A formatura universitária simboliza a conquista de anos de estudo, dedicação e superação. No entanto, para um grupo de alunos do curso de Direito da UCEFF, em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, esse momento tão esperado se transformou em um verdadeiro pesadelo.
Quinze formandos alegam ter sido vítimas de um golpe financeiro cometido por uma colega, presidente da comissão de formatura, que teria utilizado cerca de R$ 72 mil arrecadados para a celebração em apostas online. O evento, marcado para 22 de fevereiro, simplesmente não aconteceu.
Sonho que virou decepção
Os estudantes passaram três anos organizando e contribuindo financeiramente para a festa. O orçamento total era de R$ 78.992, e os formandos deram um adiantamento de R$ 2 mil à empresa responsável pelo evento.
O restante, R$ 76 mil, deveria ser pago parceladamente. Para facilitar a gestão, a presidente da comissão abriu uma conta em seu nome e assegurava ao grupo que tudo estava sob controle. Durante todo o período, não houve qualquer indício de que algo estivesse errado.
A revelação veio no dia 27 de janeiro de 2025, quando a própria responsável confessou, em mensagem no grupo dos formandos, que havia usado o dinheiro nas chamadas “bets”, incluindo o popular jogo do tigrinho.
No primeiro momento, os alunos acreditaram tratar-se de uma brincadeira de mau gosto, mas logo perceberam a gravidade da situação. “Foram três anos pagando, planejando e sonhando. De repente, tudo foi roubado de nós”, lamenta a formanda Nicoli Bertoncelli Bison.
A revolta foi ainda maior porque, poucos dias antes da confissão, a presidente da comissão divulgava nas redes sociais a entrega dos convites da formatura, transmitindo a impressão de que tudo seguia conforme o planejado. “Ela já sabia que a festa não aconteceria e continuou nos enganando”, desabafa Nicoli.
O impacto do vício em apostas
Em entrevista ao ND Mais, a ex-presidente da comissão, que não teve a identidade revelada, admitiu que perdeu todo o dinheiro em plataformas de apostas online.
Segundo ela, o vício começou em 2022 e, desde então, já perdeu mais de R$ 138 mil, incluindo seu salário e economias da família. Casada e mãe de uma filha, ela afirmou que ninguém próximo sabia da situação e que tentou, sem sucesso, recuperar o dinheiro apostando mais.
“Só percebi a gravidade quando não havia mais saída. Meu marido ficou desesperado quando descobriu”, contou a jovem, que agora aguarda ser chamada para depor e afirma que deseja ressarcir os colegas, mas não tem recursos financeiros para isso no momento.
Investigação policial e tentativa de recomeço
Os formandos, inconformados, registraram um boletim de ocorrência. A Polícia Civil abriu um inquérito e está ouvindo vítimas, testemunhas e a suspeita.
Segundo o delegado regional Rodrigo Moura, a investigação irá definir se o caso se enquadra como apropriação indébita ou estelionato. O Judiciário já foi acionado para rastrear os valores perdidos.
Apesar da decepção, os alunos seguem firmes no propósito de realizar a formatura em maio. Estão promovendo eventos e buscando arrecadações para cobrir os prejuízos. “Foi um choque enorme, mas não vamos desistir. Queremos que ela pague pelo que fez e que nosso sonho se concretize, ainda que com atraso”, finaliza Nicoli.
A UCEFF se manifestou oficialmente, esclarecendo que não tem responsabilidade sobre a organização das festas de formatura, mas que prestou apoio jurídico e administrativo aos alunos envolvidos.
O caso chama a atenção para os perigos das apostas online e a vulnerabilidade de pessoas com problemas de compulsão. O impacto financeiro e emocional dessas práticas pode ser devastador, como evidenciado nessa história, que transformou um momento de celebração em frustração e luta por justiça.