A história humana está repleta de mistérios enterrados nas profundezas da terra e do oceano, esperando pacientemente para serem descobertos e revelados. Um desses mistérios, um tesouro romano incrível, foi revelado recentemente por pesquisadores da Universidade de Alicante, na cidade portuária de Alicante, Espanha. Este tesouro de moedas de ouro, que datam dos séculos IV e V, é descrito como “excepcional” e oferece uma janela única para a tumultuada transição do Império Romano na Península Ibérica. Neste artigo, vamos explorar essa emocionante descoberta e o que ela revela sobre a história da Espanha e do Império Romano.
Uma Descoberta Extraordinária nas Profundezas do Mar
Imagine um grupo de mergulhadores amadores, Luis Lens e César Gimeno, explorando o fundo do mar na costa de Jávea, Espanha. Eles não estavam em busca de um tesouro, mas a sorte estava do lado deles quando encontraram as primeiras oito moedas de ouro romanas. Essa descoberta inicial desencadeou uma série de eventos que levariam a uma das maiores descobertas arqueológicas da Espanha e da Europa.
As moedas, em perfeito estado de conservação, foram identificadas como datando do período entre os séculos IV e V, durante a Antiguidade Tardia. Esta era marcada por tumulto político e social, conforme o Império Romano enfrentava desafios significativos, incluindo a chegada de povos do norte, como suevos, vândalos e alanos, na Península Ibérica.
Um Conjunto de Moedas Raras e Valiosas
O tesouro submarino é composto por 53 moedas, cada uma delas uma cápsula do tempo que nos leva de volta à época do Império Romano. As moedas apresentam representações dos governantes da época, oferecendo uma visão única da liderança durante esse período crítico. Entre as moedas, estão três do imperador Valentiniano I, sete de Valentiniano II, 15 do imperador Teodósio I, 17 do imperador Arcádio e dez do imperador Honório. Há ainda uma moeda não identificada devido à inscrição riscada.
O estado excepcional de conservação das moedas permitiu que os arqueólogos fizessem leituras precisas das inscrições e dataram-nas com confiança. Essas moedas proporcionam uma visão fascinante de como o poder mudou de mãos no Império Romano durante esse período tumultuado.
Uma História de Insegurança e Mudança
A descoberta deste tesouro romano não é apenas emocionante por sua raridade e valor histórico, mas também por revelar detalhes cruciais sobre o contexto histórico em que as moedas foram ocultadas no fundo do mar. Os arqueólogos acreditam que as moedas podem ter sido escondidas intencionalmente por um proprietário de terras rico, como uma precaução durante um período de instabilidade e saques provocados pelos povos do norte.
A hipótese sugere que o dono pretendia retornar posteriormente para recuperar o tesouro, mas isso nunca aconteceu. Em vez disso, essas moedas permaneceram escondidas por mais de 1.500 anos, até que Lens e Gimeno fizessem sua descoberta acidental. Essa história nos oferece uma visão vívida de um momento histórico de extrema insegurança, marcado pela chegada violenta de povos bárbaros e pelo fim definitivo do Império Romano na Península Ibérica a partir de 409 DC.
Uma Contribuição Inestimável para a História
O chefe da equipe de arqueólogos subaquáticos da Universidade de Alicante, Jaime Molina Vidal, descreveu a descoberta como “excepcional” tanto em termos arqueológicos quanto históricos. Ele ressaltou que essas moedas parecem ter sido feitas ontem, graças à incrível preservação. Esta descoberta oferece uma oportunidade única para expandir nosso conhecimento sobre o período final do Império Romano Ocidental e entender melhor as circunstâncias que levaram ao seu declínio.
Além disso, a descoberta também destaca o papel crucial que indivíduos comuns, como Lens e Gimeno, desempenham na preservação do patrimônio histórico. Sua decisão de relatar sua descoberta às autoridades permitiu que arqueólogos e pesquisadores explorassem completamente o local e recuperassem o tesouro.
Os Próximos Passos: Restauração e Pesquisa Adicional
Após sua recuperação, o conjunto arqueológico será cuidadosamente restaurado para preservar seu estado excepcional de conservação. Uma vez restaurado, o tesouro será exposto no Museu Arqueológico e Etnográfico de Soler Blasco, em Jávea, onde o público terá a oportunidade de apreciar essa fascinante descoberta.
O governo local de Valência está comprometido em apoiar pesquisas adicionais na área. Um fundo de 17,8 mil euros foi estabelecido para financiar escavações subaquáticas adicionais na baía de Portitxol de Jávea. O objetivo é aprofundar nosso conhecimento sobre a origem das moedas, determinando se estavam em uma arca que caiu de um navio que passava pela região ou se essa arca pertence a um navio naufragado nas proximidades.
Os arqueólogos também estão investigando os indícios de três pregos de cobre e restos de chumbo encontrados no local, sugerindo a possível presença de um cofre. Essas pesquisas fazem parte do Plano Geral de Investigação em Arqueologia Submarina “Perspectivas Arqueológicas em Portixol de Jávea”, uma colaboração entre a Universidade de Alicante e o museu do município.
Revelando os Mistérios do Passado Marítimo
Desde 2019, essa parceria já realizou vários levantamentos arqueológicos na baía de Portitxol de Jávea, revelando uma riqueza de vestígios arqueológicos. Âncoras, cargas de ânforas, vestígios de cerâmica de diferentes épocas, materiais metálicos e elementos associados à navegação foram recuperados do fundo do mar no oeste do Mediterrâneo.
Essa baía, rica em vestígios arqueológicos, está rapidamente se tornando um local importante para a pesquisa de naufrágios e atividade marítima de tempos passados. Molina Vidal e sua equipe estão empenhados em continuar a explorar a área, na esperança de descobrir se há navios naufragados próximos que podem oferecer mais insights sobre o passado marítimo da região.
Uma Janela para o Passado Romano
A descoberta do tesouro romano no fundo do mar em Alicante é um lembrete emocionante de que a história está constantemente à espera de ser desvendada, mesmo nas profundezas do oceano. Essas moedas de ouro, datadas dos séculos IV e V, não apenas oferecem uma visão única da liderança romana tardia, mas também lançam luz sobre um período de grande turbulência e mudança na Península Ibérica.
O compromisso contínuo dos pesquisadores em explorar a área e entender o contexto dessa descoberta é essencial para a preservação e interpretação de nosso passado. A restauração e a futura exposição das moedas permitirão que o público aprecie e aprenda com essa descoberta excepcional, enquanto as pesquisas subaquáticas adicionais podem revelar ainda mais segredos sobre o passado marítimo da região.
À medida que continuamos a desvendar os mistérios do passado, somos lembrados da riqueza e complexidade da história humana e de como cada descoberta arqueológica nos aproxima um pouco mais do entendimento de nosso legado comum. A história está viva, enterrada sob o solo e oculta nas profundezas do oceano, esperando pacientemente por aqueles dispostos a explorá-la e compartilhá-la com o mundo.