A situação política em Bangladesh voltou a ganhar destaque internacional após a condenação da ex-primeira-ministra Sheikh Hasina à pena de morte por crimes contra a humanidade. O veredito, anunciado pelo Tribunal de Crimes Internacionais em Daca, conclui um longo processo judicial que examinou a repressão violenta aos protestos estudantis de 2024. A decisão, de enorme impacto político e social, reacende tensões às vésperas das eleições parlamentares previstas para 2026.
Hasina, que governou o país por quatro mandatos e exerceu influência determinante na política nacional por mais de uma década, fugiu para a Índia em 2024 e não compareceu à audiência. Apesar de condenada, ela ainda tem direito de recorrer à Suprema Corte.
Julgamento aponta ordens diretas para repressão letal
A sentença foi proferida após meses de depoimentos, análise de documentos e testemunhos de familiares de vítimas. Segundo o juiz Golam Mortuza Mozumder, todos os elementos necessários para caracterizar crimes contra a humanidade foram comprovados.
Promotores argumentaram que Hasina teria autorizado diretamente o uso de força letal contra jovens que protestavam contra um sistema de cotas considerado discriminatório. As manifestações da chamada “Geração Z” ocorreram entre julho e agosto de 2024 e se tornaram o episódio mais sangrento desde a guerra de independência, em 1971.
Estimativas da ONU apontam que mais de mil pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas durante semanas de confrontos em todo o país.
Defesa fala em perseguição política
A defesa da ex-primeira-ministra, conduzida por um advogado designado pelo Estado, classificou as acusações como motivadas politicamente. A equipe argumentou que Hasina não teve acesso a condições legais mínimas para montar uma defesa adequada.
De seu exílio na Índia, Hasina reagiu ao veredito com uma nota afirmando que o julgamento “carece de fundamento jurídico” e que nunca ordenou ataques contra civis. Para ela, a violência se agravou porque o governo “perdeu o controle da situação”, e não por uma ação premeditada.
Crise aumenta antes das eleições de 2026
O caso amplia o clima de instabilidade às portas das eleições parlamentares. O partido de Hasina, a Liga Awami, foi impedido de participar do pleito, o que já gerava tensões com a oposição e organismos internacionais.
O filho de Hasina, Sajeeb Wazed, afirmou à Reuters que a família não pretende recorrer da decisão até que “haja um governo legitimamente eleito no país”, sinalizando que a crise política pode se prolongar.
A onda de protestos que levou à queda de Hasina começou com a contestação do sistema de cotas em cargos públicos. A política reservava um terço das vagas a familiares de veteranos da guerra de independência, o que gerou indignação entre jovens desempregados que viam o modelo como desigual.
As manifestações rapidamente tomaram as ruas das principais cidades do país. Entre 15 de julho e 5 de agosto de 2024, estudantes, trabalhadores e membros da sociedade civil enfrentaram tropas de segurança que utilizavam munição real, gás lacrimogêneo e prisões em massa.
Para observadores internacionais, a violência representou um divisor de águas para a democracia em Bangladesh, que já enfrentava críticas por restringir liberdades políticas e reprimir opositores.
A condenação de Sheikh Hasina tem potencial para redefinir o cenário político de Bangladesh. Apesar do júri considerar as provas suficientes para responsabilizá-la, o debate público segue polarizado entre apoiadores da ex-líder e setores que exigem responsabilização pelas mortes.
Organizações internacionais, incluindo a ONU, acompanham o caso de perto, alertando para os riscos de novos protestos, repressões e instabilidade institucional.
Com eleições se aproximando e tensões acumuladas, Bangladesh enfrenta um dos períodos mais desafiadores de sua história recente, dividindo opiniões sobre justiça, política e democracia.
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