Uma descoberta impressionante no sítio arqueológico de Huqoq, próximo ao Mar da Galileia, em Israel, trouxe à luz um tesouro datado do século 15. Composto por 364 moedas de ouro e prata, o achado foi realizado em uma antiga sinagoga e está intrigando arqueólogos e historiadores.
Este tesouro, cuidadosamente escondido em jarros sob uma parede desmoronada, lança luz sobre a dinâmica econômica e religiosa da região durante a Idade Média, além de alimentar debates sobre o propósito de sua deposição.
O tesouro foi descoberto em Huqoq, um local também conhecido como Yaquq, famoso por sua relevância arqueológica. As moedas, oriundas principalmente de Veneza e do sultanato mameluco, foram encontradas dentro de dois jarros, estrategicamente escondidos sob os escombros de uma sinagoga.
De acordo com Robert Kool, curador do departamento de moedas da Autoridade de Antiguidades de Israel, o tesouro contém moedas de diferentes períodos e origens. As moedas venezianas mais antigas datam da liderança de Francesco Dandolo (1329–1339), enquanto as mais recentes foram cunhadas sob Francesco Foscari (1423–1457).
As moedas apresentam características marcantes, como imagens de São Marcos Evangelista e inscrições latinas que proclamam: “A Ti, Cristo, é confiado este Ducado que Tu governas”. Esses detalhes reforçam a importância dos ducados venezianos como moeda de circulação ampla no Mediterrâneo oriental, particularmente no Egito mameluco e na Síria.
Além das moedas venezianas, o tesouro inclui peças cunhadas durante o reinado do sultão mameluco al-Ashraf Barsbay (1422–1438), destacando a influência econômica do sultanato na região. Outras moedas encontradas no local têm origens diversas, como uma moeda prateada do reinado de Jaime I, rei da Sicília (1285–1295), e uma moeda da Sérvia, ampliando a compreensão sobre as conexões comerciais e culturais da época.
A razão pela qual esses jarros de moedas foram enterrados permanece um mistério. Algumas teorias sugerem que o montante pode ter sido destinado a reparos na sinagoga, uma prática comum em comunidades judaicas medievais. Outra possibilidade é que um comerciante tenha escondido o tesouro para protegê-lo durante uma viagem, mas nunca retornou para recuperá-lo.
Há também a hipótese de que o tesouro pertença a peregrinos que visitavam o túmulo do profeta Habacuque, localizado nas proximidades. Habacuque, uma figura mencionada na Bíblia Hebraica, atraiu devotos ao longo dos séculos, tornando a região um importante centro de peregrinação.
A sinagoga de Huqoq foi utilizada ativamente até meados do século 15, quando começou a entrar em ruínas. Esse período coincide com a deposição das moedas, que, segundo análises, ocorreu entre 1438 e 1457. Após ser abandonada como local de culto, a estrutura perdeu sua função original, e os restos arqueológicos, incluindo o tesouro, ficaram escondidos por séculos.
O contexto econômico do período também ajuda a entender a importância das moedas encontradas. Ao final do século XIV, os ducados venezianos eram amplamente aceitos no comércio internacional e eram a única moeda europeia utilizada no Egito mameluco e na Síria. Isso reflete a forte conexão entre os mercados mediterrâneos e o Oriente Médio, evidenciada pela presença dessas moedas em um local de culto no coração de Israel.
Embora a descoberta tenha ocorrido no verão de 2018, sua divulgação foi adiada por motivos de segurança, incluindo o risco de roubo de antiguidades. Após a publicação no American Journal of Numismatics, o achado tornou-se um marco importante para a arqueologia e a história monetária do período medieval.
Detalhes minuciosos das moedas foram analisados para datar o tesouro e compreender seu papel no cenário político e econômico da época. As imagens gravadas e as inscrições nas moedas venezianas e mamelucas oferecem pistas sobre as influências culturais e religiosas que moldaram a região.
A descoberta deste tesouro não é apenas um feito arqueológico impressionante, mas também uma janela para compreender a complexidade das relações econômicas, religiosas e culturais da Idade Média no Mediterrâneo oriental.
Além disso, o tesouro desperta um interesse renovado pelo sítio arqueológico de Huqoq, conhecido por outros achados significativos, como mosaicos que retratam cenas bíblicas. O local agora se consolida como um ponto central para explorar as interações entre diferentes civilizações ao longo dos séculos.
O tesouro de moedas de ouro e prata encontrado em Huqoq é mais do que um conjunto de relíquias antigas, pois representa muitos aspectos históricos daquela época, do comércio e da fé que moldaram o Mediterrâneo oriental. Embora muitas perguntas permaneçam sem resposta, essa descoberta destaca a riqueza histórica da região e a importância de preservarmos nosso passado para compreender melhor o presente.