O mês de julho de 2024 trouxe consigo sinais encorajadores para o varejo físico brasileiro. De acordo com o Indicador de Atividade do Comércio da Serasa Experian, as vendas no varejo físico registraram um crescimento de 0,6%, marcando o quinto mês consecutivo de alta no setor. Esse dado é particularmente significativo em um cenário onde o Brasil tem enfrentado desafios econômicos complexos, incluindo oscilações na confiança do consumidor e variações nos índices de emprego.
Este crescimento constante no varejo é um indicativo de que o setor está começando a se recuperar das quedas registradas em períodos anteriores, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos e sociais.
A consistência do crescimento nas vendas do varejo físico ao longo de 2024 pode ser atribuída a uma série de fatores interligados. Segundo Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, a melhora na confiança do consumidor desempenha um papel central nesse cenário. A confiança do consumidor é um termômetro crucial para a economia, pois reflete a disposição das pessoas em gastar, investir e participar ativamente do mercado.
Além disso, o aumento dos índices de emprego em diversas regiões do país contribuiu para o aquecimento do mercado. Com mais pessoas empregadas e, consequentemente, com maior poder de compra, o consumo tende a crescer, beneficiando diretamente o varejo. A expansão do crédito também tem sido um fator relevante, permitindo que os consumidores tenham acesso a financiamento para compras maiores, como veículos e eletrodomésticos.
Outro elemento que não pode ser ignorado é a injeção de estímulos fiscais pelo governo, que tem atuado para reativar a economia após os impactos da pandemia e outras crises econômicas. Esses estímulos, combinados com as melhorias no cenário macroeconômico, criaram um ambiente mais favorável para o crescimento do varejo físico, que vinha sofrendo com a competição crescente do e-commerce e com as incertezas econômicas.
Ao observarmos o crescimento do varejo em julho de 2024, é possível identificar que nem todos os setores experimentaram o mesmo nível de sucesso. A análise setorial revela que, com exceção de “Tecidos, Vestuário, Calçados e Acessórios”, todas as outras categorias registraram crescimento nas vendas.
O segmento de “Veículos, Motos e Peças” destacou-se com o melhor desempenho, registrando um crescimento de 1,5%. Esse dado é significativo, pois indica uma recuperação no consumo de bens duráveis, que geralmente depende de maior confiança e disponibilidade de crédito. A alta no setor automotivo pode ser vista como um reflexo do aumento da mobilidade e da retomada de projetos de longo prazo pelos consumidores.
Outro setor que merece destaque é o de “Combustíveis e Lubrificantes”, que apresentou um crescimento anual de 9,2%. Esse aumento pode ser parcialmente atribuído ao aumento da demanda por transporte, tanto pessoal quanto comercial, à medida que a economia se recupera e as atividades empresariais retornam aos níveis pré-pandemia.
Por outro lado, o setor de “Tecidos, Vestuário, Calçados e Acessórios” enfrentou desafios, sendo o único a registrar queda no período. Essa retração pode estar relacionada a mudanças nos hábitos de consumo, com os consumidores priorizando outras categorias de produtos ou adotando um comportamento de compra mais cauteloso em relação a itens não essenciais.
Além da análise mensal, o Indicador de Atividade do Comércio da Serasa Experian também revela dados importantes sobre a variação anual do varejo físico. Comparando julho de 2024 com o mesmo mês de 2023, houve um aumento de 3,3% nas vendas do varejo, o que reforça a tendência de recuperação do setor.
Dentro dessa análise anual, o setor de “Combustíveis e Lubrificantes” novamente se destaca, com uma alta de 9,2%, seguido por “Tecidos, Vestuário, Calçados e Acessórios” (5,7%), “Móveis, Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos e Informática” (3,0%), “Veículos, Motos e Peças” (2,1%) e “Material de Construção” (0,2%). Esses números indicam que, apesar das flutuações em alguns setores, a maioria dos segmentos está em um caminho de crescimento, embora em ritmos diferentes.
Essa variação anual positiva é um sinal de que o varejo físico está conseguindo se adaptar e crescer, mesmo em meio a desafios econômicos e mudanças nos padrões de consumo. Para os próximos meses, a expectativa é de que essa recuperação se mantenha, especialmente se os fatores que impulsionaram o crescimento em julho continuarem a influenciar positivamente o mercado.
Para compreender melhor os resultados apresentados, é importante destacar a metodologia utilizada pela Serasa Experian para a construção do Indicador de Atividade do Comércio. O indicador é baseado no volume de consultas mensais realizadas por cerca de 6.000 estabelecimentos comerciais à base de dados da Serasa Experian. Essas consultas são tratadas estatisticamente pelo método das médias aparadas, que consiste em eliminar as extremidades superiores e inferiores das taxas mensais de crescimento, garantindo assim uma visão mais precisa e menos suscetível a outliers.
Além disso, as taxas de crescimento de cada segmento varejista são ponderadas pelo peso relativo de cada um deles na Pesquisa Mensal de Comércio – Varejo Ampliado, do IBGE. Essa ponderação permite que o indicador reflita com maior precisão as tendências do mercado como um todo, respeitando as revisões metodológicas e as diferenças entre os diversos segmentos do varejo.
O aquecimento do mercado varejista em julho também teve reflexos em outros setores da economia, como o mercado imobiliário. Em Curitiba, por exemplo, houve um aumento de 23,7% na locação de imóveis residenciais, um indicativo de que o crescimento do consumo está estimulando a demanda por habitação. Esse crescimento na locação de imóveis pode estar ligado ao aumento do emprego e à confiança do consumidor, que estão levando mais pessoas a buscar novas residências, seja para alugar ou comprar.
A relação entre o crescimento do varejo e o mercado imobiliário não é direta, mas ambos os setores tendem a se influenciar mutuamente. Quando o consumo aumenta, as empresas precisam expandir suas operações, o que pode levar à necessidade de mais espaço físico, seja em lojas, depósitos ou escritórios. Além disso, a maior confiança do consumidor pode impulsionar a compra ou aluguel de imóveis, seja para fins residenciais ou comerciais.
Com o varejo físico brasileiro mostrando sinais consistentes de recuperação, as expectativas para o segundo semestre de 2024 são positivas. O desafio agora é manter o ritmo de crescimento e continuar a adaptar o setor às novas demandas dos consumidores, que têm se mostrado cada vez mais exigentes e seletivos em suas compras.
A continuidade das políticas de estímulo econômico, o fortalecimento do mercado de trabalho e a manutenção da confiança do consumidor serão fundamentais para sustentar essa trajetória de crescimento. Além disso, a adaptação do varejo às novas tecnologias e à digitalização será crucial para garantir que o setor continue a crescer, mesmo em um ambiente cada vez mais competitivo e dinâmico.