Quando começamos a usar nomes e sobrenomes?
Parece simples, né? Mas a verdade é que essa história é antiga, cheia de nuances culturais, exigências políticas e até pitadas de vaidade social. Durante boa parte da história, bastava ter um nome: José, Maria, João… e pronto. Em comunidades pequenas, isso resolvia. Mas o mundo cresceu — e com ele, os Josés também. Como diferenciar José o ferreiro de José o padeiro, ou de José o filho do Antônio?
Foi aí que a humanidade começou a recorrer a um complemento, uma espécie de identidade extra. E assim, surgiram os sobrenomes — um fenômeno que nasceu de forma orgânica, mas virou norma com o tempo, moldado pela cultura, pelo idioma e até pela burocracia de cada civilização.
Roma Antiga: os primeiros passos do sistema nominal triplo
Se você acha que os romanos eram só sobre batalhas e aquedutos, pense de novo. Eles já estavam organizando nomes com uma eficiência quase moderna. O cidadão romano podia ter três partes no nome:
- Prenome (praenomen): o nome pessoal (ex: Gaius)
- Nomen: identificava o gens ou clã familiar (ex: Julius)
- Cognome: funcionava como um apelido familiar, ramo ou traço distintivo (ex: Caesar)
Esse sistema não era acessível a todos, claro. Era mais comum entre os cidadãos e nobres. Mas serviu como base para o que viria depois. Quando o Império Romano caiu, a estrutura desmoronou junto. Na Europa, voltou-se ao básico: um nome só — até que a Idade Média colocasse ordem na casa.
Idade Média: o sobrenome vira necessidade (e moda também)
A coisa engrenou mesmo entre os séculos XI e XIV. A Europa, com cidades crescendo e a administração ficando mais complexa, não tinha mais como lidar com 30 “Guillaume” na mesma vila. Resultado? Os sobrenomes viraram obrigação prática — e ganharam status social.
Foram quatro grandes inspirações para os sobrenomes:
1. Profissão
Pessoas eram nomeadas conforme o ofício. Assim surgiram nomes como:
- Ferreira (ferreiro)
- Müller (moleiro)
- Smith (metalúrgico)
- Carpenter (carpinteiro)
2. Origem geográfica
A localização virou marcador:
- da Silva (quem vinha do matagal)
- Del Valle (do vale)
- Van der Meer (do lago)
- Alencar (topônimo lusitano)
3. Características físicas ou de temperamento
Um apelido baseado na aparência ou comportamento:
- Fortes
- LeBlanc (branco)
- Brunet (moreno)
- Cruel (sim, existiu!)
4. Filiação ou linhagem
Aquele clássico “filho de alguém”:
- Johnson (filho de John)
- MacDonald (filho de Donald)
- Rodrigues (filho de Rodrigo)
- Fitzpatrick (filho de Patrick)
Nesse período, os sobrenomes ainda não eram fixos. Um João podia ser “João do Monte” numa geração e o filho dele “Pedro Rodrigues” (filho de Rodrigo), se resolvessem usar o nome do avô como referência.
E nas outras partes do mundo?
China
Aqui, os sobrenomes são milenares. Já por volta de 1000 a.C., as famílias nobres tinham nomes de clã fixos, registrados inclusive no Clássico dos Ritos. Ao contrário do Ocidente, o sobrenome vem antes do nome. Por exemplo: Li Bai (Li é o sobrenome, Bai é o nome).
Mundo árabe
A tradição árabe inclui estruturas como:
- Ibn (filho de): Ibn Sina = filho de Sina
- Al- (de um lugar): Al-Baghdadi = de Bagdá
Muitos desses nomes refletem origem, família e até profissão ou fé.
Japão
A adoção de sobrenomes para toda a população só aconteceu no fim do século XIX, com a Restauração Meiji. Antes disso, apenas nobres, samurais e famílias influentes usavam nomes familiares. Com a modernização do país, todo cidadão passou a ter um sobrenome — e o governo fez questão de registrar isso direitinho.
E no Brasil? Como os sobrenomes chegaram por aqui?
