Sonda abandonada há 53 anos pode cair na Terra a qualquer momento

Um pedaço esquecido da corrida espacial está prestes a reencontrar nosso planeta. Entre os dias 8 e 11 de maio de 2025, uma antiga sonda soviética lançada em março de 1972 deve reentrar na atmosfera terrestre, de acordo com cálculos recentes do pesquisador Marco Langbroek, da Universidade Técnica de Delft, na Holanda.

Segundo a previsão mais atualizada, o retorno pode ocorrer por volta das 03h01 (horário de Brasília) do dia 10 de maio, mas a localização exata da queda ainda é incerta. A expectativa é que o objeto atinja o solo ou o oceano a uma velocidade estimada de 233 km/h — o suficiente para gerar um impacto considerável, embora os riscos globais sejam considerados baixos.

A nave que quase chegou a Vênus

O artefato em questão é o Kosmos 482, uma sonda que fazia parte de uma ambiciosa missão soviética destinada ao planeta Vênus, como parte do programa Verena. Porém, o lançamento foi mal-sucedido: a separação da etapa superior do foguete ocorreu antes da hora, deixando a carga útil presa à órbita da Terra, onde permaneceu por mais de cinco décadas.

A nave, projetada para enfrentar o calor escaldante, a pressão esmagadora e a gravidade de Vênus, foi construída com materiais extremamente resistentes. Segundo Langbroek, mesmo após tantos anos, ela ainda mantém uma massa de cerca de 500 kg e 1 metro de diâmetro, características que a tornam comparável, em impacto potencial, a um pequeno meteorito.

Sonda abandonada há 53 anos pode cair na Terra a qualquer momento
Foto: Reprodução/ NASA

Embora o módulo estivesse equipado originalmente com um paraquedas para pousar em Vênus, o cientista holandês acredita que ele já não seria funcional. Se alguma parte da estrutura resistir à reentrada atmosférica, ela atingirá o solo com força, sem qualquer desaceleração extra.

Tecnologia soviética sob vigilância moderna

O monitoramento do objeto foi possível graças ao TU Delft Astrodynamics Toolbox (TUDAT) — um software avançado de astrodinâmica de código aberto desenvolvido na Faculdade Aeroespacial da TU Delft. Utilizando esse sistema, Langbroek produziu as estimativas de reentrada e compartilhou os resultados em seu blog especializado, com base em observações feitas a partir da estação de rastreamento de satélites em Leiden, na Holanda.

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Um risco pequeno, mas não nulo

Apesar de não haver alarde internacional, o cientista reforça que os riscos não são altos, mas tampouco podem ser ignorados. Objetos como o Kosmos 482 são tratados com atenção especial por agências espaciais, pois envolvem massa significativa e trajetória imprevisível, podendo oferecer perigo em caso de queda sobre áreas habitadas — algo improvável, mas possível.

Mais do que um artefato espacial, o Kosmos 482 representa um pedaço da história da exploração interplanetária. Agora, décadas depois, esse “fantasma soviético” reentra no noticiário como uma cápsula do tempo prestes a se desfazer na atmosfera — ou, quem sabe, deixar sua marca definitiva em solo terrestre.

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