A prática incomum de europeus comerem múmias egípcias foi impulsionada por crenças curiosas sobre os benefícios à saúde. Em períodos da história europeia, houve uma fascinação por múmias egípcias, levando ao consumo desses restos humanos triturados e tingidos, acreditando-se que poderiam curar uma ampla gama de doenças, desde a peste bubônica até dores de cabeça.
Durante a Idade Média, a “múmia” era um produto feito a partir de corpos mumificados trazidos das tumbas egípcias para a Europa. Os boticários da época, que comercializavam esses produtos, afirmavam que eles possuíam propriedades medicinais sobrenaturais. Esses restos mumificados eram triturados pelos boticários e, posteriormente, consumidos por pessoas de todas as classes sociais, dos ricos aos pobres.
Na ausência de antibióticos, médicos da época prescreviam crânios, ossos e carne moída de múmias para tratar uma variedade de condições, desde dores de cabeça até inchaços ou pestes. No entanto, nem todos acreditavam nos supostos poderes medicinais das múmias. O médico Guy de la Fontaine, por exemplo, expressou dúvidas sobre a eficácia das múmias como remédio e descobriu falsificações em que cadáveres de camponeses mortos em Alexandria eram usados para criar múmias falsas.
A demanda por remédios de múmia era constante, e o suprimento de múmias egípcias reais não era suficiente para atendê-la. Boticários e fitoterapeutas continuaram a prescrever medicamentos de múmia até o século XVIII. Alguns profissionais de saúde acreditavam que carnes frescas e sangue eram mais eficazes do que as múmias antigas, pois possuíam uma vitalidade que faltava aos mortos há muito tempo.
Para a elite social e real, consumir os restos humanos antigos do Egito parecia ser um remédio apropriado, já que os médicos afirmavam que essas múmias eram originárias de faraós. Eles viam nesse ato uma forma de alimentar-se da realeza. No entanto, a prática de consumir múmias para curar doenças foi gradualmente abandonada no século XIX, quando os vitorianos passaram a organizar “festas de desembrulhar” múmias, que se tornaram eventos de entretenimento. Nessas festas, os corpos egípcios eram desenfaixados para a diversão dos convidados.
Inicialmente, esses eventos de desembrulhar múmias possuíam um verniz de respeitabilidade médica, mas com o tempo se tornaram meros espetáculos emocionantes. Anfitriões que podiam proporcionar tal entretenimento eram considerados ricos o suficiente para possuir uma múmia de verdade. A emoção de ver os ossos e a carne seca aparecendo enquanto as ataduras eram removidas atraía multidões para esses eventos, fossem eles realizados em residências particulares ou teatros de sociedades eruditas.
No início do século XX, as festas de desembrulhar múmias perderam popularidade, pois as emoções macabras associadas a elas foram consideradas de mau gosto, além do fato de que tais eventos resultavam na destruição inevitável de vestígios arqueológicos. No entanto, a descoberta da tumba de Tutancâmon em 1923 reavivou o interesse por múmias, mas dessa vez moldando o design Art Déco e dando origem a uma nova mania. A morte repentina de Lorde Carnarvon, patrocinador da expedição, foi atribuída à suposta “maldição da múmia”.
Atualmente, nenhum arqueólogo sério realiza desembrulhos de múmias, nem médicos sugerem o consumo desses restos humanos. No entanto, a atração pelas múmias ainda persiste, e elas podem ser encontradas à venda no mercado paralelo, sendo alvo de contrabando avaliado em bilhões de dólares.
Em resumo, a obsessão dos europeus por múmias egípcias levou a práticas estranhas, como o consumo desses restos humanos triturados e tingidos. A crença em suas propriedades medicinais e o entretenimento associado ao desembrulhar de múmias contribuíram para essa peculiaridade histórica. No entanto, essas práticas foram abandonadas à medida que o tempo avançava e a compreensão científica progredia.