“Tigrinho” e apostas já afetam orçamento familiar

Famílias das classes C, D e E já são impactadas negativamente por gastos com jogos online, como o Fortune Tiger (popular “Jogo do Tigrinho”) ou as apostas esportivas. O alerta vem de estudo da consultoria PwC Strategy& Brasil, que buscou entender o impacto das apostas esportivas no consumo.

Nos cinco anos desde que a lei permitindo a exploração das apostas esportivas no Brasil foi sancionada, a participação dos gastos com a atividade triplicou entre famílias da classe C: foi de 0,25% para 0,77% do orçamento mensal. O aumento é ainda maior entre as classes D e E, onde cresceu quatro vezes mais. Em 2023, representou 1,38% dos gastos mensais.

Apesar da baixa porcentagem do total, boa parte dos entrevistados para o levantamento já admite transferir gastos com lazer e cultura para os jogos online. Entre as classes C, D e E, 48% reduziu o que gastava com bares, restaurantes ou delivery e 41% diminuiu a despesa com cinemas, teatros e shows.

A preocupação é que esta tendência evolua para além dos chamados gastos discricionários e atinja também as vendas no varejo, que já apresentam queda recente. Entre os respondentes citados no relatório da PwC, 43% afirmaram ter dedicado ao jogo online dinheiro antes reservado para compras de roupas e acessórios.

Ainda mais grave, 52% dos entrevistados das classes C, D e E disseram ter redirecionado para o jogo online orçamento antes reservado para poupança. Resposta que vai ao encontro da principal motivação citada para apostar: para 54%, é uma forma de ganhar dinheiro — porcentagem similar aos 59% que afirmaram o mesmo em outro estudo, da ENV Media.

Os achados reforçam a necessidade de mudança no discurso relacionado às apostas esportivas e demais jogos de azar no Brasil. Os próprios jogadores não veem resultados condizentes com sua expectativa: 60% admitiram perder mais do que ganhar.

Este é, inclusive, um dos objetivos do Governo Federal dentro do processo de regulamentação das plataformas de apostas esportivas.“Queremos transmitir para a sociedade brasileira que jogo não é meio de enriquecer, jogo é um lazer, uma diversão”, afirmou o então assessor especial do Ministério da Fazenda, José Francisco Manssur, em reunião da Comissão do Esporte na Câmara dos Deputados.

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Apesar de não ser um investimento, aplicar algumas técnicas de gestão do seu dinheiro pode ser uma saída para quem deseja jogar com responsabilidade. Desta forma, é possível administrar a banca de aposta sem perder o controle do orçamento mensal.

A primeira dica, e mais importante, é o apostador separar o dinheiro que pode perder sem afetar outros gastos, especialmente os de necessidades básicas. Desta maneira, ele reforça a ideia das apostas como uma diversão.

Além disso, é fundamental que esse valor não seja incrementado ao longo do mês. Ao fazer isto, o jogador aprende a aceitar as perdas, ao invés de correr atrás do prejuízo — um dos principais erros dos principiantes nas apostas.

Separar os ganhos da banca inicial também pode ser uma estratégia inteligente. Desta forma, parte do que foi ganho está protegido, evitando que uma eventual vitória acabe sendo totalmente devolvida para as casas de apostas.

Manter as apostas pequenas é outra estratégia para prolongar a experiência de jogo ao mesmo tempo que minimiza riscos. Com isso, um valor inicial que não parecia promissor pode gerar a mesma emoção a cada partida, mas durar por todo o mês.

Por falar em emoção, é fundamental que o apostador se afaste do jogo em períodos de estresse ou quando não estiver se sentindo bem psicologicamente. Embora a distração seja bem vinda, estes momentos trazem o risco de gastos excessivos. O mesmo é válido para a influência de drogas ou álcool, que podem levar ao descontrole e a decisões por impulso.

O bom apostador também deve se familiarizar com as ferramentas de jogo responsável. Embora as melhores casas de apostas já apresentem essas opções atualmente, as portarias mais recentes do Ministério da Fazenda as tornaram uma exigência para todas as empresas que serão autorizadas a operar no país a partir de 1ª de janeiro de 2025.

O primeiro passo para o jogador interessado em controlar seus gastos com as apostas é a definição de limites. Entre as opções mais comuns estão os limites de depósito, de apostas ou de perdas por um determinado período de tempo. Além disso, pode ser possível restringir a duração máxima de cada sessão de jogo.

Caso o jogador perceba comportamentos negativos em relação às apostas, também pode optar por suspender sua conta por um período determinado, como um mês ou seis meses. Para aqueles que desejam deixar os jogos online por completo, as casas de apostas serão obrigadas a respeitar pedidos de autoexclusão, que encerram a conta de um usuário.

O governo determinou também que as casas de apostas fiscalizem o comportamento dos jogadores em relação aos riscos de dependência, até mesmo suspendendo o uso da plataforma caso necessário.