Suinocultura e leite pautam debate da Alesc Itinerante no Extremo Oeste

A realidade do campo voltou ao centro do debate em Santa Catarina durante a passagem do programa Alesc Itinerante por São Miguel do Oeste, na manhã desta quarta-feira (11). A reunião da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural reuniu representantes da suinocultura e da pecuária leiteira, que trouxeram à tona os desafios enfrentados por quem mantém a produção no interior do Estado — especialmente no Extremo Oeste.

O encontro foi conduzido pelo presidente da comissão, deputado Altair Silva (PP), e representou uma rara oportunidade de escuta direta dos produtores, com temas que vão desde o descumprimento de legislações até o temor pelo futuro da sucessão familiar no meio rural.

Suinocultura cobra valorização, transparência e sucessão rural

O presidente do Núcleo Regional de Suinocultores do Extremo Oeste, Tiago Kroetz, foi direto ao pontuar os principais entraves do setor. Um dos temas mais sensíveis é a ausência de remuneração pelas reservas legais mantidas nas propriedades, conforme exige a legislação ambiental. “O produtor compra a terra, preserva, paga impostos e não recebe nenhum incentivo por isso. Essa conta não fecha”, criticou.

Outro ponto de destaque foi o desconhecimento e o não cumprimento da Lei Federal 13.288/2016, que rege o sistema de integração entre a indústria e os produtores. Segundo Kroetz, embora 90% da suinocultura catarinense opere nesse modelo, muitos produtores não têm clareza sobre seus direitos. “Essa lei precisa sair do papel. As empresas conhecem, mas escondem do produtor. Falta orientação e fiscalização.”

Kroetz ainda abordou a crise de sucessão familiar, alertando para o desinteresse dos jovens em continuar na atividade rural. “O agronegócio é retratado de forma negativa no material escolar. Como vamos incentivar nossos filhos a permanecer no campo se o discurso é de que somos vilões?”, questionou.

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Cadeia leiteira pede ações contra importações e preço justo ao produtor

Representando a Microrregião das Três Fronteiras, Vanderley Rutkoski trouxe ao debate a realidade da cadeia leiteira na região. Segundo ele, o principal obstáculo continua sendo o baixo valor pago pelo litro do leite, agravado pela concorrência desleal com produtos importados do Mercosul.

“Temos um leite de qualidade, o produtor investe, busca certificações, tecnologia e sanidade. Mas o retorno financeiro não acompanha esse esforço. Muitos estão endividados e abandonando a atividade”, lamentou Rutkoski.

Assim como na suinocultura, o futuro da atividade também preocupa. “Como pedir a um filho que continue produzindo leite, se o pai não consegue sequer pagar os custos? A falta de rentabilidade compromete toda a lógica da sucessão rural”, afirmou.

Parlamento aprova projeto que reconhece Epagri, Cidasc e Ceasa como estratégicas

Durante a reunião, os parlamentares aprovaram o Projeto de Lei 59/2022, de autoria do deputado Fabiano da Luz (PT), que reconhece a Epagri, a Cidasc e a Ceasa como empresas públicas de relevante interesse econômico e social para o Estado de Santa Catarina. O parecer foi dado pelo relator, deputado Mário Motta (PSD), e agora segue para votação em plenário.

O deputado Volnei Weber (MDB) elogiou a atuação técnica dessas instituições, destacando a importância da presença de profissionais da Epagri e da Cidasc no dia a dia das propriedades rurais. Ele também cobrou mais contratações para garantir o atendimento necessário aos agricultores e pecuaristas.

Conclusão

A reunião da Alesc Itinerante em São Miguel do Oeste evidenciou o quanto a voz do produtor rural precisa ser ouvida. Em meio a questões estruturais, ambientais e econômicas, a suinocultura e a produção de leite no Extremo Oeste seguem como pilares da economia local, mas pedem atenção urgente de políticas públicas, incentivo à permanência no campo e valorização concreta do que produzem. O Parlamento catarinense, ao se aproximar do interior, reforça a importância de construir soluções em diálogo direto com quem alimenta o Estado — e o país.

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