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Arqueólogos encontram tesouro milenar com 56 tábuas cuneiformes e 22 selos com mais de 3 mil anos; VEJA FOTOS

Nas areias de Kayalıpınar, na Turquia, arqueólogos acabam de encontrar 56 tábuas cuneiformes que mudam o que sabemos sobre a forma como os hititas consultavam o destino.

As escavações, lideradas pela professora Çiğdem Maner, da Universidade de Koç, revelaram documentos de mais de três mil anos que descrevem rituais de adivinhação por pássaros. Esse costume, chamado muşen, era fundamental para os hititas, que acreditavam que sinais divinos se manifestavam no voo, no canto ou até no comportamento das aves. Para eles, nada era obra do acaso: tanto a prosperidade quanto a desgraça eram mensagens enviadas pelos deuses.

As tábuas, algumas minúsculas — medindo apenas 2,5 por 1,5 centímetros —, trazem registros que pela primeira vez mencionam práticas de adivinhação ligadas a herdeiros reais, princesas e jovens da corte. É como se estivéssemos diante de um manual secreto da família imperial hitita, revelando como decisões políticas e espirituais eram tomadas sob o olhar atento dos videntes.

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Esses adivinhos eram conhecidos como lumušen, sacerdotes ou oficiais especializados em interpretar sinais. A presença deles nos arquivos estaduais descobertos em Kayalıpınar indica que não eram figuras marginais, mas membros ativos e respeitados da engrenagem política e religiosa. Com base nos textos encontrados, os estudiosos acreditam que tais rituais podiam influenciar desde alianças militares até questões de sucessão.

Mas não foram apenas as tábuas que chamaram atenção. As escavações também revelaram 22 impressões de selos, algumas associadas a figuras de altíssima relevância histórica, como o príncipe Tudkhaliya IV, filho do grande rei Hattusili III. Outras impressões pertenciam a príncipes, princesas, escribas militares e autoridades rurais. Esses selos, usados para autenticar documentos oficiais, funcionavam como verdadeiras assinaturas de poder, e agora ajudam os arqueólogos a reconstruir a intrincada rede política do período hitita.

Segundo Maner, cada artefato encontrado é como uma peça de um gigantesco quebra-cabeça histórico. Os arquivos de Kayalıpınar não só detalham práticas religiosas, mas também oferecem pistas sobre a estrutura estatal, a hierarquia de poder e as relações entre a família real e seus oficiais. “Esses documentos trarão informações decisivas para reinterpretarmos a história cultural e política dos hititas”, afirmou a pesquisadora.

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Vale lembrar que os hititas foram um dos povos mais poderosos da Idade do Bronze, conhecidos por seu império que se estendia pela Anatólia e partes do Oriente Médio. A sua habilidade militar, diplomática e religiosa moldou a geopolítica da região por séculos. Agora, com a descoberta em Kayalıpınar, surge uma janela inédita para compreender não apenas como governavam, mas também como buscavam orientação espiritual para cada passo dado.

Essa revelação arqueológica emociona porque aproxima o presente do passado. Ao imaginar um sacerdote hitita observando o voo de uma ave para aconselhar um rei, percebemos como o ser humano, desde os primórdios, sempre buscou sinais para enfrentar as incertezas da vida. Hoje consultamos especialistas, pesquisas ou até algoritmos, mas a essência permanece: queremos saber o que nos espera no futuro.

Em Kayalıpınar, cada tábua e cada selo são testemunhos silenciosos de uma civilização que acreditava que o destino estava escrito não apenas nas estrelas, mas também no bater de asas de um pássaro. E talvez, no fundo, essa busca por respostas continue sendo o que nos conecta a eles, milhares de anos depois.

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