Tesouros com 3.500 anos são encontrados em escavações

O que começou como uma escavação modesta acabou se tornando um dos achados arqueológicos mais expressivos da Europa Central nos últimos anos. Arqueólogos húngaros encontraram seis tesouros de artefatos metálicos em perfeito estado de preservação durante escavações no Monte Somló, uma elevação vulcânica situada no oeste da Hungria.

Com o auxílio de escaneamento a laser (lidar) e outras tecnologias avançadas, o local revelou segredos enterrados há mais de 3 mil anos, surpreendendo até os pesquisadores mais experientes.

O mais antigo dos artefatos remonta ao século XV a.C., no auge da Idade do Bronze. Foram recuperados itens como joias, armas, vestimentas militares, ferramentas e até depósitos inteiros de bronze organizados por categoria — um indício claro de práticas ritualísticas que envolviam o enterro de bens valiosos como forma de oferenda aos deuses.

O Monte Somló era um assentamento próspero e ritualístico

As escavações demonstraram que o Monte Somló não era apenas um ponto estratégico, mas um centro cultural pulsante por séculos. Pertencente à cultura Hallstatt, o local foi ocupado por um povo agrícola e altamente hábil na arte da metalurgia. A disposição cuidadosa dos objetos, agrupados por tipo e enterrados em depósitos seletivos, sugere que esses povos tinham uma relação profundamente espiritual com seus pertences — especialmente os feitos de metal.

Essas práticas são vistas pelos arqueólogos como uma forma de “sacrifício simbólico” em busca de bênçãos, fertilidade ou proteção divina. Essa teoria ganha força ao lado de evidências de sepultamentos de guerreiros da elite, encontrados em túmulos anteriores na mesma região.

A tecnologia foi uma aliada crucial para o sucesso da missão. Liderada por Bence Soós, do Museu Nacional Húngaro, a equipe realizou levantamentos sistemáticos com detectores de metal, caminhadas de campo e, principalmente, escaneamento lidar aéreo, permitindo visualizar detalhes topográficos invisíveis a olho nu.

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Graças a essas ferramentas, foi possível mapear áreas promissoras e escavar de maneira mais eficiente e segura, culminando na descoberta de mais de 900 artefatos metálicos, alguns encontrados dentro de vasos cerâmicos cuidadosamente enterrados.

Entre os seis tesouros descobertos, o chamado “Tesouro V” se destacou: um conjunto de objetos da Idade do Bronze Final, armazenado dentro de um recipiente de cerâmica. Trata-se da primeira evidência concreta de deposição ritual no oeste da Hungria durante o período de transição entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Um verdadeiro marco arqueológico.

Esse tipo de prática já era conhecida em outras partes da Europa, mas ainda não havia sido documentado na região húngara com tal clareza. A descoberta oferece uma nova peça ao quebra-cabeça histórico que compõe as origens das sociedades celtas e suas raízes culturais profundas.

A herança Hallstatt

A cultura Hallstatt, que floresceu entre 800 a.C. e 450 a.C., é considerada uma precursora direta da civilização celta. Os artefatos descobertos no Monte Somló — como gotas de fundição, lingotes, moldes e restos de oficinas — confirmam que o local era um polo metalúrgico sofisticado, onde o bronze era não apenas produzido, mas valorizado como símbolo de status e poder.

Além dos metais, objetos como contas de âmbar, fragmentos de couro e presas de javali completam o panorama de um povo que combinava habilidade artesanal, práticas agrícolas e estruturas sociais complexas.

Hoje conhecida por seus vinhos e colinas verdejantes, Somló guarda embaixo da terra um passado que muitos nem imaginam. Desde o fim do século XIX, quando os primeiros artefatos começaram a ser descobertos por agricultores locais, já se sabia que ali havia algo especial. Mas somente agora, com escavações sistemáticas e tecnologia de ponta, foi possível montar um retrato fiel de como era a vida no assentamento.

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Com mais de 900 artefatos já recuperados, a equipe de arqueólogos está apenas no começo. A riqueza e diversidade das descobertas sugerem que ainda há muito a ser encontrado no Monte Somló e em áreas adjacentes. Os planos para pesquisas de longo prazo já estão em andamento, alimentados pela expectativa de novas revelações sobre a história da Europa antiga.

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