Oftalmologistas registram aumento expressivo de queixas oculares e apontam riscos silenciosos associados ao tempo excessivo diante de celulares, computadores e TVs
A epidemia silenciosa causada pelas telas: por que estamos enxergando pior?
O aumento no tempo diante de telas transformou-se em uma das principais causas de queixas oculares entre crianças, jovens e adultos. O avanço da tecnologia trouxe conforto, informação e praticidade, mas também inaugurou uma era de esforço visual contínuo. Com a rotina cada vez mais centrada no digital, oftalmologistas em todo o país relatam crescimento expressivo de sintomas que vão desde ardência e vermelhidão até quadros mais preocupantes, como visão turva, dor de cabeça frequente e progressão acelerada da miopia.
O fenômeno não é isolado. Estudos internacionais mostram que o tempo médio diário diante de telas passou de 3 horas, em 2010, para mais de 7 horas em 2024. No Brasil, a média é ainda maior, chegando a 9 horas diárias em algumas faixas etárias. Essa mudança comportamental pressiona a saúde ocular de forma intensa, já que os olhos não foram projetados para focar por tanto tempo em distâncias curtas — característica marcante do uso de celulares, tablets e computadores.
A combinação de trabalho remoto, redes sociais, entretenimento digital e dependência tecnológica aumentou o risco de distúrbios que antes eram associados principalmente ao envelhecimento. Hoje, profissionais da visão afirmam que jovens de 20 a 35 anos já apresentam sintomas semelhantes aos de pacientes de meia-idade, marcando uma transição preocupante no perfil das doenças oculares.
Como as telas prejudicam a visão: o impacto real comprovado pela ciência
A síndrome da visão do computador: o problema que virou rotina
O termo “Síndrome da Visão do Computador” descreve um conjunto de sintomas provocados pelo uso prolongado de dispositivos eletrônicos. Pessoas que passam horas diante de telas tendem a piscar menos, mantendo os olhos abertos por períodos mais longos, o que causa ressecamento ocular. Além disso, a necessidade de foco contínuo cria tensão nos músculos responsáveis pela acomodação visual.
Entre os sintomas mais observados estão:
- visão turva após longas sessões de trabalho;
- olhos cansados e sensação de peso;
- ardência, queimação e coceira;
- dores de cabeça recorrentes;
- dificuldade de foco ao alternar entre tela e objetos distantes;
- sensibilidade à luz.
Segundo levantamentos clínicos, mais de 70% dos usuários de computador já relatam algum desses sintomas.
A luz azul: vilã moderna da visão?
A luz azul emitida por telas não é nova — ela existe naturalmente na luz solar. Contudo, a exposição prolongada e direta, especialmente à noite, afeta o ritmo biológico do corpo, prejudicando o sono e aumentando a fadiga ocular. Pesquisas indicam que, embora não seja comprovadamente tóxica em curtos períodos, o excesso pode contribuir para desconforto visual e acelerar o desgaste da retina ao longo da vida.
Filtros de luz azul, óculos específicos e configurações noturnas dos aparelhos podem ajudar, mas não resolvem o problema central: o tempo exagerado diante das telas.
Miopia em ascensão: o cenário global mais preocupante
A miopia tem crescido de forma acelerada no mundo todo. Estudos asiáticos mostram que, em algumas cidades, 90% das crianças e adolescentes já apresentam miopia. A causa principal? A combinação entre excesso de telas e pouca exposição à luz natural.
O Brasil segue a mesma tendência. Oftalmologistas relatam aumento significativo de crianças miopes desde a pandemia, quando o ensino remoto ampliou o tempo diante de dispositivos digitais. Em adultos, o problema aparece em forma de progressão rápida dos graus.
Focar em distâncias curtas por muitas horas reduz o estímulo visual necessário para manter o globo ocular com o formato adequado. Com isso, o olho cresce mais do que deveria, levando à miopia, que pode evoluir para quadros graves se não houver acompanhamento.
Síndrome do olho seco: mais comum do que nunca
O olho seco, antes associado principalmente ao envelhecimento, hoje afeta jovens e adultos em ritmo acelerado. O ressecamento é consequência direta da redução na frequência de piscadas e da concentração prolongada na tela.
