Um vaso de cerâmica que sobreviveu ao tempo e às guerras da história foi retirado das sombras de uma caverna em La Palma, nas Ilhas Canárias. Datado do século XV, período da conquista castelhana, o artefato intacto surpreendeu arqueólogos por sua raridade e pelo estado de preservação.
A descoberta, considerada uma das mais importantes da região nos últimos anos, reacende debates sobre os povos indígenas guanches, seus costumes e o impacto devastador da chegada dos colonizadores. Mais do que um objeto arqueológico, este vaso é um símbolo de memória e identidade.
O povo que habitava La Palma antes da conquista
Antes de ser incorporada à Coroa de Castela, La Palma era território dos Auaritas, grupo guanche que deixou marcas profundas na cultura da ilha. A conquista no século XV trouxe escravidão, doenças e morte, transformando o arquipélago em palco de um dos primeiros exemplos de genocídio colonial documentados.
O segredo guardado pela Cueva de Las Jimenas
O vaso foi encontrado em Tijarafe, na chamada Cueva de Las Jimenas, usada por séculos como espaço funerário. O local reúne camadas de tradições cerâmicas que permitem rastrear diferentes fases culturais. A peça pertence ao estilo da Fase IVb, típico do tempo da conquista, e se destaca pelo raro trabalho ornamental, ausente na maioria das cerâmicas guanches.
Uma raridade intacta entre milhares de fragmentos
Enquanto a maioria das descobertas arqueológicas são apenas pedaços quebrados, este vaso estava completo, protegido pelas pedras da caverna. Sua decoração incomum e estado de preservação impecável fizeram dele uma joia arqueológica sem precedentes na ilha. Por sua importância, o resgate foi mantido em sigilo até que especialistas elaborassem uma estratégia de extração segura.
A missão de resgate em agosto de 2025
O trabalho de retirada ocorreu em 11 de agosto de 2025, após semanas de preparação. A restauradora Salomé González Rodríguez foi essencial para consolidar as áreas frágeis do vaso antes do transporte. Em seguida, o artefato passou por procedimentos de limpeza, documentação e estabilização, todos realizados com métodos reversíveis para garantir autenticidade.
Patrimônio, orgulho e identidade cultural
Hoje, o vaso está sob guarda do Ayuntamiento de Tijarafe, onde segue em análise e restauração. Autoridades destacam que o achado é mais do que arqueologia: é um reencontro com as raízes indígenas, um símbolo de resistência cultural e um motivo de orgulho coletivo. Além dos estudos científicos, um documentário já foi produzido para levar ao público a emocionante história dessa descoberta.
A peça encontrada em La Palma não é apenas um vaso do século XV: é uma cápsula do tempo que conecta presente e passado. Em suas formas e ornamentos estão gravados os ecos de um povo que enfrentou a invasão, mas deixou marcas que ainda hoje falam de sua existência.
Essa descoberta mostra que a arqueologia não é feita apenas de pedras e fragmentos, mas de histórias que resistem ao esquecimento. Cada achado como esse reforça a importância de preservar o patrimônio, porque nele estão guardadas as respostas sobre quem fomos — e pistas essenciais sobre quem somos.
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