Polícia Científica identifica inseticida ilegal em abelhas mortas

Em março deste ano, moradores do interior do Paraná ficaram preocupados ao encontrar centenas de abelhas mortas espalhadas pelos campos. A perda desses importantes polinizadores acendeu um alerta sobre possíveis irregularidades no uso de agrotóxicos, o que levou a Polícia Científica do Paraná a iniciar uma investigação minuciosa para descobrir a causa.

Após meses de trabalho, a resposta foi revelada: o inseticida Fipronil, proibido no Brasil desde 2023, foi identificado nas amostras das abelhas. A substância, aplicada de forma irregular, foi capaz de comprometer o comportamento dos insetos, levando-os à morte em poucos dias. O resultado não só aponta para uma prática ilegal no setor agrícola, como reforça a necessidade de fiscalização ambiental e proteção à biodiversidade.

Copia de Sem nome 1920 x 1080 px 7 11

A investigação envolveu desafios técnicos inéditos para a Seção de Química Forense e de Crimes Ambientais da Polícia Científica do Paraná. A perita oficial Isabella Melo, responsável pela análise, explicou que o processo exigiu o desenvolvimento de novos métodos de extração de resíduos químicos, uma vez que a matriz biológica das abelhas é bastante complexa.

“Foi um trabalho desafiador porque exigiu uma abordagem nova, mas conseguimos graças à aquisição de dois cromatógrafos gasosos no ano passado”, afirmou Isabella. Esses equipamentos permitiram que os técnicos detectassem o Fipronil com precisão, confirmando a suspeita de uso ilegal do inseticida.

Embora seja usado em diversos países para o controle de pragas, o Fipronil foi banido no Brasil devido ao seu impacto nocivo sobre as colônias de abelhas e outras espécies polinizadoras. A substância afeta a capacidade olfativa e a coordenação dos insetos, deixando-os desorientados e incapazes de encontrar o caminho de volta às colmeias. Em poucas horas, eles começam a apresentar sinais de intoxicação, e em até oito dias muitos acabam morrendo.

O desaparecimento das abelhas é um problema grave, já que esses insetos são responsáveis por 75% da polinização de culturas agrícolas e 90% das plantas com flores. Sem elas, o equilíbrio da biodiversidade e a produção de alimentos ficam ameaçados, comprometendo tanto o meio ambiente quanto a economia agrícola.

Copia de Sem nome 1920 x 1080 px 8 9

A investigação das abelhas mortas é apenas uma das iniciativas da Polícia Científica do Paraná dentro do novo projeto AgroForense. Lançado recentemente, o projeto tem como objetivo ampliar a capacidade de análise de crimes ambientais e agrários por meio da aquisição de equipamentos de última geração e da contratação de mais profissionais.

Com um investimento de R$ 9 milhões, a Polícia Científica planeja adquirir aparelhos como ICP-MS, LC-qTOF e cromatógrafos iônicos, que permitirão análises mais detalhadas e precisas. Esses equipamentos serão distribuídos entre as unidades de Curitiba e Foz do Iguaçu, garantindo mais rapidez nas investigações ao reduzir o tempo de transporte de amostras.

“O AgroForense vai transformar a forma como lidamos com crimes ambientais. Teremos condições de investigar desde a adulteração de agrotóxicos até contaminação de águas com muito mais eficiência”, destacou a perita Isabella.

O trabalho da Polícia Científica do Paraná ganhou destaque ao ser apresentado no XXVII Congresso de Criminalística, realizado em São Luís, no Maranhão. A pesquisa, intitulada “Identificação do inseticida Fipronil em abelhas mortas no interior do Paraná”, foi desenvolvida em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), demonstrando a importância da colaboração entre academia e instituições públicas.

Essa parceria fortalece o combate aos crimes ambientais, combinando conhecimento científico com técnicas de investigação pericial. O reconhecimento em um congresso nacional também destaca o Paraná como um estado comprometido com a inovação na área de perícia ambiental.

Além dos avanços tecnológicos, a Polícia Científica do Paraná vem passando por uma importante reestruturação interna. Em 2023, a instituição contratou 76 novos servidores, distribuídos entre as 20 unidades técnico-científicas do estado. Em 2024, mais 16 técnicos de perícia se juntaram à equipe, reforçando o atendimento e agilizando investigações.

Com a nova configuração, os cargos de perito criminal foram unificados, permitindo maior flexibilidade nas operações e uma resposta mais rápida às demandas. A aquisição de um tablet multiespectral forense também trouxe avanços significativos, possibilitando a detecção de vestígios invisíveis a olho nu e aumentando a eficiência das análises.