Urna com cabeça de Medusa desafia tradições funerárias na Itália

Foto: Ipogeo dei Volumni e Necropoli del Palazzone

Urna com cabeça de Medusa desafia tradições funerárias na Itália

Descoberta em Perugia, urna etrusca com cabeça de Medusa intriga arqueólogos ao revelar símbolos de proteção e ausência de restos mortais.

Na cidade de Perugia, na Itália, uma restauração de rotina transformou-se em um dos achados arqueológicos mais intrigantes dos últimos anos. Durante os trabalhos na antiga Necrópole Palazzone, pesquisadores descobriram uma urna funerária etrusca que coloca em xeque concepções estabelecidas sobre os rituais de sepultamento desse povo fascinante da Antiguidade.

Datada do século III a.C., a peça foi encontrada em um hipogeu, uma tumba subterrânea tradicionalmente usada pelas famílias mais influentes da região. O recipiente, feito em travertino, traz em destaque uma imponente cabeça de Medusa em relevo, acompanhada por inscrições em etrusco cursivo e delicados ornamentos florais.

A simbologia da Medusa no mundo etrusco

Entre os povos itálico-etruscos, a imagem da Medusa tinha um caráter apotropaico, ou seja, acreditava-se que possuía a função de afastar os maus espíritos e proteger o defunto em sua jornada para o além. Na urna encontrada, esse simbolismo é ainda mais marcante, indicando o cuidado da família Asci, a quem a tumba pertencia, em garantir proteção espiritual ao falecido.

Uma inscrição em folha de chumbo, localizada próxima ao artefato, sugere que o recipiente funerário estaria associado a indivíduos de nomes possivelmente identificados como Arnθ e Larθi Caprti. Contudo, o mistério aumentou quando os pesquisadores abriram a peça e não encontraram ossos ou cinzas, como se esperava.

Em vez de restos mortais, a urna guardava três pequenos vasos de terracota, cuidadosamente dispostos em seu interior. O inusitado do achado surpreendeu os arqueólogos, já que tais objetos não costumam estar associados diretamente ao contexto funerário etrusco.

Diante disso, uma hipótese ganhou força: a de que a urna seria um cenotáfio, ou seja, uma espécie de sepulcro simbólico criado quando o corpo do falecido não podia ser recuperado ou havia sido enterrado em outro local. Esse tipo de monumento tinha a função de preservar a memória e assegurar ritos funerários, mesmo na ausência dos restos mortais.

A descoberta reacende o debate sobre a complexidade das práticas funerárias etruscas e a riqueza cultural de um povo que, muito antes do auge de Roma, já cultivava tradições religiosas sofisticadas e marcadas pelo simbolismo. Ao mesmo tempo em que a Medusa esculpida revela a preocupação com a proteção espiritual, o vazio da urna reforça a importância da memória como elemento central na preservação da identidade familiar.

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