Pesquisadores descobrem restos mortais de humanos arcaicos com 850.000 anos

A Sierra de Atapuerca, localizada na província de Burgos, no norte da Espanha, é um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo para o estudo da evolução humana.

Recentemente, escavações no famoso sítio de Gran Dolina revelaram uma descoberta extraordinária: restos mortais de um indivíduo da espécie Homo antecessor, datados de aproximadamente 850.000 anos.

Durante a temporada de escavações de 2024, uma equipe de pesquisadores do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES) encontrou restos mortais de um Homo antecessor na unidade TD6 de Gran Dolina. Os achados incluíram vários fragmentos de crânio, dois fragmentos de mandíbula, vértebras, um osso do pulso e um incisivo. A análise dos restos indicou que pertenciam a uma fêmea de aproximadamente 25 anos que viveu há cerca de 850.000 anos, durante o Pleistoceno Inferior.

Essa descoberta é particularmente significativa, pois quase 90% da planta original da estrutura onde os restos foram encontrados permanece intacta. Isso permite aos cientistas estudar detalhadamente as condições ambientais e as práticas culturais dos hominídeos que ali viveram.

O Homo antecessor, cujo nome significa “homem pioneiro” em latim, é uma espécie de hominídeo que viveu na Terra entre 1,2 milhões e 800.000 anos atrás. Foi identificado como uma espécie distinta em 1997, após a descoberta inicial na Gran Dolina em 1994. Durante algum tempo, foi considerado o último ancestral comum dos humanos modernos e dos neandertais. No entanto, pesquisas mais recentes sugerem que o Homo antecessor foi um desdobramento da linha evolutiva humana moderna, desenvolvendo-se pouco antes da separação entre humanos modernos e neandertais.

As escavações em Atapuerca começaram no início dos anos 1990, lideradas pelos paleoantropólogos espanhóis Jose Maria Bermudez, Eudald Carbonell e Juan Luis Arsuaga. Em 1994, eles descobriram aproximadamente 170 peças esqueléticas de Homo antecessor, junto com ferramentas de pedra antigas. Descobertas subsequentes trouxeram à luz mais ferramentas e cerca de 70 peças esqueléticas adicionais, reforçando a importância do sítio de Gran Dolina para a compreensão da pré-história europeia.

As ferramentas de pedra encontradas junto com os fósseis de Homo antecessor correspondem a artefatos encontrados em vários outros sítios arqueológicos na Europa Ocidental. No entanto, a ausência de fósseis de hominídeos nesses locais torna difícil confirmar que as ferramentas foram feitas pelo Homo antecessor.

Em 2014, pegadas de aproximadamente um milhão de anos foram descobertas em Happisburgh, Inglaterra, e acredita-se que pertençam ao Homo antecessor, embora a ausência de fósseis concretos impeça uma confirmação definitiva.

A temporada de escavações de 2024 em Atapuerca foi intensiva, envolvendo mais de 300 pesquisadores de várias disciplinas de todo o mundo. Além de Gran Dolina, escavações foram realizadas em outros sítios como Sima del Elefante, Galeria, Cueva Fantasma e El Mirador, revelando uma rica coleção de artefatos e restos que abrangem diferentes períodos da pré-história.

Na Sima del Elefante, foram encontrados uma ferramenta de quartzo e um osso de costela de herbívoro com sinais de terem sido massacrados, datando de 1,2 a 1,4 milhões de anos. Na Galeria, aproximadamente 500 ossos de animais e 30 ferramentas de pedra antigas foram recuperados, datando de cerca de 300.000 anos.

Na Cueva Fantasma, sinais de ocupação neandertal foram descobertos, incluindo ferramentas de pedra e ossos de animais. Na caverna El Mirador, artefatos neolíticos e evidências de arte rupestre antiga, como um bloco de pedra coberto com pigmento vermelho e uma peça de cerâmica decorada com imagens do Sol, foram encontrados, sugerindo que comunidades agrícolas antigas estavam estabelecidas na região há cerca de 7.000 anos.

A descoberta do Homo antecessor em Gran Dolina é um marco na pesquisa sobre a evolução humana. Ela fornece evidências cruciais sobre a presença e as características dos primeiros hominídeos na Europa Ocidental, ajudando a traçar um quadro mais completo da migração e desenvolvimento das espécies humanas. As escavações em Atapuerca mostram que a região foi habitada por um longo período, tornando-se um microcosmo valioso para estudar a evolução física, social e cultural humana.

As descobertas em Atapuerca continuarão a ser objeto de intenso estudo e escrutínio. A riqueza de artefatos e fósseis encontrados até agora promete proporcionar mais insights sobre a vida dos primeiros hominídeos e suas interações com o meio ambiente.

A colaboração internacional de pesquisadores garante que novas técnicas e tecnologias sejam aplicadas na análise desses achados, expandindo nosso entendimento sobre a evolução humana.

Leia mais: