Os segredos dos povos da antiguidade estão sendo revelados em diversos lugares do mundo, apresentando culturas e monumentos impressionantes, de civilizações antigas complexas e evoluídas, muitas vezes além do que se imaginava.
A descoberta de uma cidade maia de 3 mil anos, batizada de Los Abuelos, no departamento de Petén, na Guatemala, está chamando a atenção do mundo e reconfigurando a compreensão sobre a complexidade das antigas civilizações mesoamericanas. O anúncio feito pelo Ministério da Cultura da Guatemala, na última quinta-feira, 29, marca um ponto de virada na arqueologia regional, ao trazer à luz vestígios de um centro cerimonial sofisticado e monumental, datado do período Pré-clássico Médio, aproximadamente entre 800 e 500 a.C.
O nome Los Abuelos — que significa “Os Avós”, em espanhol — foi inspirado em duas esculturas antropomórficas que representam um casal ancestral, esculpidas entre 500 e 300 a.C. Essas figuras são testemunhas silenciosas de práticas rituais ligadas ao culto aos antepassados, e o próprio nome evoca uma reverência às raízes profundas da cultura maia. Os detalhes revelados até agora transformam o sítio em um enigma fascinante para arqueólogos e curiosos.
Uma cidade monumental e sua importância na Mesoamérica
Localizado a apenas 21 km do célebre sítio arqueológico de Uaxactun, Los Abuelos apresenta uma área impressionante de 16 km². A extensão e o planejamento arquitetônico do local são dignos de nota: há pirâmides imponentes, monumentos esculpidos com iconografia peculiar e um sistema hidráulico que evidencia a inteligência prática e simbólica de seus habitantes. Uma das pirâmides chega a 33 metros de altura, adornada com murais que datam do mesmo período. Um verdadeiro feito para a época e uma janela aberta para a espiritualidade e a engenharia maia.
Segundo especialistas guatemaltecos e eslovacos envolvidos no projeto, o local não está isolado em sua grandiosidade. A cidade faz parte de um “triângulo urbano” recém-identificado, que se conecta a outros dois sítios até então desconhecidos. Esse novo alinhamento geográfico e cultural pode levar a uma reinterpretação da organização cerimonial e sociopolítica do Petén pré-colombiano, provocando uma revisão substancial na forma como os estudiosos enxergam a evolução da civilização maia.
Os desafios e as promessas das novas escavações
O terreno em que Los Abuelos repousa estava praticamente inexplorado, guardado sob a vegetação densa do parque de Uaxactun. A parceria entre arqueólogos guatemaltecos e eslovacos foi fundamental para superar as dificuldades logísticas e iniciar as escavações que agora trazem à tona essa joia arqueológica. A equipe de pesquisa relatou ao jornal britânico The Guardian que a descoberta de Los Abuelos é comparável em importância a outras grandes revelações da arqueologia maia nas últimas décadas.
Além das esculturas do “casal ancestral” e das pirâmides, há registros de murais vívidos e elementos arquitetônicos que indicam a complexidade cerimonial do sítio. Esses detalhes sugerem que a cidade foi um polo de poder e espiritualidade, onde a elite maia e a população em geral participavam de rituais de devoção e conexão com os antepassados.
A descoberta também reforça uma ideia instigante: que as cidades maias não estavam isoladas, mas conectadas por rotas comerciais, simbólicas e políticas. Essa teia de relações era tão intrincada quanto as próprias estruturas monumentais que hoje desafiam arqueólogos e historiadores a decifrar seus significados.
A descoberta de abril e a conexão mesoamericana
A revelação de Los Abuelos surge apenas semanas após outro achado significativo na região: em abril, arqueólogos descobriram um altar de 1.000 anos da cultura de Teotihuacán em Tikal, outro sítio emblemático do Petén. Essa conexão entre Tikal e Teotihuacán — separadas por mais de 1.300 km — sugere que as civilizações mesoamericanas mantinham relações muito mais complexas e integradas do que se pensava.
Tikal, que fica a apenas 23 km de Uaxactun, hoje é o principal sítio arqueológico da Guatemala e atrai milhares de turistas interessados em desvendar os mistérios do passado maia. A descoberta em Los Abuelos amplia ainda mais o escopo dessas conexões e adiciona novas camadas de complexidade à tapeçaria cultural da Mesoamérica.
À medida que as escavações avançam e novas análises são conduzidas, Los Abuelos promete se consolidar como uma peça-chave no quebra-cabeça da história maia. Suas estruturas monumentais e esculturas evocam uma época de esplendor e conexão espiritual, em que a arquitetura e a arte se entrelaçavam com a religiosidade e a política.
Essa descoberta é um convite para revisitar as narrativas sobre o mundo maia e redescobrir a engenhosidade, a resiliência e a sabedoria de um povo que, mesmo após milênios, continua a nos fascinar.