O sistema veio com os colonizadores portugueses. Na Península Ibérica, já havia séculos de uso de sobrenomes, principalmente entre as famílias nobres. No Brasil, o uso de sobrenome foi ganhando corpo conforme o país se organizava:
- Batismos (muito controlados pela Igreja)
- Registros de casamento
- Documentos de herança
- Cadastros civis com o Império
Além disso, ex-escravizados, indígenas e imigrantes passaram a adotar (ou foram obrigados a adotar) sobrenomes portugueses, ou até o sobrenome da família que os “registrava”. Por isso, temos tantos “Silva”, “Oliveira”, “Souza” e “Almeida” — comuns entre diferentes grupos sociais ao longo dos séculos.
Curiosidades sobre os sobrenomes
- Na Islândia, até hoje o sobrenome é baseado no nome do pai ou da mãe. Eriksson significa “filho de Erik”; Jónsdóttir é “filha de Jón”.
- Sobrenomes como “Silva” são tão comuns no Brasil que não indicam mais necessariamente uma família específica.
- A obrigatoriedade de sobrenome só passou a ser regra legal em muitos países a partir do século XIX.
Em resumo: como surgiram os sobrenomes?
✔ Os romanos já usavam um sistema completo — mas só elites tinham acesso.
✔ A Idade Média europeia transformou sobrenomes em ferramenta de organização pública.
✔ Culturas como China, Japão e mundo árabe já adotavam sistemas próprios há milênios.
✔ No Brasil, os sobrenomes foram herdados de Portugal e moldados pelas necessidades civis e religiosas.
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Alguns Sobrenomes Italianos e seus Significados
Rossi – Vem de rosso (“vermelho”), pode indicar alguém com cabelos ruivos.
Russo – Também relacionado à cor ruiva; comum no sul da Itália.
Ferrari – Deriva de fabbro (“ferreiro”); era quem trabalhava com ferro.
Esposito – Significa “exposto”; dado a crianças abandonadas.
Romano – Alguém de Roma ou descendente de romanos.
Bianchi – Do italiano bianco, “branco”; pode indicar cabelos claros ou pele clara.
Conti – Significa “conde”; pode ser ligado à nobreza ou à administração.
Ricci – Significa “encaracolado”; cabelo cacheado.
Gallo – Literalmente “galo”; pode se referir a uma característica de bravura.
Greco – Significa “grego”; alguém com origem ou aparência grega.
Moretti – Diminutivo de Moro (“moreno”); pessoa de pele escura ou cabelo preto.
Barbieri – Vem de barbeiro; profissão comum na Idade Média.
Costa – Pessoa que vivia próxima ao litoral ou em uma encosta.
Marino – Relativo ao mar; marinheiro ou pessoa costeira.
Lombardi – Natural da Lombardia, região do norte da Itália.
Vitale – Do latim Vitalis, “cheio de vida” ou “vital”.
De Luca – Significa “filho de Luca (Lucas)”.
De Angelis – “Dos anjos”; origem religiosa ou devocional.
Pellegrini – Significa “peregrino”; viajante em missão religiosa.
Silvestri – De silvestre, “da floresta”; pessoa do campo.
Rinaldi – Variante de Rinaldo, nome germânico que significa “governante sábio”.
Mancini – Literalmente “canhoto”; muitas vezes era uma alcunha.
Fiore – “Flor”; pode ter sido dado a pessoas delicadas ou belas.
Caruso – Significa “garoto” ou “aprendiz”; usado no sul da Itália.
Caputo – Do latim caput, “cabeça”; pode se referir a um líder.
Bernardi – De Bernardo, que significa “forte como um urso”.
Sartori – Deriva de sarto, “alfaiate”.
Parisi – De “Paris”; pode indicar origem francesa ou ligação com o nome.
Grelli – Diminutivo de Greco; associado ao estilo grego.
Fontana – Significa “fonte”; morador próximo a uma nascente de água.
Bianco – Literalmente “branco”; ligado à cor da pele ou do cabelo.
Donati – Significa “dado por Deus”; usado por filhos adotivos ou muito desejados.
Serra – De serra, cadeia de montanhas; pode ser toponímico.
Pugliese – Originário da Puglia (Apúlia), região no sudeste da Itália.
Bellini – Diminutivo de bello, “bonito”.
Grassi – Literalmente “gordo”; apelido físico.
Neri – Do italiano nero, “preto”; cabelos ou olhos escuros.
Caprioli – De capriolo, “cervo jovem”; ágil, veloz.
Fabbri – Plural de fabbro (“ferreiro”); família de ferreiros.
