Pesquisadores criam filme Bioplástico com casca de banana

A busca por alternativas mais sustentáveis na indústria de embalagens ganhou um importante impulso graças a uma inovação desenvolvida por pesquisadores brasileiros. Em um estudo realizado pela Embrapa Instrumentação Agropecuária, em São Carlos, e pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), cientistas utilizaram um subproduto aparentemente descartado da cadeia produtiva: a casca de banana.

O objetivo foi transformar esse resíduo agrícola em um material valioso com grande potencial para substituir plásticos convencionais no setor alimentício. O resultado desse trabalho? Filmes bioplásticos com excelentes propriedades antioxidantes e de proteção contra radiação ultravioleta (UV), que podem ser aplicados diretamente em embalagens de alimentos.

A revolução verde

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 Mariana Franzoni/Divulgação

O que pode parecer um simples resíduo agrícola, como a casca de banana, esconde uma série de compostos bioativos com grande valor. Esse é o ponto de partida para a pesquisa desenvolvida pelos cientistas. Atualmente, a cadeia produtiva da banana gera uma quantidade significativa de subprodutos que são frequentemente desperdiçados ou não aproveitados de maneira eficiente. De acordo com estimativas, para cada tonelada de banana processada, até 417 kg de casca podem ser gerados. Isso representa uma oportunidade única de reutilizar e valorizar um material que, muitas vezes, é simplesmente descartado.

A casca de banana é rica em fenólicos, compostos bioativos conhecidos por suas propriedades antioxidantes, e em pectina, um polissacarídeo de importância na produção de filmes biodegradáveis. A ideia dos pesquisadores foi explorar essas características para criar um material com um duplo benefício: agregar valor a um subproduto e oferecer uma alternativa mais sustentável ao plástico convencional, que tem se mostrado cada vez mais insustentável em função do impacto ambiental causado pelo seu descarte.

Como funciona a produção do filme Bioplástico

O processo utilizado pelos cientistas da Embrapa e da UFSCar é relativamente simples, mas eficaz. Para transformar a casca de banana em filme bioplástico, os pesquisadores utilizaram um procedimento de pré-tratamento suave, utilizando apenas água ou uma solução ácida diluída. A casca de banana, após esse tratamento, é processada de maneira a liberar os compostos bioativos essenciais para a formação do filme.

Após a extração desses compostos, a mistura é transformada em um filme de espessura micrométrica. O resultado é um material flexível e biodegradável que possui excelentes propriedades antioxidantes, o que é um grande diferencial em relação aos plásticos tradicionais. Além disso, o filme obtido apresenta uma significativa proteção contra os raios ultravioleta (UV), o que o torna especialmente adequado para a embalagem de alimentos, que precisam de proteção contra a degradação causada pela exposição à luz solar.

Esse avanço traz uma dupla vantagem: por um lado, contribui para o reaproveitamento de um resíduo agrícola de grande volume; por outro, oferece uma alternativa ecologicamente correta aos plásticos convencionais, que têm sido alvo de críticas devido ao seu impacto ambiental, especialmente no que se refere à poluição por microplásticos e à persistência no meio ambiente.

Os testes realizados com os filmes bioplásticos mostraram que eles têm um desempenho que, em muitos casos, é superior ao de outros bioplásticos preparados com biomassa de diferentes origens. O filme de casca de banana apresentou, além das já mencionadas propriedades antioxidantes e proteção UV, características como:

  1. Excelente resistência: O filme demonstrou ter boa resistência mecânica, o que é essencial para garantir a integridade da embalagem durante o armazenamento e transporte dos alimentos.
  2. Propriedades biodegradáveis: Ao contrário dos plásticos convencionais, que podem levar centenas de anos para se decompor, os filmes bioplásticos derivados da casca de banana são biodegradáveis e se decompoem de forma mais rápida e segura para o meio ambiente.
  3. Segurança alimentar: Como se trata de um produto proveniente de uma matéria-prima natural, o filme não contém compostos prejudiciais, tornando-o uma alternativa segura para uso na embalagem de alimentos.

Além disso, a pesquisa revelou que o filme bioplástico preparado com casca de banana tem características físico-químicas que permitem que ele seja moldado de diferentes formas, o que amplia suas possibilidades de uso.

A utilização da casca de banana como matéria-prima para a produção de filmes bioplásticos não só traz benefícios ambientais, mas também pode gerar impacto econômico positivo. A redução do desperdício de resíduos agrícolas pode contribuir para a diminuição da quantidade de lixo gerado, além de incentivar a economia circular. Ao reaproveitar um resíduo que, de outra forma, seria descartado, os pesquisadores estão não só resolvendo um problema de poluição, mas também criando uma nova cadeia de valor em torno da banana.

Além disso, o custo de produção desse tipo de bioplástico é relativamente baixo, o que pode tornar a solução mais acessível para pequenas e médias empresas do setor alimentício. Ao adotar embalagens mais sustentáveis, as empresas podem, inclusive, atender a uma demanda crescente por produtos ecologicamente responsáveis, um aspecto que tem ganhado cada vez mais importância entre consumidores conscientes.

Embora os resultados obtidos com os filmes bioplásticos de casca de banana sejam promissores, os pesquisadores ainda enfrentam desafios no que diz respeito à escalabilidade e ao aperfeiçoamento das propriedades do material. O filme desenvolvido até o momento foi produzido em escala de laboratório, mas os próximos passos incluem a produção em escala piloto, com o objetivo de tornar o processo mais viável do ponto de vista industrial.

Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, explica que o próximo passo será melhorar ainda mais as propriedades do filme bioplástico, com foco na durabilidade e resistência a diferentes condições ambientais. Espera-se que, dentro de um ano, o processo de produção em escala piloto seja concluído, o que permitirá uma avaliação mais detalhada do potencial industrial dessa solução.

Além disso, os pesquisadores pretendem explorar diferentes formas de personalizar o filme bioplástico para diferentes tipos de alimentos, garantindo que ele atenda a uma gama ainda maior de necessidades do setor de embalagens.

Com o crescente movimento em direção à sustentabilidade, a pesquisa sobre o uso de materiais naturais para a criação de embalagens está se expandindo. O desenvolvimento de bioplásticos de casca de banana é apenas um exemplo das possibilidades que surgem quando a ciência e a inovação se unem em prol de um futuro mais verde. O potencial para a redução do uso de plásticos derivados de petróleo é imenso, e iniciativas como esta podem ser um passo importante na busca por soluções mais ecológicas e eficientes.

A busca por alternativas ao plástico convencional nunca foi tão urgente. Com a crescente pressão para diminuir a quantidade de resíduos plásticos no planeta e proteger o meio ambiente, inovações como o uso da casca de banana para criar filmes bioplásticos podem se tornar fundamentais para mudar a forma como pensamos sobre embalagens e consumo.