Arqueólogos encontram tumba de criança medieval com joias, espada e banquete

Uma descoberta arqueológica no sul da Alemanha trouxe à tona a impressionante história de uma criança que viveu há mais de 1.300 anos, durante a Alta Idade Média. Conhecido como o “Príncipe do Gelo de Mattsies”, o garoto, de aproximadamente 1 ano e meio, recebeu um funeral digno da elite de sua época, com direito a vestes luxuosas, itens de prestígio e até um edifício próprio construído para abrigar seu túmulo.

Os restos mortais foram encontrados em 2021 por arqueólogos do Escritório Estadual de Preservação de Monumentos da Baviera (BLfD). Recentemente, uma nova análise, divulgada em 22 de maio, revelou detalhes surpreendentes sobre a vida, a morte e os costumes funerários de sua família.

Por que o apelido “príncipe do gelo”?

O nome curioso vem da técnica utilizada para preservar o túmulo no momento da escavação. Para retirar a câmara funerária inteira sem danificar os artefatos, os especialistas aplicaram um processo de congelamento com choque térmico. A peça foi então levada para o centro de restauração do BLfD, na cidade de Bamberg, onde os estudos aprofundados começaram.

O conservador-geral do BLfD, Mathias Pfeil, destacou a inovação no método, afirmando que os resultados são uma prova de como técnicas avançadas de conservação podem transformar achados arqueológicos em verdadeiras janelas para o passado.

Arqueólogos encontram tumba de criança medieval com joias, espada e banquete
Foto: BfLD

Quem era o príncipe do gelo?

A análise genética revelou que o menino tinha olhos azuis e cabelos claros, características típicas da população local da época. Ele viveu entre os anos 670 e 680 d.C., sendo amamentado até sua morte. Apesar dos cuidados maternos, uma infecção crônica no ouvido (otite), bastante comum no período, foi provavelmente a causa do falecimento.

O que torna essa descoberta ainda mais fascinante é o local do sepultamento. Uma antiga villa romana foi adaptada especialmente para receber o corpo do menino. Pedreiros experientes construíram uma câmara funerária de pedra, selada com argamassa de cal — um tipo de construção extremamente raro para aquele período.

LER >>>  O segredo das ruas antigas que se iluminavam por conta própria durante à noite

Registros arqueológicos indicam que o edifício passou por duas reformas após o enterro, o que sugere que ele foi mantido como um memorial familiar por várias gerações.

Roupas de luxo e itens de prestígio

A riqueza do sepultamento também se refletiu nas vestes e objetos pessoais do garoto. Ele foi enterrado usando:

  • Sapatos de couro com esporas de prata
  • Calças e uma túnica de linho fino
  • Adornos em seda bizantina, material de altíssimo valor na época
  • Braceletes de prata nos braços

Pendurado no cinto, havia uma pequena espada com bainha de couro, símbolo claro de status e linhagem guerreira. Costurado às roupas, os arqueólogos encontraram um crucifixo feito de tiras de ouro, indicando também a influência do cristianismo no ritual.

Arqueólogos encontram tumba de criança medieval com joias, espada e banquete
Foto: BfLD

O banquete após a morte

Ao lado do corpo, foram encontrados itens que recriam uma cena de banquete: uma bacia de bronze com um pente, uma tigela de madeira torneada, um copo decorado com prata e alimentos como avelãs, maçãs e uma pera. Curiosamente, próximo à bacia, estavam os ossos de um animal que, inicialmente, se pensou ser um cachorro. Porém, análises revelaram tratar-se de um leitão esquartejado, possivelmente parte de um banquete funerário ritualístico.

“Depois de pentear os cabelos e lavar as mãos nas bacias de bronze, era comum participar de uma refeição servida em louças de madeira, bebendo em copos ornamentados e partilhando alimentos”, explica o relatório divulgado pelo BLfD.

LEIA MAIS: Pompeia em segredos: 5 achados que mudaram tudo sobre a história da cidade perdida