Quando pensamos na morte dentro da mitologia grega, é comum imaginar algo sombrio, assustador e trágico. No entanto, o panteão grego apresenta Thanatos, uma divindade que representa o lado sereno do fim da vida. Deus da morte pacífica, ele é descrito como uma figura calma e quase melancólica, distante da violência associada a deuses como Hades ou Ares. Thanatos nos ensina que o fim pode ser tão tranquilo quanto um último suspiro antes de adormecer.
Quem é Thanatos?
Thanatos é um deus primordial da mitologia grega, filho da deusa Nyx (a personificação da noite) e, em algumas versões, de Érebo (a personificação da escuridão). Ele é o irmão gêmeo de Hypnos, o deus do sono, o que faz todo sentido: afinal, sono e morte são, na visão dos gregos antigos, estados de transição, parentes próximos na experiência humana.
Diferente da concepção ocidental moderna da Morte como um ceifador sombrio e assustador, Thanatos era visto de forma quase poética. Ele simbolizava a morte suave, aquela que chega de forma natural e pacífica, sem dor ou sofrimento. Seu papel era guiar as almas para o além de forma serena, sem causar medo, mas oferecendo descanso eterno.
Aparência de Thanatos
Thanatos é frequentemente retratado como um jovem de beleza serena, com asas suaves e uma tocha invertida em suas mãos, simbolizando a vida que se apaga. Em algumas representações, ele segura uma pequena urna ou uma coroa de flores, reforçando a ideia de uma passagem tranquila.
Na arte funerária grega, Thanatos aparece como um anjo da morte, uma figura gentil que conduz as almas dos falecidos. Suas asas simbolizam a leveza da alma deixando o corpo, e sua expressão raramente é de severidade — pelo contrário, transmite paz e aceitação.
O papel de Thanatos
Apesar de sua natureza pacífica, Thanatos não era invencível. Um dos mitos mais famosos envolvendo o deus da morte é o da história de Sísifo, o rei astuto de Corinto, que enganou a própria morte. Segundo a lenda, Sísifo conseguiu enganar Thanatos ao prendê-lo com correntes mágicas, impedindo que as pessoas morressem por um tempo. Isso causou um grande desequilíbrio no mundo dos vivos e dos mortos.
Eventualmente, Ares, o deus da guerra, ficou furioso porque ninguém mais morria em batalha — o que, para ele, era inaceitável. Ares libertou Thanatos e puniu Sísifo, condenando-o à sua famosa tarefa eterna de empurrar uma pedra montanha acima, apenas para vê-la rolar de volta repetidamente.
Esse mito ilustra não apenas a astúcia de Sísifo, mas também a inevitabilidade da morte. Mesmo que possa ser adiada ou enganada temporariamente, a presença de Thanatos é certa. Sua função é natural, não maligna, e faz parte do ciclo da existência.
Thanatos vs. Hades
É comum confundir Thanatos com Hades, o deus do submundo. No entanto, suas funções são bastante distintas. Hades governa o mundo dos mortos e supervisiona o reino onde as almas residem após a morte. Já Thanatos é a própria personificação da morte, aquele que conduz as almas até o submundo, mas não permanece lá nem julga os mortos.
Enquanto Hades é uma divindade de poder e autoridade sobre o mundo subterrâneo, Thanatos é mais uma força da natureza, inevitável e imparcial. Ele não escolhe quem deve morrer; simplesmente cumpre seu papel quando chega a hora.
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O conceito de Thanatos transcendeu a mitologia grega e encontrou seu espaço em diversas áreas da cultura contemporânea. Na psicologia, por exemplo, o psicanalista Sigmund Freud usou o termo “pulsão de morte” (ou “instinto de morte”) inspirado em Thanatos, referindo-se ao desejo inconsciente de retorno a um estado de inércia, paz ou até autodestruição.
Na literatura, no cinema e até nos videogames, Thanatos aparece como uma figura simbólica, representando a aceitação da mortalidade ou o confronto com o fim inevitável da vida.
Conclusão
Thanatos, o deus da morte pacífica, nos convida a olhar para o fim da vida de forma menos temerosa e mais contemplativa. Ele não representa o sofrimento ou o medo, mas sim o descanso após uma longa jornada. Na mitologia grega, ele simboliza o equilíbrio entre vida e morte, mostrando que, assim como o sono, a morte faz parte da natureza humana.