Quando pensamos em múmias egípcias, a imagem que geralmente nos vem à mente é a de corpos envoltos em bandagens antigas, guardados há milênios em sarcófagos sagrados. Mas e quanto ao cheiro dessas relíquias do passado? Um estudo recente revelou que, surpreendentemente, o aroma das múmias pode ser muito mais agradável do que se imaginava.
Aromas que contam nas histórias
Um grupo de pesquisadores do Reino Unido e da Eslovênia conduziu uma análise olfativa inédita em múmias do Museu do Cairo, no Egito. Entre os achados, os cientistas identificaram notas amadeiradas, picantes, doces e até florais. Isso porque o processo de embalsamamento utilizava uma variedade de substâncias aromáticas, como resinas de pinho e zimbro, ceras e bálsamos.
Os odores não eram apenas uma questão estética; eles tinham um papel simbólico e espiritual. No Antigo Egito, os cheiros agradáveis estavam associados à pureza e à preservação do corpo para a vida após a morte, enquanto o fedor da decomposição era visto como sinal de corrupção. Os sacerdotes responsáveis pela mumificação empregavam óleos e unguentos para garantir que os corpos estivessem preparados para a eternidade.
O estudo foi publicado no Journal of the American Chemical Society e envolveu a avaliação de nove múmias de períodos distintos, desde o Novo Império (por volta de 20 a.C.) até o final do período romano (séculos III e IV d.C.).
Os pesquisadores usaram técnicas não invasivas para captar e analisar as moléculas aromáticas liberadas pelos sarcófagos, sem comprometer a integridade das múmias. Diferentemente do que se temia, não foram encontrados sinais de odores relacionados à decomposição microbiana, o que sugere um ambiente altamente controlado de preservação dentro do museu.
Os quatro perfis aromáticos das múmias
Os cientistas agruparam os odores detectados em quatro categorias:
- Ingredientes de embalsamamento – Óleos, ceras e unguentos usados no processo de mumificação.
- Óleos vegetais modernos – Substâncias aplicadas por conservadores de museus para evitar deterioração.
- Pesticidas sintéticos – Como a naftalina, usados para proteção contra insetos.
- Degradação microbiana – Odores resultantes da ação de fungos e bactérias nas tumbas e sarcófagos.
Os pesquisadores agora trabalham para recriar esses perfumes ancestrais e disponibilizá-los em museus. A ideia é oferecer uma experiência mais imersiva aos visitantes, permitindo que eles sintam o cheiro exato dos materiais usados na mumificação.
Segundo a pesquisadora Cecilia Bembibre, “Observar os corpos mumificados através de uma caixa de vidro reduz a experiência porque não conseguimos sentir o cheiro deles. O olfato é uma forma fundamental de nos conectarmos com o passado”.
Uma iniciativa semelhante foi realizada há dois anos no Museu Moesgård, na Dinamarca, onde um “perfume arqueológico” foi criado a partir do cheiro de um jarro contendo órgãos mumificados.
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Conclusão
O estudo mostra que as múmias egípcias não têm o cheiro desagradável que muitos imaginam. Pelo contrário, suas fragrâncias refletem um meticuloso trabalho de preservação que combinava ciência e espiritualidade. Em um futuro próximo, poderemos sentir essas essências em museus, tornando nossa compreensão da mumificação ainda mais sensorial e envolvente.