O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, carrega um estigma de ser um problema exclusivo de pessoas idosas. No entanto, essa percepção está longe de refletir a realidade.
Estima-se que cerca de 15% dos AVCs ocorram em jovens adultos entre 18 e 49 anos, segundo um estudo publicado em 2022 na revista científica Stroke. A surpresa é natural, mas os números deixam claro que essa condição pode atingir pessoas em plena vida ativa, como Bruna Aguiar, Bruno Rodrigues, Giuliana Cavinato e Luiz Júnior. Suas histórias mostram que o AVC não tem idade, mas também revelam lições de resiliência e transformação.
Bruna Aguiar tinha apenas 23 anos quando começou a sentir sintomas que inicialmente atribuiu à pressão baixa ou à rinite alérgica. O que parecia inofensivo evoluiu rapidamente para tontura extrema, perda de força e uma dor insuportável nas costas. O diagnóstico inicial, no entanto, foi de crise de ansiedade — um erro comum quando jovens apresentam sintomas que fogem à norma médica tradicional.
Luiz Júnior, aos 31 anos, experimentou um quadro semelhante. Em um dia comum, ao tentar mexer no celular, percebeu que sua mão esquerda não se movia. O que começou com dificuldade em um membro rapidamente progrediu para paralisia facial e dificuldade na fala. Mesmo com sinais claros de um derrame, enfrentou suspeitas equivocadas de uso de drogas, o que retardou o diagnóstico correto.
Já Giuliana Cavinato, aos 30 anos, sofreu um AVC isquêmico após um impacto na prática de wakeboard. Seu caso evidencia que o trauma físico também pode ser um gatilho para o derrame, algo que muitos jovens desconhecem.
O que explica o aumento de AVCs em jovens?
O aumento dos casos de AVCs em adultos jovens é atribuído a diversos fatores. Entre os mais evidentes estão o sedentarismo, a má alimentação e o estresse. Segundo o epidemiologista Luiz Carlos de Abreu, o uso excessivo de telas, intensificado durante a pandemia, é um fator que merece atenção. Além disso, o aumento da obesidade entre jovens de 18 a 24 anos cresceu 90% entre 2022 e 2023, conforme a pesquisa Vigitel.
Outros fatores de risco incluem hipertensão, colesterol elevado e tabagismo. Embora o AVC seja mais comum em idosos devido ao envelhecimento natural dos vasos sanguíneos, os hábitos de vida adotados precocemente têm antecipado o surgimento dessa e de outras doenças cardiovasculares.
Para o cardiologista Luís Henrique Gowdak, a prevenção é fundamental. “A prevenção começa com um check-up bem feito. Estratégias variam dependendo se o paciente já teve ou não um evento como derrame ou infarto”, explica. Ele enfatiza a importância de controlar fatores como colesterol LDL, pressão arterial e peso corporal. Mesmo em jovens, um exame simples como ultrassom pode identificar placas de gordura nos vasos, um alerta para o risco de derrame.
Um dos maiores obstáculos enfrentados por jovens com AVC é o diagnóstico correto e oportuno. Os sintomas são frequentemente confundidos com crises de ansiedade ou outras condições menos graves, o que atrasa o tratamento. Estudos mostram que a demora no diagnóstico pode levar a complicações irreversíveis ou até mesmo à morte.
Bruna Aguiar, por exemplo, teve seu AVC confundido com ansiedade e só recebeu o diagnóstico correto dias depois, quando já estava em estado grave. O caso de Bruno Rodrigues também ilustra essa dificuldade. Seu AVC, causado por uma reação alérgica à castanha, levou quase dois meses para ser identificado, mesmo após internações e reabilitações.
Após um AVC, a jornada de recuperação pode ser longa e desafiadora. Giuliana Cavinato, por exemplo, enfrentou dificuldades para falar, ler e realizar tarefas básicas. Determinada a superar as sequelas, buscou um tratamento inovador na Itália chamado Reabilitação Neurocognitiva Perfetti, que trouxe resultados transformadores. Essa experiência a motivou a fundar o Instituto Avencer, que introduziu o método no Brasil.
Luiz Júnior também encontrou na tecnologia uma aliada para sua reabilitação. Ele utiliza o aplicativo de exercícios mentais NeuroNation e a luva robótica Neurobots, que ajuda a estimular a plasticidade neural. Esses avanços destacam como a neurociência tem oferecido novas esperanças a pacientes de AVC.
Embora o AVC seja uma experiência devastadora, muitos sobreviventes relatam uma nova visão sobre a vida. Giuliana fundou seu instituto para ajudar outras pessoas, enquanto Luiz Júnior estabeleceu metas como voltar a dirigir e frequentar eventos que o conectem à sua paixão por música. Esses exemplos mostram que, apesar das adversidades, a resiliência e a adaptação podem transformar o trauma em aprendizado.
Os casos de AVCs em jovens evidenciam que a condição não escolhe idade. A prevenção, a busca por diagnóstico precoce e o acesso a tratamentos adequados são fundamentais para reduzir os impactos dessa doença. Por meio de histórias como as de Bruna, Bruno, Giuliana e Luiz, aprendemos que a resiliência humana é tão poderosa quanto as tecnologias que auxiliam na recuperação. Mais do que superar um problema de saúde, eles nos mostram como é possível redescobrir a vida.