O Sumário para Tomadores de Decisão do Relatório Temático sobre Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos oferece uma visão abrangente sobre a contribuição do setor agrícola para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, bem como seus impactos ambientais e sociais. Este documento, ainda em fase de elaboração, será lançado oficialmente em setembro e promete influenciar decisivamente as políticas públicas e privadas voltadas para um desenvolvimento sustentável da agropecuária no país.
O agronegócio é um pilar fundamental da economia brasileira, respondendo por cerca de 27% do PIB do país e empregando aproximadamente 20% da força de trabalho formal. A diversidade agrícola do Brasil, com suas vastas monoculturas e sistemas intensivos de irrigação, destaca o país como um dos maiores produtores agrícolas do mundo. No entanto, este modelo produtivo intensivo tem gerado uma série de consequências negativas, incluindo a contaminação dos recursos hídricos e a degradação da biodiversidade.
Segundo o professor Gerhard Ernst Overbeck, do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do relatório, a agricultura intensiva no Brasil está diretamente relacionada a problemas ambientais críticos, como a escassez de água e as mudanças climáticas. Overbeck alerta que, se mantida a tendência atual, a própria produção agrícola pode ser severamente impactada. As emissões de gases de efeito estufa resultantes do desmatamento na Amazônia são um dos principais motores das mudanças climáticas, que por sua vez afetam negativamente a agricultura.
Além das grandes monoculturas, a agricultura familiar desempenha um papel crucial na produção agrícola e na preservação da biodiversidade brasileira. Presente em todos os biomas do país, a agricultura familiar contribui significativamente para a diversidade de culturas e práticas sustentáveis. No entanto, a expansão agrícola tem reduzido drasticamente a vegetação nativa, principalmente em biomas como a Mata Atlântica e o Pampa, onde a cobertura vegetal já é bastante baixa.
O Relatório Temático é um diagnóstico abrangente que reúne informações científicas e casos de sucesso na interação entre usos do solo e biodiversidade. Elaborado ao longo de três anos por 100 profissionais de diversas áreas e mais de 40 instituições, o estudo aborda o uso e a cobertura da terra desde o primeiro Código Florestal de 1965 até os dias atuais, e projeta cenários futuros para a agricultura no Brasil.
Rachel Bardy Prado, pesquisadora da Embrapa Solos e co-coordenadora do estudo, destaca que o relatório não apenas diagnostica os problemas, mas também propõe soluções práticas para tornar a agricultura brasileira mais sustentável e inclusiva. Entre as soluções sugeridas estão a restauração de áreas de reserva legal e de preservação permanente, incentivos econômicos para práticas agrícolas sustentáveis, e a adoção de sistemas integrados de produção, como o Sistema Plantio Direto e o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.
A expansão agrícola no Brasil tem levado a disputas por território, concentração fundiária e exclusão social. O relatório ressalta a importância de políticas públicas que promovam a inclusão social e a distribuição equitativa de terras. Além disso, a aplicação rigorosa da Lei de Proteção da Vegetação poderia evitar a perda de milhões de hectares de vegetação nativa e promover a restauração de áreas degradadas.
O relatório apresenta modelos que projetam variações climáticas significativas, especialmente na fronteira Amazônia-Cerrado, onde até 74% das terras agrícolas atuais podem se tornar inviáveis até 2060. Dados do MapBiomas indicam um crescimento expressivo da área agrícola no Brasil nas últimas décadas, aumentando a pressão sobre unidades de conservação e terras indígenas. Essa expansão agrícola, se não for manejada de forma sustentável, pode resultar em graves impactos ambientais e sociais.
Os pesquisadores identificaram várias práticas e políticas que podem tornar a agropecuária brasileira mais sustentável e resiliente. Entre elas estão o estímulo à restauração de áreas de reserva legal, incentivos econômicos para atividades sustentáveis, e a valorização de práticas agroecológicas. Além disso, programas de extensão rural focados na agroecologia e sistemas de rastreabilidade de cadeias produtivas são essenciais para garantir a sustentabilidade da produção agrícola.