No coração da Turquia, em um dos sítios arqueológicos mais fascinantes do mundo, um achado recente está dando o que falar.
Durante escavações lideradas pela professora Francesca Balossi Restelli, arqueólogos descobriram fornos subterrâneos de 3 mil anos, usados para preparar carne de forma surpreendentemente semelhante a técnicas atuais. A revelação conecta passado e presente por meio de algo que une todos os povos: a comida.
Fornos escondidos sob a terra
As escavações de 2022 já haviam revelado estruturas curiosas que lembravam tandoors, mas as escavações recentes trouxeram a confirmação: esses fornos eram diferentes. Localizados no subsolo e cheios de ossos de animais, eles mostraram que não eram usados para assar pão, como se imaginava, mas sim para cozinhar carne lentamente. Essa descoberta lançou nova luz sobre os hábitos alimentares do período hitita tardio.
O segredo do cozimento lento
O que mais impressiona é o método de preparo identificado. A carne era colocada dentro do forno, coberta com uma tampa de terracota e deixada cozinhar por horas, às vezes até durante toda a noite. O processo lembra as técnicas modernas de churrasco ou assados longos, em que o calor constante transforma cortes simples em pratos suculentos e cheios de sabor. Um elo surpreendente entre a pré-história e nossas mesas de hoje.
A terceira descoberta que mudou tudo
Neste ano, um terceiro exemplar de forno foi encontrado, datado entre 1100 e 1000 a.C. A repetição do padrão reforça a importância dessa prática culinária para a comunidade da época. Não era algo isolado, mas sim um costume consolidado, essencial para a vida em grupo e talvez até para celebrações coletivas. O ato de cozinhar carne em grandes quantidades pode ter sido também um ritual de convivência social.
Conexões com a cozinha atual
Para a surpresa dos pesquisadores, a semelhança entre as técnicas antigas e a gastronomia moderna é notável. Restelli chegou a convidar chefs locais para conhecerem os achados, destacando como a culinária de Malatya, na Turquia, ainda preserva práticas muito próximas às de três milênios atrás. A descoberta não é apenas arqueológica, mas também cultural: prova viva de que o gosto pela boa comida atravessa gerações.
Uma janela para a cultura alimentar antiga
Esses fornos revelam mais do que técnicas de preparo; mostram uma sociedade que valorizava o ato de se reunir em torno da comida. A presença de ossos de animais sugere que o consumo de carne era central na dieta e, possivelmente, nas celebrações comunitárias. É como se cada camada de terra escavada trouxesse à tona não apenas pedaços de cerâmica, mas também histórias de encontros, festas e tradições que moldaram nossa relação com a alimentação.
As escavações em Arslantepe revelam que cozinhar carne em fornos subterrâneos já era prática comum há mais de 3 mil anos. A técnica, incrivelmente semelhante a algumas usadas até hoje, mostra que a gastronomia é um fio invisível que nos conecta ao passado. Mais do que arqueologia, essa descoberta nos lembra que, ao redor do fogo e da mesa, os seres humanos sempre encontraram um jeito de se reunir, celebrar e compartilhar sabores.
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