Produtores de Santa Catarina enfrentam queda na produtividade apesar de alívio com as chuvas

Após semanas de apreensão entre produtores rurais e autoridades, a última semana trouxe uma trégua da estiagem em algumas regiões de Santa Catarina.

De acordo com os dados mais recentes da Epagri/Ciram, a precipitação foi mais generosa no Extremo Oeste e Meio Oeste, especialmente em áreas próximas à divisa com o Rio Grande do Sul, regiões que enfrentavam um dos quadros mais severos de escassez hídrica. Municípios como Ouro registraram volumes superiores a 80 mm, com destaque para os 88 mm acumulados em poucos dias.

Embora as chuvas tenham representado um alívio importante, elas não foram uniformes em todo o estado. Enquanto o Oeste sentiu seus efeitos de forma mais expressiva, o Norte de Santa Catarina permaneceu praticamente seco, com registros inferiores a 10 mm em municípios como Itapoá.

O desequilíbrio na distribuição pluviométrica revela que, apesar do avanço, a estiagem ainda é uma realidade para milhares de produtores.

Milho sofre com perdas severas e destino à silagem

Apesar das chuvas no Extremo Oeste de Santa Catarina, a estiagem ainda compromete a segunda safra de milho e soja, preocupando produtores. Especialistas alertam para impactos na produtividade e necessidade de cuidados contínuos nas lavouras

A segunda safra de milho, conhecida como safrinha, tem enfrentado dificuldades desde o plantio. Mesmo com a recente umidade, o estresse hídrico acumulado já comprometeu o desenvolvimento das plantas. Segundo informações da Epagri/Cepa, muitas lavouras estão sendo redirecionadas para a produção de silagem, uma alternativa que visa ao menos minimizar as perdas.

Na microrregião de São Miguel do Oeste, a produtividade poderá sofrer uma queda de até 35%. Atualmente, as lavouras estão em diferentes estágios: 34% ainda em desenvolvimento vegetativo, 46% em fase de floração e 21% já em frutificação.

Quando analisada a qualidade, o cenário se apresenta diversificado: 65% das lavouras são avaliadas como boas, 22% médias e 15% ruins.

Feijão reage bem às chuvas, mas colheita começa sob cautela

crys 47

O cultivo do feijão de segunda safra apresenta um panorama um pouco mais animador. As precipitações ajudaram a mitigar os impactos da estiagem nas áreas produtoras e permitiram a retomada das práticas culturais e fitossanitárias.

LER >>>  Exportações do agronegócio brasileiro batem recorde histórico em julho com US$ 15,44 bilhões

A colheita já teve início na região de São Miguel do Oeste, mesmo com as oscilações climáticas nas últimas semanas.

De acordo com o levantamento técnico da Epagri, cerca de 84% das lavouras estão em condição considerada boa, o que, embora positivo, ainda exige atenção. As falhas nas chuvas regulares nos últimos 30 dias podem influenciar diretamente a qualidade e quantidade da produção nas próximas semanas.

Soja enfrenta floração sob estiagem e estimativa de perdas segue alta

crys 46

A soja também sente os efeitos da irregularidade climática. Em fase de floração e início da formação dos grãos, a oleaginosa pode ter perdas estimadas em até 30% de produtividade, principalmente nas lavouras do Oeste do estado.

O alerta acende entre os produtores, que já iniciaram a aplicação de fungicidas e inseticidas com foco na preservação das áreas produtivas.

Em municípios mais afetados, técnicos e sindicatos rurais começaram o levantamento de dados para elaboração de laudos que comprovem perdas e possibilitem acesso a políticas públicas de apoio.

A boa notícia é que, mesmo diante do cenário adverso, 79% das lavouras ainda são avaliadas como boas, um índice que pode cair se a instabilidade climática persistir.

Efeitos da estiagem refletem nas decisões dos produtores

A estiagem prolongada tem obrigado agricultores a tomarem decisões difíceis. A conversão do milho em silagem, os custos elevados com insumos para proteger a soja e a antecipação da colheita do feijão são algumas estratégias adotadas para minimizar prejuízos. No entanto, tais medidas não são sustentáveis a longo prazo e deixam claro a necessidade de um planejamento hídrico mais robusto por parte do estado e da federação.

A preocupação também se estende à economia regional. Municípios que dependem fortemente do agronegócio sentem os impactos da quebra de safra na arrecadação de impostos, geração de empregos e estabilidade dos mercados locais. Assim, o clima segue como o principal fator de instabilidade econômica em boa parte do território catarinense.

LER >>>  Paraná lidera produção nacional de cevada e projeta 413 mil toneladas em 2025

Perspectivas para os próximos dias, atenção redobrada

A previsão climática para os próximos dias ainda é incerta. A expectativa de chuvas esparsas e intermitentes nas regiões Oeste e Meio Oeste pode ajudar, mas está longe de representar uma solução definitiva para os problemas enfrentados pelas lavouras.

A Epagri recomenda que os agricultores fiquem atentos aos boletins técnicos e sigam orientações agronômicas com base no monitoramento climático.

Investimentos em irrigação, melhorias na captação e armazenamento de água e políticas públicas voltadas à adaptação climática são apontados como caminhos possíveis para reduzir os efeitos de estiagens futuras.

Leia também: