Museu de Nashville devolve 248 artefatos pré-colombianos ao México

O Museu Parthenon de Nashville, nos Estados Unidos, abrigou por anos uma coleção impressionante de artefatos pré-colombianos, cujas origens muitas vezes eram envoltas em mistério.

Este mês marca um capítulo significativo na história do museu, com a devolução de 248 desses itens ao México. Este evento sublinha a crescente importância da repatriação cultural e a responsabilidade dos museus em respeitar e preservar o patrimônio cultural de outros países.

Quando Bonnie Seymour assumiu o cargo de curadora assistente no Museu Parthenon, ela notou imediatamente a presença de artefatos pré-colombianos na coleção. Esta descoberta levou a uma série de questionamentos éticos e históricos. “Meu primeiro pensamento foi que eles deveriam ser repatriados”, disse Seymour à Associated Press (AP). “Esses artefatos precisam voltar para casa.”

Graças aos esforços incansáveis de Seymour e da equipe do museu, os artefatos estão sendo devolvidos à Cidade do México, onde serão preservados no Instituto Nacional de Antropologia e História. “A repatriação desses artefatos é uma obrigação cultural e uma responsabilidade moral”, afirma Monique Horton Odom, diretora de Metro Parks and Recreation. “Esses artefatos têm valor e significado para o povo do México e devem estar onde possam ter um impacto dinâmico na compreensão de sua cultura e história.”

Antes de serem enviados de volta ao México, os artefatos foram exibidos no Parthenon uma última vez na exposição “Repatriação e seu Impacto”. Esta mostra explorou a história da repatriação e apresentou as peças pré-colombianas ao lado das obras do artista mexicano José Véra González, residente em Nashville.

Rich Montgomery, que ouviu sobre a exposição na NPR, entrou em contato com Seymour para explicar como os artefatos chegaram ao museu. Montgomery e seu irmão haviam coletado muitos dos itens sob a orientação de seu pai, John Montgomery, um médico do Oregon. Durante as décadas de 1960 e 1970, John Montgomery e um amigo, Edgar York, doaram esses artefatos ao Parthenon para obter deduções fiscais. “Ele me deu todo o resumo”, disse Seymour à Laura Hutson Hunter, do Nashville Scene. “É parecido, mas muito diferente do que pensávamos originalmente.”

Os esforços de repatriação ganharam força nos últimos anos, com uma crescente conscientização sobre as questões éticas envolvidas na aquisição de artefatos por museus. Javier Diaz de Leon, cônsul-geral mexicano em Atlanta, destacou a importância desse movimento. “As pessoas vêm até nós de todo o mundo, dizendo voluntariamente: ‘Eu tenho isso. Chegou às nossas mãos, mas achamos que pertence ao povo mexicano'”, disse Diaz de Leon. “Estamos muito satisfeitos com esse tipo de transição.”

A repatriação de artefatos culturais envolve a reconciliação com o passado colonial e a restituição de objetos culturais aos seus legítimos proprietários. Museus ao redor do mundo estão reavaliando suas coleções e as circunstâncias sob as quais muitos artefatos foram adquiridos. No caso do Parthenon, a devolução dos artefatos pré-colombianos ao México é um exemplo de como os museus podem atuar de forma ética e responsável.

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Estrutura subterrânea e pirâmide maia perdida são encontradas em floresta no México

A vasta e enigmática floresta do estado mexicano de Campeche, dentro da Reserva da Biosfera Balam Kú, acaba de revelar mais um capítulo fascinante da história antiga. Recentes investigações arqueológicas conduzidas pelo Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH) descobriram estruturas submersas e uma pirâmide Maia, ocultas por séculos.

Utilizando a avançada tecnologia LiDAR, que tem revolucionado a arqueologia moderna, esses achados oferecem novas pistas sobre a vida e os costumes de uma civilização que ainda guarda muitos segredos.

A tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging) desempenhou um papel crucial na descoberta dessas estruturas. Esse sensor utiliza pulsos de laser para mapear a superfície da terra em detalhes, revelando características que seriam invisíveis a olho nu devido à densa vegetação. Nos últimos anos, o LiDAR tem sido instrumental na descoberta de cidades perdidas ao redor do mundo, e agora, trouxe à tona um complexo Maia em Campeche, enterrado sob a espessa cobertura florestal.

Entre as estruturas identificadas, destacam-se uma pirâmide, um centro cerimonial e uma quadra de esportes. A pirâmide, de forma irregular e localizada no centro de uma suposta praça principal sobre uma colina, é particularmente intrigante. Externamente, um canal de drenagem sugere a existência de um sofisticado sistema hidráulico associado a uma fase inicial da praça, que foi posteriormente reformada.

O centro cerimonial, embora pequeno em capacidade, impressiona por sua altura, com aproximadamente 13 metros. Esta estrutura sugere que, apesar das limitações do terreno, a comunidade Maia local possuía uma organização social complexa e rituais religiosos elaborados. Já a quadra de esportes, datada de cerca de 300 d.C., ainda preserva vestígios de tinta, indicando sua importância cultural e esportiva.

Essas estruturas, apesar de mais simples comparadas a outras construções Maias conhecidas, possuem um valor arqueológico inestimável. Elas proporcionam uma visão mais detalhada sobre o modo de vida dos Maias naquela região específica, caracterizada por um terreno árido e desafiador. A descoberta dessas edificações revela a adaptabilidade e engenhosidade dessa civilização, que conseguiu florescer em um ambiente hostil.

A civilização Maia, que dominou grande parte da Mesoamérica por séculos, é conhecida por suas avançadas conquistas em astronomia, matemática, e arquitetura. As cidades Maias frequentemente apresentavam estruturas monumentais, como pirâmides, templos e palácios, além de complexos sistemas de irrigação e agricultura. A descoberta em Balam Kú acrescenta uma nova camada de entendimento sobre como essa civilização se adaptou a diferentes ambientes e desafios geográficos.

O Instituto Nacional de Antropologia e História do México tem sido fundamental na preservação e estudo do patrimônio cultural do país. A instituição não só lidera escavações e pesquisas, como também trabalha na proteção e divulgação dos achados arqueológicos. As recentes descobertas em Campeche são resultado de anos de trabalho dedicado e do uso de tecnologias de ponta, como o LiDAR, para desvendar os mistérios escondidos sob a superfície.

A pirâmide descoberta em Balam Kú, com sua forma irregular, contrasta com as pirâmides mais conhecidas, como as de Chichén Itzá ou Tikal, que são famosas por suas simetrias e grandeza. No entanto, a simplicidade desta pirâmide pode fornecer informações valiosas sobre as variáveis regionais na construção Maia. Sua localização central na praça principal sugere que era um ponto focal da comunidade, possivelmente usado para cerimônias importantes e observações astronômicas.

As descobertas sugerem que os habitantes de Balam Kú levavam uma vida organizada e comunitária, com um sistema social bem definido. O centro cerimonial de 13 metros indica a importância da religião e dos rituais na vida cotidiana. A quadra de esportes, por sua vez, mostra que atividades recreativas e competições eram uma parte importante da cultura Maia, contribuindo para a coesão social e o entretenimento.

O terreno onde essas estruturas foram encontradas é descrito como árido e difícil de cultivar, o que explica a simplicidade das construções em comparação com outros locais Maias mais prósperos. No entanto, essa adversidade também demonstra a resiliência e a adaptabilidade da civilização Maia. A capacidade de construir e manter uma comunidade funcional em um ambiente tão hostil é um testemunho da engenhosidade e do espírito indomável deste povo.

As descobertas em Balam Kú são apenas o começo. Com o avanço contínuo da tecnologia LiDAR e outras ferramentas arqueológicas, é provável que ainda mais segredos da civilização Maia sejam revelados nos próximos anos. O INAH continuará suas investigações, explorando não apenas Balam Kú, mas também outras áreas potencialmente ricas em história e cultura.

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