Um texto escrito a mão intrigante, do século 17 e antigamente atribuído ao pai do famoso poeta e autor de peças de teatro, William Shakespeare, surpreendeu os pesquisadores ao ser identificado como obra de sua irmã até então desconhecida, Joan.
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A descoberta, divulgada em um artigo recente na revista Shakespeare Quarterly, lança nova luz sobre a vida e o legado da família Shakespeare. O texto em questão, um tratado religioso, revela-se como um testemunho corajoso da fé católica de Joan em uma época de intensa perseguição religiosa na Inglaterra.
No auge da Reforma Protestante, quando os católicos enfrentavam perseguições e até mesmo a morte por sua fé, Joan Shakespeare comprometeu-se em seu manuscrito a manter uma morte fiel ao catolicismo, mesmo em face das adversidades.
O manuscrito foi descoberto em 1770 por um pedreiro, escondido entre as vigas da casa da família Shakespeare em Stratford-upon-Avon. Inicialmente, acreditava-se que o documento pertencia a John Shakespeare, pai de William, mas uma reavaliação recente por parte de especialistas revelou sua verdadeira autoria.
Matthew Steggle, professor do Departamento de Inglês da Universidade de Bristol, conduziu uma investigação minuciosa, utilizando recursos como o Google Livros e bancos de dados online, para determinar a origem do texto. Ele demonstrou que o manuscrito era na verdade uma tradução do livro italiano “O Último Testamento da Alma”, atribuído a Joan Shakespeare.
Como era a vida da irmã de Shakespeare?
Nascida cinco anos após seu célebre irmão William, Joan passou toda a sua vida em Stratford-upon-Avon. Pouco se sabe sobre sua vida, exceto que se casou com um comerciante de recursos modestos e teve quatro filhos. Ela viveu até os 77 anos, sendo a única parente viva de William nos últimos anos de sua vida, além de sua esposa e filhas.
Apesar da escassez de registros sobre Joan, sua presença é agora reconhecida como significativa, não apenas como a irmã de um gênio literário, mas como uma voz importante da época. Como observa Steggle, “Virginia Woolf escreveu um ensaio famoso, ‘A irmã de Shakespeare’, sobre como uma figura como ela nunca poderia esperar ser uma escritora ou ter sua escrita preservada, então ela se tornou um símbolo para todas as vozes perdidas das mulheres do início da era moderna”.
O documento escrito por Joan apresenta uma referência intrigante à Santa Winifred, uma figura histórica do século 7 que sobreviveu à decapitação por um pretendente descontente e fundou um convento. Esta referência sugere uma devoção especial de Joan à santa, acrescentando uma camada de complexidade e significado ao seu testemunho religioso.
No trecho traduzido do manuscrito, Joan expressa sua devoção à Virgem Maria e a outros santos, incluindo a mencionada Santa Winifred, invocando sua presença na hora da morte e confiando sua alma aos cuidados divinos.
A descoberta deste manuscrito único não apenas enriquece nossa compreensão da vida e das crenças de Joan, mas também nos lembra da importância de reconhecer e preservar as vozes silenciadas da história. Em um tempo em que as mulheres raramente eram reconhecidas por suas contribuições intelectuais, Joan emerge como uma figura notável e inspiradora.
Quem foi William Shakespeare?
William Shakespeare foi um dos mais renomados dramaturgos e poetas da literatura inglesa. Ele nasceu em Stratford-upon-Avon, Inglaterra, em 1564, e faleceu em 1616. Shakespeare é amplamente reconhecido por suas peças teatrais, que abrangem uma variedade de gêneros, incluindo tragédia, comédia, romance e história. Suas obras, como “Romeu e Julieta”, “Hamlet”, “Macbeth”, “Otelo” e “Rei Lear”, entre outras, continuam a ser representadas nos palcos do mundo todo e estudadas em instituições educacionais. Além de suas habilidades como dramaturgo, Shakespeare também é celebrado por sua maestria na linguagem e na construção de personagens complexos e multifacetados. Sua influência na literatura e na cultura ocidental é imensurável, tornando-o uma figura icônica e atemporal.
Conclusão
A descoberta do manuscrito atribuído a Joan Shakespeare, irmã até então desconhecida do famoso dramaturgo William Shakespeare, acrescenta uma dimensão fascinante à compreensão de sua família e de seu contexto histórico.
Esse achado revela não apenas a existência de uma voz feminina significativa na vida do renomado escritor, mas também destaca a importância de reconhecer e preservar as contribuições das mulheres na história, especialmente em períodos onde suas vozes eram frequentemente silenciadas.
Através da análise desse documento, somos convidados a reconsiderar a narrativa tradicionalmente centrada em figuras masculinas como William, e a reconhecer a riqueza e diversidade das experiências e perspectivas das mulheres no passado.
Assim, a história de Joan não apenas enriquece nossa compreensão da vida e do legado de seu famoso irmão, mas também nos lembra da importância de dar voz às mulheres cujas contribuições muitas vezes foram negligenciadas ou esquecidas.