No imaginário popular, os samurais são vistos como guerreiros implacáveis, mestres no combate corpo a corpo e guardiões rigorosos da honra. Contudo, por trás das armaduras e das espadas afiadas, existia uma faceta inesperada e fascinante: muitos samurais eram também poetas talentosos. Em meio às guerras e códigos rígidos, a escrita poética florescia como um exercício de equilíbrio emocional e de expressão espiritual. Afinal, o mesmo guerreiro que defendia seu clã com bravura à luz do dia podia dedicar a noite à contemplação da lua, do vento e da vida que passa como um relâmpago.
Essa convivência entre força e sensibilidade não era vista como contradição, mas como parte essencial do caminho do guerreiro — o bushidō — que prezava pelo autocontrole, pela beleza do instante e pela busca constante de aperfeiçoamento.
A união entre espada e pincel
Poemas, principalmente os de formato haiku e waka, eram uma forma de cultivar a mente e fortalecer o espírito. A poesia servia para refletir sobre a impermanência do mundo, a sabedoria da natureza e a aceitação do destino. Escrever era um exercício tão disciplinado quanto manejar a katana. O pincel se tornava uma extensão da alma, assim como a espada era do corpo.
Para muitos samurais, a habilidade artística era prova de refinamento e honra. Demonstrava que, mesmo diante da violência inevitável da guerra, havia espaço para sensibilidade e introspecção.
Poesia antes da batalha
Um dos usos mais simbólicos da poesia na cultura samurai era a composição de versos antes de partir para o conflito — e até mesmo antes da morte. Chamados de jisei, os poemas finais registravam reflexões derradeiras, muitas vezes revelando uma serenidade surpreendente diante do fim iminente. Era como se o guerreiro, ao escrever, já aceitasse seu destino com coragem e lucidez.

Um exemplo famoso é o do samurai Minamoto Yorimasa, que antes de cometer seppuku escreveu:
Como um tronco velho
deixado pela tempestade,
eu descanso agora.
Mesmo no adeus, a poesia preservava a dignidade do guerreiro.
Mestres das letras e da guerra
Entre os samurais-poetas mais célebres está Matsuo Bashō, considerado o maior mestre do haiku. Embora não fosse um samurai de combate ativo, ele pertencia à classe dos guerreiros e trouxe para a literatura o olhar contemplativo desses homens disciplinados. Outros, como Taira Tadanori, lutaram em batalhas históricas e também deixaram versos que atravessaram séculos.
Esses autores mostraram que o verdadeiro poder não estava apenas na força física, mas na capacidade de compreender a beleza sutil do mundo — até mesmo em tempos de violência.
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