Gentile – Significa “gentil”, “educado”; ou ainda “pagão” em sentido antigo.
Romani – Variante de Romano; plural, indicando uma família romana.
Vitali – Outra forma plural de Vitale; linhagem relacionada à vida.
Luciani – De Luciano, nome que significa “luminoso”.
Monti – “Montanhas”; referência a alguém que vive ou vem de regiões montanhosas.
Ferretti – Diminutivo de Ferro ou derivado de ferreiro.
Giordano – De Jordão, nome de rio; também ligado ao batismo.
Mazza – Significa “maça”, uma arma medieval; pode indicar força ou profissão de guerreiro.
Sanna – Do sardo; significa “dente”; pode indicar dentição saliente ou apelido.
Orlando – Nome de origem germânica, famoso por heróis medievais; significa “fama de terra”.
Zanetti – Diminutivo de Zanetto, variante de Giovanni (João).
Alguns Sobrenomes Alemães e seus Significados
Müller – “Moleiro”; profissão de quem moe grãos em moinho.
Schmidt – Variante de Schmied, “ferreiro”; trabalhador do metal.
Schneider – Significa “alfaiate”; cortador de roupas.
Fischer – Literalmente “pescador”.
Weber – “Tecelão”; profissão muito comum na Alemanha medieval.
Meyer – Pode significar “administrador de terras” ou “capataz”.
Wagner – “Fabricante de carroças” ou “carreteiro”.
Becker – “Padeiro”; profissão essencial nas comunidades.
Hoffmann – “Homem da fazenda” ou “administrador de propriedade rural”.
Schäfer – Significa “pastor de ovelhas”.
Bauer – Literalmente “camponês”; agricultor.
Koch – “Cozinheiro”; profissão que virou sobrenome.
Richter – “Juiz”; pode indicar profissão ou autoridade local.
Klein – Significa “pequeno”; referência física ou ordem de nascimento.
Wolf – “Lobo”; pode ser símbolo de coragem ou nome derivado de Wolfgang.
Schwarz – “Preto”; cabelo escuro, pele ou roupas escuras.
Zimmermann – “Carpinteiro” ou “construtor de casas”.
Krüger – Dono de estalagem ou taverna; derivado de Krug (jarro).
Lange – Significa “alto”; pessoa de grande estatura.
Scholz – Antigo oficial do governo local, equivalente a “prefeito”.
Frank – Relacionado ao povo germânico dos Francos ou a alguém da região da Francônia.
Keller – “Guardião da adega”; responsável por vinhos e mantimentos.
Pfeiffer – “Flautista”; músico ou artista ambulante.
Seidel – Medida antiga de cerveja ou caneca; pode se referir a cervejeiros.
Voigt – Oficial de justiça ou administrador distrital.
Krause – “Cabelos cacheados” ou “encaracolados”.
Brunner – De Brunnen, “fonte” ou “poço”; alguém que vive perto de uma nascente.
Baumann – “Homem do campo”; agricultor ou morador rural.
Arnold – Sobrenome patronímico de origem germânica, “poder de águia”.
Hartmann – De hart (duro, forte) + mann (homem); “homem forte”.
Graf – “Conde”; título nobre alemão.
Kuhn – “Corajoso” ou “ousado”; usado como apelido.
Fuchs – “Raposa”; alguém astuto ou de cabelos ruivos.
Heinrich – Patronímico de Heinrich (Henrique); significa “governante da casa”.
Schuster – “Sapateiro”; profissão comum na Idade Média.
Dietrich – De Theodoric, “poder do povo”; nome de reis germânicos.
König – “Rei”; muitas vezes irônico ou figurativo.
Engel – “Anjo”; pode ter conotação religiosa ou simbólica.
Brandt – “Espada flamejante” ou “queimado”; ligado à batalha.
Wendt – Relacionado aos eslavos do norte (Wends); também pode indicar origem geográfica.
Hahn – “Galo”; símbolo de vigilância ou bravura.
Blum – De Blume, “flor”; pode indicar delicadeza ou proximidade com floristas.
Reinhardt – “Corajoso em conselho” ou “forte conselheiro”.
Stahl – “Aço”; simboliza força ou profissão ligada à metalurgia.
Albrecht – Significa “brilhante e nobre”; usado por nobres germânicos.
Maurer – “Pedreiro”; construtor de muros e casas.
