A produção rural sempre foi uma das bases da economia brasileira. No entanto, os tempos mudaram e, com eles, as exigências de mercado. A pressão por uma produção mais sustentável tem crescido, tanto internamente quanto em mercados internacionais, e isso exige que os produtores adaptem suas práticas para atender às novas expectativas.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores é como aumentar a rentabilidade sem comprometer os recursos naturais, garantindo que suas operações não causem danos ao meio ambiente.
No Paraná, essa questão tem sido enfrentada de maneira proativa. O programa RenovaPR, da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), tem sido fundamental para apoiar produtores na geração de energia renovável, oferecendo não apenas uma alternativa sustentável, mas também uma forma de reduzir os custos operacionais, especialmente em relação ao consumo de energia elétrica.
O resultado é uma combinação vencedora: propriedades mais autossuficientes e uma produção alinhada com os princípios da sustentabilidade.
Lançado em 2021, o RenovaPR tem como principal objetivo incentivar a instalação de unidades de geração de energia renovável nas propriedades rurais do estado. A iniciativa visa não apenas apoiar a adoção de tecnologias como a energia solar e a geração de biogás, mas também proporcionar benefícios econômicos aos produtores, com financiamentos a juro zero e prazos de pagamento flexíveis.
Esse apoio financeiro é fundamental para que os pequenos e médios produtores possam adotar soluções que, de outra forma, poderiam parecer economicamente inviáveis. Além de reduzir os custos com energia, essas tecnologias contribuem diretamente para a redução de passivos ambientais, como o tratamento de dejetos animais, que podem ser convertidos em biogás para a produção de energia.
O caso do suinocultor Ari Luiz Schlindwein, de Marechal Cândido Rondon, é um exemplo claro de como o RenovaPR pode transformar uma propriedade rural. Com o apoio do programa, Schlindwein instalou um biodigestor em sua granja de suínos, que não só reduz os custos com eletricidade, mas também resolve um problema ambiental ao tratar os dejetos de maneira responsável. “No começo, eu tinha dúvidas, mas o RenovaPR ofereceu condições que tornaram o projeto possível. Hoje, vejo o impacto positivo na minha produção e no meio ambiente”, comenta o produtor.
A adoção de fontes de energia renováveis no campo está em franca expansão no Paraná. A energia solar, amplamente utilizada nas propriedades rurais, continua sendo uma das opções preferidas por conta da sua facilidade de instalação e do rápido retorno financeiro. Já o biogás, embora exija um investimento inicial maior, oferece uma solução de longo prazo especialmente para produtores que lidam com dejetos animais, como suinocultores e avicultores.
O biodigestor instalado na granja de Schlindwein, por exemplo, transforma os dejetos suínos em biogás, que é utilizado para gerar energia elétrica. Esse processo, além de reduzir os custos energéticos da propriedade, elimina os passivos ambientais associados ao manejo inadequado dos dejetos. Segundo dados do Centro Internacional de Energias Renováveis (Cibiogás), o Paraná é o estado com o maior número de plantas de biogás no Brasil, com um total de 391 até 2023. Esse crescimento reflete o interesse crescente dos produtores por soluções energéticas mais limpas e eficientes.
Além disso, o biogás gerado pode ser utilizado para aquecer os barracões de suínos ou como combustível para tratores e outros veículos agrícolas, tornando a propriedade ainda mais autossuficiente. “O biogás não só me ajuda a economizar na conta de luz, mas também me permite destinar os dejetos de forma segura, sem prejudicar o meio ambiente”, explica Schlindwein.
A busca por fontes de energia limpa no campo vai além de uma simples preocupação ambiental. No Brasil, onde a produção de energia elétrica depende fortemente das hidrelétricas, a escassez de chuvas e o baixo nível dos reservatórios têm pressionado o sistema energético. Como consequência, os preços da energia subiram, impactando diretamente os custos de produção rural.
Nesse cenário, a adoção de soluções renováveis, como a energia solar e o biogás, se torna uma alternativa viável não apenas para reduzir custos, mas também para proteger o meio ambiente. A instalação dessas tecnologias nas propriedades rurais traz benefícios em dois aspectos: econômico, ao reduzir os gastos com energia, e ambiental, ao diminuir a dependência de fontes poluentes e ao tratar resíduos de maneira correta.
Segundo Herlon Almeida, coordenador de Energias Renováveis no IDR-Paraná, o tratamento de dejetos animais através de biodigestores melhora as condições das propriedades e permite a ampliação do plantel. “O tratamento adequado dos dejetos é fundamental para que os produtores consigam licenças ambientais e ampliem sua produção de maneira responsável”, afirma Almeida.
Desde o seu lançamento, o RenovaPR já instalou mais de 26 mil usinas de energia renovável, principalmente de energia solar, em propriedades rurais no Paraná. Essas instalações geraram economia para os produtores, reduziram a pressão sobre a rede elétrica e contribuíram para a sustentabilidade do campo.
Além dos benefícios diretos, o programa também tem um impacto social importante, pois gera empregos e promove a qualificação de mão de obra local. Com a instalação de novas usinas e a necessidade de manutenção dos sistemas de energia renovável, há um aumento na demanda por profissionais capacitados para trabalhar com essas tecnologias. “A energia limpa não é apenas uma questão ambiental. Ela traz desenvolvimento para o campo, gera empregos e melhora a qualidade de vida dos produtores”, destaca Almeida.
Embora os resultados do RenovaPR sejam promissores, ainda há desafios a serem superados. Um dos principais obstáculos é o custo inicial elevado de algumas tecnologias, como o biogás, que requer um investimento significativo em infraestrutura. No entanto, com o apoio de financiamentos subsidiados, como o oferecido pelo Banco do Agricultor Paranaense, esses custos se tornam mais acessíveis para os produtores.
Outro desafio é a conscientização dos produtores sobre os benefícios de longo prazo dessas tecnologias. Muitos ainda resistem à adoção de soluções sustentáveis por medo de que os investimentos não tragam o retorno esperado. Porém, exemplos como o de Ari Luiz Schlindwein mostram que a energia renovável pode não apenas reduzir os custos, mas também aumentar a rentabilidade das propriedades rurais.
O futuro da energia renovável no campo depende de uma combinação de políticas públicas, incentivos financeiros e conscientização dos produtores. À medida que o governo e instituições como o IDR-Paraná continuam a promover o uso de tecnologias limpas, o potencial para uma agricultura mais sustentável no Brasil se torna cada vez mais evidente.