A recente declaração da NASA sobre o início do máximo solar — o pico do ciclo de 11 anos de atividade do Sol — despertou atenção mundial. Esse fenômeno natural, que já traz implicações para a Terra e suas tecnologias, prenuncia algo ainda mais intenso: a chegada da chamada “zona de batalha”.
Cientistas apontam que essa etapa do ciclo solar pode ser ainda mais impactante do que o próprio máximo solar.
O máximo solar ocorre quando o número de manchas solares atinge seu ápice. Essas manchas, áreas escuras visíveis na superfície do Sol, são acompanhadas de intensas erupções solares que lançam partículas carregadas ao espaço.
Caso essas partículas atinjam a Terra, elas podem desencadear tempestades geomagnéticas, fenômenos que produzem as belas auroras boreais e austrais. Contudo, seus efeitos não se restringem à estética: podem causar interferências significativas nos sistemas de comunicação, navegação e até na rede elétrica.
Durante o máximo solar, tempestades solares tornam-se mais frequentes e intensas. Quando o ciclo atinge seu fim, o campo magnético do Sol se reorganiza e inicia-se a fase de declínio, rumo ao mínimo solar. Mas, entre esses extremos, surge a chamada zona de batalha, que é alvo de crescente preocupação.
Prevista para começar entre 2025 e 2026, essa fase do ciclo solar deve durar até 2028, segundo a empresa Lynker Space, especializada em clima espacial. Durante a zona de batalha, duas faixas magnéticas do ciclo Hale — um ciclo solar de 22 anos — competem em cada hemisfério solar. Essa interação magnética intensifica a atividade solar, criando condições propícias para erupções solares mais potentes e a formação de buracos coronais.
Buracos coronais são áreas escuras na coroa solar, onde o campo magnético é mais fraco. Essas regiões liberam ventos solares extremamente rápidos, que podem amplificar tempestades geomagnéticas. Em 2023, um buraco coronal 60 vezes maior que a Terra já demonstrou o poder dessas rajadas. Durante a zona de batalha, a ocorrência desses buracos pode aumentar significativamente, trazendo implicações preocupantes.
O avanço da tecnologia espacial trouxe benefícios inegáveis, mas também aumentou a vulnerabilidade à atividade solar. Hoje, mais de 10 mil satélites orbitam a Terra, muitos deles pertencentes a megaconstelações como o Starlink, da SpaceX. Esses satélites são vitais para sistemas de comunicação, navegação e internet global. Porém, o aumento da atividade geomagnética durante a zona de batalha pode representar um risco significativo para esses dispositivos.
Quando partículas solares atingem a Terra, elas interagem com a atmosfera superior, causando sua expansão. Isso aumenta o chamado “arrasto atmosférico”, uma resistência que pode fazer com que satélites percam altitude e retornem à Terra prematuramente. Já há registros de satélites danificados ou desativados em ciclos solares anteriores, e a multiplicação desses dispositivos em órbita torna a situação mais crítica.
Além disso, tempestades geomagnéticas podem interferir diretamente nos sistemas eletrônicos dos satélites, causando falhas ou interrupções em serviços essenciais. Com a crescente dependência de tecnologias baseadas no espaço, os impactos podem ser sentidos em diversas áreas, como transporte, telecomunicações e segurança.
A chegada da zona de batalha exige uma abordagem proativa para mitigar seus impactos. Operadoras de satélites e agências espaciais já estão investindo em tecnologias mais avançadas para proteger seus equipamentos. Monitoramento constante do clima espacial, blindagem de dispositivos eletrônicos e desenvolvimento de sistemas mais resilientes são algumas das estratégias em curso.
Por outro lado, o fenômeno oferece uma oportunidade única para cientistas e entusiastas das auroras. Durante a zona de batalha, a maior intensidade das tempestades geomagnéticas aumenta as chances de observar as luzes do norte e do sul em regiões onde elas geralmente não são visíveis. Essa interação entre a ciência e a beleza natural reforça a importância de estudar e compreender os fenômenos solares.