um nível de alfabetização mais elevado do que se supunha até então para certas camadas sociais da população feminina da região.

Vaso milenar com nome de mulher é achado no Tajiquistão

Império Kushan

O Império Kushan, que se estendeu por amplas regiões do atual Afeganistão, Paquistão, Índia, Uzbequistão e Tajiquistão, foi um ponto de fusão entre o helenismo greco-bactriano, tradições persas e influências budistas. Sua riqueza cultural se reflete na diversidade linguística e material arqueológico encontrado até hoje. A língua utilizada na inscrição do vaso, o bactriano, é uma antiga forma iraniana escrita com caracteres gregos — uma peculiaridade que evidencia o caráter multicultural da região.

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A escolha de utilizar o bactriano nesse artefato pode indicar que o idioma tinha, à época, um uso funcional e doméstico, além de suas aplicações administrativas. Isso confere à inscrição um valor duplo: histórico e linguístico.

Conclusão

A história de Sagkina não está em livros, não é contada em epopéias nem foi narrada em rolos de pergaminho. Está escrita em um jarro, com tinta provavelmente feita à mão, por alguém que a conhecia e a respeitava o suficiente para nomeá-la. A inscrição em bactriano é simples, quase modesta, mas seu significado é profundo.

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