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TDAH: diagnóstico correto ou excesso de medicalização? O que a ciência e a sociedade ainda precisam entender

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O TDAH tem sido cada vez mais discutido e diagnosticado, especialmente entre crianças e adolescentes, levantando dúvidas sobre possível excesso de diagnósticos e medicalização. Em um cenário de estímulos digitais constantes, fica difícil distinguir o transtorno de comportamentos comuns da vida moderna. O aumento do uso de medicamentos também preocupa especialistas. Compreender o TDAH com rigor científico e sensibilidade é fundamental para evitar tanto a negligência quanto o tratamento inadequado.

O que é, de fato, o TDAH?

O TDAH é um transtorno neurobiológico reconhecido oficialmente por organizações como a OMS e a Associação Americana de Psiquiatria. Seu núcleo envolve desatenção persistente, impulsividade e hiperatividade que comprometem o desenvolvimento social, acadêmico e profissional.

Não se trata de falta de esforço, má criação ou simples agitação. O transtorno afeta funções executivas do cérebro: organização, tomada de decisões, controle de impulsos, foco e memória de trabalho.

Por que então há tanta controvérsia?
Porque comportamentos semelhantes ocorrem em pessoas saudáveis, especialmente na infância — e porque o diagnóstico depende de análise clínica qualificada, não de testes rápidos ou percepção isolada de professores ou familiares.

Um crescimento que chama atenção

Nas últimas décadas, o TDAH saltou das estatísticas. Pesquisas em diversos países apontam forte elevação no número de diagnósticos e no uso de medicamentos como metilfenidato e lisdexanfetamina.

O avanço pode ter dois lados:

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O aumento expressivo entre crianças em idade escolar levanta o alerta: estamos realmente tratando um transtorno ou tentando ajustar comportamentos infantis a expectativas cada vez mais rígidas de atenção, silêncio e produtividade?

O risco da medicalização como solução rápida

Medicamentos estimulantes são considerados seguros e eficazes quando bem indicados. Eles podem transformar a vida de quem de fato convive com TDAH, melhorando foco, desempenho acadêmico e autoestima.

O problema surge quando:

  • Há diagnóstico apressado
  • A queixa está ligada ao ambiente escolar inadequado
  • O tratamento ignora aspectos emocionais e pedagógicos
  • Medicamentos substituem intervenções comportamentais e apoio multidisciplinar

Em outras palavras: o remédio é ferramenta, não milagre. E jamais deve ser a primeira — ou única — resposta.

Além disso, o uso sem necessidade pode trazer efeitos colaterais como perda de apetite, ansiedade, taquicardia e insônia. Em casos mais graves, risco de dependência.

Como diferenciar desatenção comum de TDAH?

Crianças se distraem. Adolescentes procrastinam. Adultos se esquecem. Esses traços pertencem à própria natureza humana.

Para caracterizar TDAH, é necessário observar:

  • Persistência dos sintomas por ao menos 6 meses
  • Prejuízo funcional claro em mais de um ambiente (escola, trabalho, casa)
  • Início dos sinais ainda na infância
  • Desajustes que ultrapassam o esperado para a idade

Não bastam comportamentos esporádicos.
É preciso avaliar a história do indivíduo, contexto social, saúde emocional e possíveis diagnósticos diferenciais.

O papel do mundo digital no aumento das queixas

Vivemos a era da hiperconexão: notificações constantes, vídeos curtos, excesso de estímulos. A atenção tornou-se fragmentada, e o comportamento típico de TDAH parece estar em toda parte.

Pesquisadores discutem se:

  • Ambientes digitais agravam sintomas em quem já possui o transtorno
  • A sociedade moderna reduz a tolerância à inquietude natural
  • O estresse e o ritmo acelerado mimetizam sinais de desatenção

Em meio a esses fatores, exige-se ainda mais cuidado para não patologizar o cotidiano.

Diagnóstico responsável exige equipe qualificada

Nenhum medicamento deve ser prescrito apenas após uma conversa rápida ou questionários simplificados. O processo correto deveria envolver:

✅ Avaliação psiquiátrica completa
✅ Observação comportamental
✅ Entrevistas com pais e professores no caso de crianças
✅ Investigação de comorbidades (ansiedade, depressão, TEA)
✅ Registros do histórico escolar e familiar

Quanto maior o rigor, menor o risco de tratamentos desnecessários e maior a chance de ajudar quem realmente precisa.

A importância de terapias não farmacológicas

TDAH não se cuida apenas com comprimidos. Estratégias complementares fortalecem resultados e reduzem dependência medicamentosa:

  • Psicoterapia cognitivo-comportamental
  • Educação parental
  • Adaptações pedagógicas
  • Organização da rotina e estímulo à autonomia
  • Atividade física regular
  • Dieta equilibrada e sono adequado

Esses recursos ajudam o indivíduo a usar suas capacidades ao máximo, sem depender apenas da medicação.

Diagnosticar não é rotular: é libertar

O estigma ainda pesa. Muitas pessoas são tratadas como preguiçosas, distraídas ou irresponsáveis durante anos. Quando o diagnóstico correto chega, abre-se uma porta de compreensão, acolhimento e novas possibilidades.

Por outro lado, quando alguém sem TDAH recebe esse rótulo, perde-se autonomia e confiança, além de correr riscos desnecessários com medicamentos.

O equilíbrio é delicado — e fundamental.

Conclusão

O debate sobre TDAH precisa abandonar extremos: nem todo comportamento agitado é transtorno, nem todo diagnóstico é exagero. O que exige atenção é o respeito à complexidade da mente humana. Diagnosticar corretamente significa oferecer ajuda àqueles que realmente precisam, com um plano terapêutico que vá além do remédio. Excesso de medicalização, por sua vez, pode esconder problemas sociais, pedagógicos ou emocionais que clamam por atenção. A saúde mental não se resolve com pressa. Para acompanhar análises sérias e conteúdos que valorizam o conhecimento, continue lendo o Jornal da Fronteira, onde a informação é tratada com responsabilidade e humanidade.

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