Durante escavações no fundo do mar da Antártida Ocidental, uma equipe de pesquisadores da Alemanha e Reino Unido identificou resquícios de um antigo sistema de água doce que fluía por quase 1.500 km no continente glacial.
Esta descoberta, publicada na revista Science Advances, lança uma nova luz sobre a história geológica da Terra e oferece insights cruciais sobre as mudanças climáticas passadas e futuras.
Em uma missão de escavação no fundo do mar da Antártida Ocidental, uma equipe de cientistas fez uma descoberta surpreendente. Ao perfurar quase 30 metros nas águas geladas, os pesquisadores recuperaram sedimentos que revelaram a existência de um antigo sistema fluvial que atravessava o continente glacial. Esta descoberta é particularmente notável porque a maior parte da Antártida é coberta por gelo, dificultando o acesso a rochas e outros materiais que possam oferecer pistas sobre a história geológica da região.
Os sedimentos recuperados mostraram camadas de dois períodos distintos. A parte inferior se formou durante o período Cretáceo médio, há cerca de 85 milhões de anos, e continha fósseis, esporos e pólens característicos de uma floresta tropical temperada. A parte superior datava do Eoceno, entre 34 e 44 milhões de anos atrás, e continha principalmente areia.
Ao analisar a proporção de elementos radioativos como urânio e chumbo nos sedimentos, os cientistas conseguiram datar as camadas com precisão. Esta análise revelou que, durante o Eoceno, a atmosfera da Terra passou por uma transformação drástica, com níveis de dióxido de carbono (CO2) despencando e desencadeando um resfriamento global que levou à formação das primeiras geleiras do planeta.
Após uma inspeção mais detalhada dos sedimentos, os pesquisadores identificaram padrões que lembravam os encontrados nos deltas de rios. Isso levou a equipe a buscar por traços de lipídios e açúcares, revelando a presença de uma molécula única comumente encontrada em cianobactérias de água doce. Esta descoberta confirmou as suspeitas de que um antigo rio passava pela região, fluindo por cerca de 1.500 km antes de desaguar no Mar de Amundsen.
A descoberta de um antigo sistema fluvial na Antártida oferece uma visão fascinante sobre o passado climático da Terra. “É emocionante imaginar que um gigantesco sistema fluvial está coberto por quilômetros de gelo”, afirma Johann Klages, coautor do estudo. Além de fornecer um vislumbre do passado, esta descoberta também tem implicações importantes para nosso entendimento das mudanças climáticas futuras.
Durante o Eoceno tardio, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera eram quase o dobro dos atuais. No entanto, as projeções indicam que, com o ritmo insustentável de desenvolvimento atual, esses níveis podem ser atingidos novamente em até 200 anos. Entender como a Terra respondeu a essas mudanças no passado pode nos ajudar a prever e mitigar os impactos das mudanças climáticas no futuro.
Para ampliar ainda mais o conhecimento sobre a história climática da Antártida, os cientistas estão agora analisando sedimentos do núcleo que datam do período Oligoceno-Mioceno, há cerca de 23 milhões de anos. A esperança é que esses estudos ajudem a refinar os modelos climáticos e a prever o clima futuro com maior precisão.
A descoberta do antigo sistema fluvial sob o gelo da Antártida é um marco significativo na ciência climática e geológica. Não apenas nos oferece uma janela para a história antiga da Terra, mas também nos fornece ferramentas valiosas para entender as mudanças climáticas atuais e futuras.
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