Síndrome de Asperger ou Transtorno do espectro Autista? A mudança da nomenclatura e seus impactos

A terminologia em torno do autismo passou por transformações significativas ao longo dos anos.

Até 2013, a síndrome de Asperger era um termo amplamente utilizado para descrever pessoas com dificuldades na interação social, padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos, mas sem atraso cognitivo significativo.

No entanto, essa classificação deixou de existir de forma isolada com a publicação da quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), sendo substituída pelo conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA), categorizado por níveis de suporte.

Essa mudança gerou dúvidas e resistências, já que expressões populares como “autismo leve” ou “autismo de alta funcionalidade” continuam a ser amplamente utilizadas, apesar de não serem reconhecidas oficialmente.

Mas o que motivou essa reformulação na classificação do autismo e quais as implicações para o diagnóstico e suporte das pessoas dentro do espectro?

Desde 2013, a síndrome de Asperger foi incorporada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entenda por que a nomenclatura mudou, os impactos no diagnóstico e como isso afeta o suporte às pessoas autistas.

A síndrome de Asperger e sua transição para o TEA

A síndrome de Asperger foi descrita inicialmente pelo pediatra austríaco Hans Asperger em 1944, ao observar crianças com dificuldades de interação social e padrões comportamentais peculiares.

Apesar de a classificação ter se consolidado nas décadas seguintes, pesquisadores e especialistas perceberam que a separação entre Asperger e outros tipos de autismo era, na realidade, artificial.

Essa divisão causava barreiras no diagnóstico e na concessão de suporte, pois a linha entre os diferentes subtipos de autismo era muitas vezes subjetiva. Com o DSM-5, o conceito de espectro passou a englobar todos os indivíduos com características autistas, diferenciando-os não por tipos fixos, mas pelo nível de suporte necessário para suas atividades diárias.

Assim, o antigo Asperger passou a ser classificado como TEA de nível 1 de suporte, que engloba pessoas que precisam de pouco suporte para a vida cotidiana, mas ainda enfrentam desafios em interações sociais e flexibilização de rotina.

Mudanças na Classificação Internacional de Doenças (CID)

A Classificação Internacional de Doenças (CID), utilizada mundialmente para padronização de diagnósticos, seguiu uma trajetória semelhante.

Na CID-10, em vigor de 1993 a 2021, o autismo era classificado como um transtorno global do desenvolvimento, e a síndrome de Asperger aparecia como uma categoria separada. Com a adoção da CID-11, em janeiro de 2022, a classificação foi atualizada para alinhar-se ao conceito de espectro, unificando os subtipos em uma só nomenclatura: TEA.

Por que abandonar o termo “autismo leve”?

O termo “autismo leve” ainda é muito utilizado na sociedade, mas especialistas alertam que ele pode ser enganoso. O conceito de leve ou grave depende não apenas das características do indivíduo, mas também do contexto em que ele está inserido.

Uma pessoa com TEA nível 1 de suporte pode não apresentar dificuldades perceptíveis em situações estruturadas, mas enfrentar desafios significativos em ambientes mais dinâmicos e sociais, como no trabalho ou nas relações interpessoais.

Por outro lado, o termo “autismo de alta funcionalidade” também tem limitações, pois foca excessivamente no desempenho cognitivo sem levar em conta os desafios emocionais e sociais que podem ser tão impactantes quanto a capacidade intelectual.

Desde 2013, a síndrome de Asperger foi incorporada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entenda por que a nomenclatura mudou, os impactos no diagnóstico e como isso afeta o suporte às pessoas autistas.

Benefícios da nova abordagem

A unificação dos diagnósticos dentro do espectro autista trouxe diversas vantagens. Entre elas, está a possibilidade de um atendimento mais flexível e individualizado, que leva em consideração as especificidades de cada pessoa, em vez de encaixá-las em categorias fixas.

A nova classificação também facilita o acesso a intervenções, pois, antes, muitas pessoas diagnosticadas com Asperger enfrentavam dificuldades para obter apoio devido à percepção de que suas dificuldades não eram “graves o suficiente”.

Com a compreensão do TEA como um espectro, cada caso é avaliado individualmente, garantindo que o suporte seja adaptado às necessidades reais.

Como lidar com a mudança de terminologia?

Para muitos, a substituição do termo Asperger por TEA nível 1 pode ter sido desconfortável, principalmente para aqueles que se identificavam com a nomenclatura antiga.

No entanto, é importante compreender que a mudança não altera as experiências individuais, mas sim a forma como a condição é compreendida dentro da ciência e da sociedade.

Termos como “autismo leve” e “alta funcionalidade” ainda aparecem com frequência no discurso popular, e é natural que levem tempo para desaparecer. O mais importante é garantir que a abordagem ao TEA continue sendo baseada em compreensão, respeito e suporte adequado para cada indivíduo dentro do espectro.