Uma expedição científica formada por quatro mulheres saiu de Itajaí, em Santa Catarina, com destino a Belém, no Pará, onde deve chegar em julho. No Paraná, os cientistas já passaram por Paranaguá onde coletaram material para análise. O objetivo é investigar se os frutos do mar consumidos ao longo do litoral brasileiro contêm microplásticos.
A iniciativa pretende descobrir como a contaminação se distribui ao longo da costa e os riscos ambientais e à segurança alimentar humana. Lambretas, mexilhões, ostras, sururus e vieiras são adquiridos em mercados públicos e feiras locais pela equipe formada com apoio da Voz dos Oceanos, projeto liderado pela família Schurmann, e enviados ao laboratório do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).
Durante 70 dias, as pesquisadoras devem percorrer mais de 6.000 km de estrada ao longo de 20 cidades litorâneas. A parada mais recente foi na Bahia e a previsão é de que a expedição termine em 14 de julho.
Cientista encontram micropláticos nas praias do Paraná
No Paraná, pesquisadores do o Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR) encontraram microplásticos na areia das praias do Paraná. O estudo foi publicado na revista científica Marine Pollution Bulletin identificou a presença de microplásticos nas praias do litoral paranaense. Os pesquisadores investigaram praias localizadas às margens das Baias de Antonina, Paranaguá e Laranjeiras, incluindo as localizadas dentro da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba (APA de Guaraqueçaba).
Os microplásticos foram encontrados em 16 das 19 praias estudadas. No total foram registrados 389 itens – 63% eram espumas, como o isopor por exemplo, e 14% fragmentos de produtos feitos de plástico.
Formados por microesferas, os microplásticos são partículas de plástico com tamanho entre 0,001 e 5 mm. Eles estão presentes em fios de roupas sintéticas, cosméticos e até nas pastas dentais. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontam que pelo menos 51 trilhões de partículas de microplásticos estão espalhadas pelos oceanos.
Microplásticos em animais bivalves
Formados por uma concha de duas partes, chamadas de valvas, os animais bivalves “filtram” materiais poluentes do oceano, incluindo microplásticos. E quem se alimenta deles também ingere o material. Um dos motivos para a escolha por esses animais é que o seu consumo ocorre de forma integral. Dos peixes, por exemplo, descartamos as vísceras, o que diminui a concentração de microplásticos.
Um total de 410 bivalves foi adquirido durante a expedição até o momento. Os organismos são processados, congelados e enviados a análise laboratorial. Até 12 de junho, foram enviadas ao IOUSP as primeiras amostras coletadas: 32 mexilhões e 30 ostras em Itajaí; 30 ostras em Paranaguá; 30 mexilhões e 19 ostras em Santos; 30 mexilhões em São Sebastião; 30 mexilhões e 29 ostras em Angra dos Reis; 31 mexilhões no Rio; 30 mexilhões e 30 sururus em Vitória; 31 ostras em caravelas; e 28 lambretas e 30 sururus em Salvador. Os próximos destinos são: Aracaju (SE); Maceió (AL); Recife (PE); João Pessoa (PB); Natal (RN); Fortaleza (CE); São Luiz (MA) e Belém (PA).
O tempo médio de processamento das amostras é de quatro a seis horas, dependendo do tipo e da quantidade de bivalves, diz a bióloga marinha Marília Nagata, doutoranda em Oceanografia pelo IOUSP e uma das tripulantes da expedição. “Esse projeto é o mais amplo e mais ambicioso, do ponto de vista de abrangência geográfica, para se estudar os microplásticos em animais consumidos por nós”, diz o líder do estudo, professor Alexander Turra, do IOUSP, coordenador da Cátedra da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) de Sustentabilidade Oceânica.
Ao investigar as diferentes características dos microplásticos, a iniciativa também deve rastrear a origem desse material, o que pode abranger fibras e derivados de apetrechos de pesca. “Com isso, poderemos propor sugestões específicas para combater as diversas fontes de poluição marinha no País”, diz Turra.