O destemido Sinclair Lewis: dos livros polêmicos ao Nobel de Literatura

O primeiro americano a ser laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, Sinclair Lewis, permanece como um dos mais importantes cronistas da sociedade do século XX. Sua obra é marcada por uma abordagem incisiva, revelando as contradições do sonho americano e os dilemas que definiram seu tempo.

Nascido em 7 de fevereiro de 1885, em Sauk Centre, Minnesota, Harry Sinclair Lewis cresceu em uma pequena cidade que mais tarde inspiraria cenários de suas obras. Filho de um médico rural, Lewis desenvolveu desde cedo um fascínio pela leitura e pela observação do comportamento humano, habilidades que se tornariam centrais para sua carreira literária.

Apesar da tranquilidade aparente de sua cidade natal, o jovem Sinclair experimentava uma inquietação intelectual. Sua tentativa de fugir de casa aos 13 anos para se tornar missionário demonstra sua busca por algo maior, que mais tarde se manifestaria em sua literatura.

Lewis ingressou na Universidade de Yale, onde aprimorou suas habilidades de escrita trabalhando no jornal universitário e em revistas literárias. Depois de formado, ele atuou como jornalista e editor, explorando diferentes formatos antes de se dedicar integralmente à escrita de ficção.

Seu primeiro romance, Our Mr. Wrenn, publicado em 1914, não obteve grande repercussão, mas marcou o início de uma jornada literária que alcançaria o reconhecimento global com Main Street (1920). Esta obra, amplamente considerada um marco na literatura americana, expõe o conformismo e a mediocridade das pequenas cidades, temas que ressoaram profundamente com o público.

O auge com Main Street e Babbitt

Main Street é um retrato fiel e crítico da vida em pequenas comunidades, centrado na personagem Carol Kennicott, uma mulher que luta contra o provincianismo e a apatia de sua nova cidade. O sucesso imediato do livro transformou Sinclair Lewis em um nome conhecido, destacando-se por sua coragem em abordar temas tão controversos.

Dois anos depois, Lewis lançou Babbitt (1922), uma sátira brilhante sobre o materialismo e o conformismo da classe média americana. A narrativa segue George F. Babbitt, um corretor de imóveis preso à busca incessante por status e aprovação social. A obra não apenas reforçou a reputação de Lewis, mas também introduziu o termo “Babbitt” como uma descrição para pessoas excessivamente conformistas.

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Outras obras de destaque

Ao longo de sua carreira, Sinclair Lewis escreveu diversos romances que exploram aspectos cruciais da sociedade. Entre eles, destacam-se:

  • Arrowsmith (1925): Uma narrativa que examina a ética médica e científica por meio da jornada do protagonista Martin Arrowsmith. Apesar de ser premiado com o Prêmio Pulitzer, Lewis recusou a honraria, destacando sua aversão a instituições tradicionais.
  • Elmer Gantry (1927): Uma crítica à hipocrisia religiosa e à manipulação da fé. O livro gerou polêmica e foi banido em várias comunidades, mas consolidou Lewis como um escritor destemido.
  • Dodsworth (1929): Focado em questões de identidade e relações humanas, este romance explora as diferenças culturais entre os Estados Unidos e a Europa.
  • It Can’t Happen Here (1935): Um romance distópico que alerta para os perigos do autoritarismo nos Estados Unidos, mantendo-se incrivelmente relevante até os dias atuais.
  • Kingsblood Royal (1947): Uma obra pioneira em abordar o racismo, acompanhando um homem que descobre sua ascendência afro-americana e enfrenta preconceitos em sua comunidade.

O Nobel de Literatura

Em 1930, Sinclair Lewis recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se o primeiro americano a conquistar tal distinção. A Academia Sueca elogiou sua habilidade em criar personagens autênticos e explorar os paradoxos da sociedade americana. Em seu discurso de aceitação, Lewis destacou o papel vital da literatura na análise e compreensão da condição humana.

Embora sua popularidade tenha diminuído em comparação com contemporâneos como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, o impacto de Sinclair Lewis é inegável. Ele foi pioneiro em usar a ficção como ferramenta de crítica social, explorando temas que ainda são relevantes.

Sua capacidade de expor os aspectos mais sombrios do comportamento humano com humor e empatia garante que suas obras continuem a ser estudadas e admiradas. Mais do que um escritor, Sinclair Lewis foi um observador perspicaz de sua época, cujas contribuições à literatura transcendem o tempo.

Sinclair Lewis capturou como poucos as nuances e contradições da sociedade americana. Seus romances não apenas refletem a realidade de sua época, mas também oferecem uma janela para compreendermos nossa própria. Ao explorar o materialismo, o conformismo e as questões éticas, ele nos convida a refletir sobre os valores que moldam o mundo em que vivemos. Sua obra é um testemunho do poder da literatura em provocar e transformar.

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