No último domingo, 3 de novembro, mais de 3,1 milhões de estudantes em todo o Brasil participaram do primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. Os candidatos resolveram 90 questões, distribuídas entre linguagens e ciências humanas, e tiveram a oportunidade de expressar seu pensamento crítico na redação, cujo tema foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.
A proposta trouxe à tona a necessidade de refletir sobre o legado africano na cultura, na história e na identidade brasileira, além dos obstáculos que o país enfrenta para garantir o reconhecimento e a valorização desse patrimônio cultural.
A escolha do tema da redação foi bem recebida por especialistas e educadores, que destacaram a relevância do assunto para o momento atual. A herança africana desempenha um papel fundamental na formação cultural e social do Brasil, influenciando a música, a culinária, as tradições e o vocabulário do país.
No entanto, o reconhecimento e a valorização dessa herança enfrentam diversos desafios, desde o racismo estrutural até a falta de representatividade nos currículos escolares.
Segundo a professora de história e sociologia Luana Mendes, de Salvador, o tema é de extrema importância para os jovens, pois traz uma reflexão sobre a pluralidade cultural do Brasil e permite que os candidatos considerem como o preconceito e a exclusão social impactam o reconhecimento dessa herança.
“Ao abordar esse tema, o Enem incentiva os jovens a pensarem sobre o papel da história africana na construção da sociedade brasileira, algo essencial para o desenvolvimento de uma consciência cidadã”, afirmou a professora.
A redação do Enem exige que os estudantes não apenas discorram sobre o tema proposto, mas que também apresentem uma proposta de intervenção social, detalhando ações que podem ser implementadas para lidar com o problema. Diante do tema deste ano, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, os candidatos tiveram que argumentar sobre as barreiras enfrentadas para reconhecer e valorizar as influências africanas, além de sugerirem medidas práticas para promover essa valorização.
As propostas de intervenção poderiam incluir a inclusão de disciplinas que abordem a história e cultura africanas no ensino básico, campanhas de conscientização para combater o racismo e a ampliação de programas culturais que promovam o conhecimento da herança africana. Para desenvolver essas ideias, os candidatos precisaram demonstrar conhecimento histórico, habilidades de argumentação e, principalmente, sensibilidade para lidar com temas de impacto social.
Além da redação, o primeiro dia de provas do Enem 2024 trouxe 90 questões objetivas nas áreas de linguagens e ciências humanas. As questões de linguagens avaliaram habilidades como interpretação de texto, gramática e análise literária, enquanto as questões de ciências humanas abordaram temas de história, geografia, filosofia e sociologia.
Em ambas as áreas, o exame procurou explorar a capacidade dos estudantes de relacionar conhecimentos específicos com temas contemporâneos, promovendo uma visão crítica e abrangente dos temas apresentados.
Entre as questões de ciências humanas, os alunos relataram questões que exploraram temas como movimentos sociais, a importância da democracia e a formação da identidade brasileira. Já em linguagens, a interpretação de textos variados, incluindo textos literários, publicitários e jornalísticos, exigiu atenção dos candidatos, que precisaram identificar nuances e mensagens implícitas em diferentes estilos textuais.
Ao escolher a valorização da herança africana como tema, o Enem 2024 proporcionou aos candidatos a chance de refletirem sobre a rica contribuição dos africanos e seus descendentes para a formação da cultura brasileira. A herança africana está presente em elementos da música, como o samba e o maracatu; na culinária, com pratos típicos como a feijoada e o acarajé; na religião, com o candomblé e a umbanda; e na linguagem, com diversas expressões e palavras de origem africana incorporadas ao português brasileiro.
Esses aspectos são apenas parte de um legado cultural profundo e diverso que, no entanto, nem sempre é valorizado como merece. A marginalização das comunidades afro-brasileiras e a perpetuação de estereótipos negativos ainda são obstáculos para o reconhecimento pleno da importância dessa herança no Brasil. Nesse sentido, o tema da redação do Enem destaca a importância de superar esses desafios para que o país se aproxime de uma visão mais inclusiva e justa de sua própria história.
Para muitos especialistas, um dos principais desafios para valorizar a herança africana no Brasil é o racismo estrutural, presente nas instituições e nas práticas sociais, que ainda limita as oportunidades de inclusão e reconhecimento das culturas afrodescendentes. Esse racismo se manifesta em diferentes formas, desde a exclusão econômica e social até a invisibilização de personagens históricos afro-brasileiros nos livros didáticos.
Outro desafio é a falta de representatividade nas escolas e nos meios de comunicação. A história africana e afro-brasileira, apesar de ser parte fundamental da formação do Brasil, é muitas vezes negligenciada nos currículos escolares, o que gera uma lacuna na formação dos jovens e limita o conhecimento sobre essa herança. A inclusão de conteúdos que abordem a história e a cultura africanas no ensino básico pode ser uma medida importante para promover uma educação mais inclusiva e informada.
As possíveis propostas para valorizar a herança africana no Brasil incluem tanto ações educativas quanto medidas culturais e políticas. Uma das sugestões mais comuns é a ampliação de programas que incentivem a difusão do conhecimento sobre a cultura africana e afro-brasileira, tanto nas escolas quanto em eventos públicos. Isso inclui festivais culturais, exposições e projetos de educação patrimonial que explorem a história africana no Brasil.
Outra proposta relevante é o fortalecimento de políticas públicas de combate ao racismo e de apoio a iniciativas culturais voltadas para a promoção da identidade afro-brasileira. Campanhas de conscientização em redes sociais, debates públicos e programas de incentivo a artistas e produtores culturais afro-brasileiros são exemplos de ações que podem contribuir para a valorização e preservação desse legado.
A escolha do tema da redação do Enem 2024 foi bem recebida por muitos estudantes e educadores, que elogiaram a relevância da proposta para a formação cidadã e a importância de promover discussões sobre inclusão e diversidade cultural. Em diversos locais do Brasil, professores de redação e de história comentaram a pertinência do tema, enfatizando como ele estimula os jovens a refletirem sobre a pluralidade e a riqueza da identidade brasileira.
Estudantes de diferentes regiões expressaram que, embora o tema possa ter surpreendido alguns, é um assunto extremamente atual e que precisa ser discutido. “É muito bom ver o Enem trazendo um tema que nos faz pensar sobre o valor das culturas que formaram o Brasil. Não foi fácil escrever sobre isso, mas acho que aprendi muito”, disse João, um estudante de Minas Gerais que fez o exame.