Entre os sinais estão:
- sensação de areia nos olhos,
- incômodo ao piscar,
- vermelhidão intensa,
- lacrimejamento excessivo (uma forma de defesa do olho),
- visão flutuante.
O olho seco crônico pode causar lesões na córnea e prejudicar a visão a longo prazo.
Como proteger a visão: práticas simples que evitam danos duradouros
A regra 20-20-20: a mais recomendada pelos especialistas
A técnica consiste em, a cada 20 minutos, desviar o olhar por 20 segundos, focando em um objeto distante a pelo menos 6 metros (20 pés). Essa pausa relaxa os músculos oculares e reduz a fadiga visual. Embora simples, essa recomendação é uma das mais eficazes e pode ser aplicada no trabalho, nos estudos e no lazer.
Iluminação correta: um detalhe que muda tudo
Ambientes mal iluminados fazem os olhos trabalharem mais. A iluminação deve ser indireta, difusa e suave. É importante evitar reflexos na tela e manter distância mínima de 40 cm entre olhos e dispositivos portáteis. No caso de computadores, o ideal é manter o monitor levemente abaixo da linha dos olhos.
Lubrificação e hidratação: essenciais para quem usa telas diariamente
Manter os olhos hidratados reduz drasticamente a sensação de cansaço. Colírios lubrificantes (sem conservantes) são aliados importantes, especialmente para quem trabalha em escritórios com ar-condicionado. Além disso, beber água regularmente contribui para a saúde ocular.
Controle de tempo: o desafio da vida moderna
Reduzir o tempo de tela é uma das medidas mais difíceis, mas também das mais necessárias. Especialistas recomendam:
- limite diário de telas para crianças;
- intervalos obrigatórios no trabalho;
- substituição de parte do lazer digital por atividades ao ar livre;
- desligar aparelhos ao menos 1 hora antes de dormir.
A luz natural é fundamental para a saúde ocular. Estudos mostram que crianças que brincam ao ar livre têm até 50% menos risco de desenvolver miopia.
Consultas regulares: a prevenção que evita problemas maiores
Exames oftalmológicos anuais são indispensáveis para diagnosticar alterações precocemente. Muitas pessoas só descobrem problemas quando a visão já está comprometida. Com acompanhamento adequado, é possível corrigir erros refrativos, tratar olho seco, identificar inflamações e acompanhar doenças que evoluem silenciosamente, como glaucoma.
Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Quanto tempo de tela é considerado excessivo?
Acima de 6 horas diárias já representa risco elevado, mas sintomas podem surgir mesmo com períodos menores, dependendo da sensibilidade de cada pessoa.
2. Crianças correm mais risco que adultos?
Sim. Os olhos das crianças ainda estão em desenvolvimento, e o excesso de telas aumenta o risco de miopia precoce.
3. Óculos com filtro de luz azul realmente funcionam?
Eles ajudam a reduzir fadiga visual, mas não substituem pausas, hidratação e controle de tempo.
4. Olho seco por telas tem cura?
Tem tratamento, mas exige mudança de hábitos e, em alguns casos, uso de colírios lubrificantes.
5. Trabalhar no computador o dia todo causa danos permanentes?
Pode causar mudanças progressivas, como piora da miopia ou olho seco crônico, se não houver medidas preventivas.
6. É verdade que piscamos menos ao usar telas?
Sim. A frequência de piscadas pode reduzir até 60%, aumentando o ressecamento ocular.
7. Exercícios para os olhos ajudam?
Alguns exercícios auxiliam no relaxamento muscular, mas não substituem pausas e cuidados diários.
8. A luz azul prejudica a retina?
A exposição excessiva incomoda e interfere no sono, mas os maiores danos vêm do tempo prolongado diante das telas.
9. O que fazer quando a visão começa a ficar embaçada ao longo do dia?
É sinal de fadiga ocular. Pausas, hidratação e consulta ao oftalmologista são essenciais.
10. Usar telas no escuro piora a visão?
Sim. O contraste alto entre a tela iluminada e o ambiente escuro aumenta o esforço visual.
Conclusão
Os problemas de visão ligados ao uso prolongado de telas não são mais uma previsão futura — eles já fazem parte da realidade de milhões de pessoas. A tecnologia trouxe conforto, mas exige cuidados para que a saúde ocular não seja comprometida. Pausas, boa iluminação, hidratação e limites diários são medidas simples, mas essenciais.
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