Por que o preço da carne disparou? e o que esperar em 2025

O preço da carne no Brasil experimentou uma alta expressiva de 20,84% em 2024, após uma queda de 9% em 2023. Esse aumento, o maior desde 2019, tem chamado a atenção de consumidores e especialistas no mercado de alimentos.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente os dados que apontam a carne como o item com maior peso na inflação de alimentos do país, com um impacto de 0,52 ponto percentual. A alta da carne foi impulsionada por uma série de fatores, incluindo o ciclo pecuário, mudanças no clima, a crescente demanda por exportações e a valorização da renda no Brasil. No entanto, a questão que muitos se fazem é: o preço da carne continuará subindo em 2025 e além?

O aumento de 20,84% no preço da carne em 2024 não aconteceu de forma abrupta, mas foi resultado de uma série de fatores interligados que afetaram a oferta e a demanda desse produto essencial na dieta dos brasileiros. Entre os cortes mais afetados pela alta estão o acém, com aumento de 25,2%, o patinho (24%) e o contrafilé (20%). A alta significativa dos preços gerou reflexos diretos no bolso dos consumidores, que passaram a repensar seus hábitos alimentares.

Um dos principais fatores que explicam a alta dos preços da carne é o ciclo pecuário. Esse ciclo é caracterizado por períodos de alta e baixa nos preços dos produtos derivados da pecuária, como o boi gordo e o bezerro. De acordo com Felippe Serigati, coordenador do mestrado profissional em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), quando o preço do bezerro começa a subir, os pecuaristas tendem a reter as vacas nas fazendas para reprodução. Essa prática reduz a oferta de bovinos no mercado, elevando os preços.

Por outro lado, quando as projeções para o preço do bezerro caem, muitos pecuaristas decidem abater as fêmeas, ampliando a quantidade de carne disponível. No entanto, esse movimento só ocorrerá quando o mercado de bezerros mostrar sinais claros de baixa nos preços. Essa oscilação entre alta e baixa impacta diretamente o preço da carne e explica em parte os aumentos observados em 2024.

Clima e Queimadas

Outro fator crucial para o aumento do preço da carne em 2024 foi o impacto do clima, especialmente a seca e as queimadas. Esses eventos climáticos prejudicaram a formação de pastos, que são a principal fonte de alimentação para os bovinos. Com menos pasto disponível para o gado, os pecuaristas enfrentaram dificuldades para manter a alimentação dos animais, o que reduziu a oferta de carne no mercado. Esse impacto climático, combinado com a redução na oferta de bovinos, contribuiu diretamente para a pressão sobre os preços.

Além disso, o aumento das queimadas nas principais áreas de produção de carne no Brasil também gerou incertezas na oferta, afetando negativamente a produção de carne e, consequentemente, seus preços. Como o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carne bovina do mundo, qualquer alteração significativa na produção tem efeitos sobre o mercado interno e externo.

O Brasil continua sendo o maior exportador de carne bovina do mundo, com vendas que vêm quebrando recordes consecutivos. A crescente demanda internacional, especialmente de países como China e outros mercados asiáticos, tem ajudado a manter os preços elevados no mercado interno. Quando a demanda externa aumenta, os pecuaristas e frigoríficos preferem destinar parte de sua produção para exportação, o que reduz a oferta de carne no mercado doméstico e eleva os preços.

Além disso, o aumento das exportações tem impulsionado a valorização da carne brasileira, que é reconhecida mundialmente pela sua qualidade. Essa valorização, por sua vez, reflete no preço pago pelos consumidores no Brasil. A pressão por atender a essa demanda externa também tem levado a uma concentração de recursos para a produção de carne com maior qualidade, o que acaba impactando os preços no mercado local.

Renda e Consumo de Carne

A melhora nas condições econômicas também tem influenciado o mercado de carne no Brasil. A queda nas taxas de desemprego e a valorização do salário mínimo estimularam o consumo de carnes no país. A renda mais alta das famílias brasileiras permite que um maior número de consumidores possa incluir carne em sua alimentação cotidiana, gerando uma demanda adicional que pressiona os preços.

Essa recuperação do poder de compra também pode estar ajudando a sustentar a alta dos preços da carne. Com a maior capacidade de consumo, os brasileiros têm buscado cada vez mais garantir a proteína animal em suas refeições, o que contribui para manter os preços elevados. Esse aumento da demanda interna, junto aos desafios de oferta mencionados anteriormente, torna difícil prever uma queda nos preços da carne para 2025.

De acordo com os analistas, o preço da carne pode não sofrer grandes quedas nos próximos anos. Na verdade, a alta pode continuar até 2026, com os fatores que impulsionaram a valorização em 2024 ainda presentes no cenário de 2025. O ciclo pecuário, as questões climáticas, a demanda por exportações e a recuperação da renda interna serão elementos-chave que continuarão a influenciar os preços da carne no Brasil.

Além disso, a inflação de alimentos, com destaque para o impacto da carne, continuará a ser um desafio para o orçamento das famílias brasileiras. O aumento de 7,69% na inflação de alimentos em 2024, impulsionado pela alta nos preços da carne, reflete um cenário difícil para consumidores, especialmente os de baixa renda, que têm de ajustar seus hábitos alimentares devido ao aumento nos preços.