Starbucks é processada por trabalhadores brasileiros nos EUA. A acusação envolve compra de café de fazendas com trabalho análogo à escravidão
Oito trabalhadores brasileiros ingressaram com uma ação judicial contra a multinacional Starbucks, a maior rede de cafeterias do mundo, na última quinta-feira (24), no Tribunal de Columbia, nos Estados Unidos.
A acusação central do processo é de que a empresa teria adquirido café de fazendas brasileiras envolvidas em práticas de trabalho análogo à escravidão.
Segundo a denúncia, os trabalhadores, cujas identidades foram preservadas, foram submetidos a condições degradantes em fazendas localizadas no estado de Minas Gerais, entre 2023 e 2024. Um dos envolvidos era menor de idade, com apenas 16 anos, quando foi resgatado.
O grupo solicita uma indenização no valor de 200 milhões de dólares, equivalente a aproximadamente R$ 1,1 bilhão.
A ONG IRAdvocates (International Rights Advocates), responsável pela condução da ação, afirma que essas propriedades estão ligadas à Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), uma das principais fornecedoras da Starbucks no Brasil. A organização acusa a rede de cafeterias de lucrar conscientemente com um sistema persistente de tráfico humano e exploração laboral no setor cafeeiro brasileiro.
De acordo com os trabalhadores, as condições a que foram submetidos incluíam alojamentos precários, ausência de equipamentos de proteção individual, jornadas exaustivas e coerção psicológica. Também foram reportadas dívidas forçadas contraídas com intermediadores da contratação, o que teria limitado a liberdade de mobilidade dos funcionários.
Um dos relatos menciona que, ao tentarem deixar as fazendas, um homem armado teria impedido a saída do grupo, confiscando seus documentos.
Além disso, a ação menciona a ocorrência de pelo menos nove amputações e duas mortes decorrentes de acidentes com maquinário agrícola em propriedades fornecedoras, nos últimos dois anos. Tais evidências reforçam o argumento da ONG sobre negligência estrutural e violação sistemática dos direitos humanos.
O diretor executivo da IRAdvocates, Terrence Collingsworth, declarou ao jornal The Guardian que a conduta da Starbucks, ao comercializar café com preços elevados cuja origem estaria ligada ao trabalho forçado e infantil, vai além de uma questão legal, sendo considerada “moralmente repugnante”.
Paralelamente à ação judicial, outra denúncia foi protocolada na Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP). A organização Coffee Watch solicitou a suspensão imediata da importação de café brasileiro por parte de empresas americanas, alegando violações recorrentes aos direitos trabalhistas no país.
A diretora da Coffee Watch, Etelle Higonnet, afirmou que os casos denunciados não são isolados. Segundo ela, trata-se de um sistema consolidado que aprisiona trabalhadores em ciclos de pobreza e exploração. “Estamos expondo um sistema arraigado que aprisiona milhões na pobreza extrema e milhares na escravidão absoluta”, destacou.
Dados da organização apontam que 3,7 mil trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão em fazendas brasileiras desde 1996. O Brasil, de acordo com levantamento citado, representa 11,4% de todos os resgates no mundo no período entre 2013 e 2023.
A repercussão do caso pode ter consequências significativas para o agronegócio brasileiro, especialmente no segmento de exportação de café. A depender do andamento da ação e das medidas que vierem a ser adotadas pelas autoridades norte-americanas, produtos de origem nacional podem ser barrados nos Estados Unidos, o maior mercado consumidor de café do mundo.
Até o momento, nem a Starbucks nem a Cooxupé se manifestaram oficialmente sobre as acusações. A investigação segue em andamento nos Estados Unidos.
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