Jäger – “Caçador”; profissão e símbolo de destreza.
Lorenz – Variante de Laurentius (Laurêncio); significa “coroado de louros”.
Urban – De urbanus, “urbano”, “civilizado”; pode indicar origem citadina.
Schlegel – Significa “martelo”; usado por ferreiros ou músicos (de percussão).
Alguns Sobrenomes Portugueses e seus Significados
Silva – Do latim silva, “floresta” ou “selva”; muito comum, ligado a terras cobertas por mato.
Santos – De origem religiosa, associado a “Todos os Santos” ou a crianças batizadas nesse dia.
Oliveira – Referência à árvore da oliveira; sobrenome toponímico.
Pereira – Relacionado à árvore da pera, ou seja, “lugar com pereiras”.
Costa – Toponímico, indica origem próxima ao mar ou uma encosta.
Sousa (ou Souza) – De um rio e região homônima em Portugal.
Almeida – Do árabe al-ma’ida, “a planície” ou “a mesa”; nome de uma localidade.
Fernandes – Patronímico: “filho de Fernando”.
Rodrigues – “Filho de Rodrigo”; muito comum entre famílias nobres.
Lima – De um rio em Portugal; ou de locais com o nome “Lima”.
Carvalho – Referência à árvore carvalho; símbolo de força e longevidade.
Martins – “Filho de Martim” (forma arcaica de Martinho).
Gonçalves – “Filho de Gonçalo”.
Barros – De “barro”, solo argiloso; pode indicar terreno ou vila com esse nome.
Lopes – “Filho de Lopo” (nome antigo, derivado do latim lupus, “lobo”).
Ribeiro – De ribeira, “riacho” ou “margem de rio”.
Freitas – De freixo ou fraxinus, árvore; também pode ser toponímico.
Teixeira – De teixo, árvore típica da Europa; também nome de lugares.
Andrade – Nome de uma freguesia no norte de Portugal.
Coelho – Literalmente “coelho”; pode ter origem toponímica ou como apelido.
Nogueira – Da árvore “nogueira” (de onde se colhe a noz); também nome de terras.
Araújo – Nome de uma região em Portugal; origem toponímica.
Figueiredo – Lugar com figueiras; sobrenome toponímico.
Moura – De mouro (muçulmano) ou da cidade de Moura, em Portugal.
Monteiro – De monte; pessoa que vivia ou trabalhava em regiões montanhosas.
Neves – De Nossa Senhora das Neves; sobrenome de origem religiosa.
Vieira – Do latim viera, tipo de molusco; também nome de localidades litorâneas.
Amaral – De “amarelo” ou do campo de amores-perfeitos; toponímico.
Pacheco – Sobrenome de origem nobre, ligado a famílias de origem espanhola.
Campos – “Campos” ou “terras cultivadas”; toponímico.
Baptista – Ligado a São João Batista ou a quem batizava; origem religiosa.
Cunha – De cunha, instrumento ou forma geográfica; também nome de lugar.
Lacerda – Sobrenome nobre vindo da região de Lacerda, na Galícia.
Castro – De castrum, “castelo” ou “fortificação”.
Peixoto – Diminutivo de peixe; possivelmente ligado à pesca.
Brandão – De “Brando”; pode significar gentil, suave, ou referência a local.
Galvão – De origem celta ou francesa (Galván); nome de cavaleiros.
Serpa – Cidade de Serpa, em Portugal; origem toponímica.
Esteves – “Filho de Estevão”.
Tavares – Variação de um nome de origem espanhola (Tábara), ou localidade portuguesa.
Queiroz – De queiroga, planta típica do campo; origem toponímica.
Faria – Nome de uma vila portuguesa; ou derivado de “faro”, de visão aguçada.
Guedes – De nome germânico; Wido ou Widoaldus.
Valente – Literalmente “valente”, corajoso; possivelmente apelido.
Seabra – De sea (mar) e bra (bravo); região costeira.
Corte-Real – Sobrenome nobre ligado à corte e à família de exploradores.
Duarte – Patronímico: “filho de Duarte” (versão portuguesa de Eduardo).
Barbosa – Planta do gênero barbosa ou localidade com esse nome.
Leal – Significa “fiel”, “leal”; usado como apelido ou por concessão régia.
Macedo – De Macedo de Cavaleiros, cidade portuguesa; origem toponímica.