O horário de verão, que por muitos anos fez parte da rotina dos brasileiros, foi extinto em 2019 sob o argumento de que a economia de energia proporcionada não justificava a sua continuidade. No entanto, com as recentes crises energéticas e o aumento do consumo de eletricidade devido ao calor acima da média, a discussão sobre a volta do horário de verão tem ganhado força novamente.
A pesquisa realizada pelo Reclame Aqui com 3 mil pessoas mostrou que a maioria da população está pronta para abraçar novamente essa mudança, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde historicamente a medida era mais adotada.
A pesquisa realizada pelo Reclame Aqui em parceria com a Abrasel trouxe à tona um panorama detalhado da percepção dos brasileiros sobre o horário de verão. Segundo o estudo, 54,9% dos entrevistados são a favor da volta da medida, sendo que o Sul do Brasil apresenta a maior adesão, com 60,6% favoráveis, seguido pelo Sudeste (56,1%) e Centro-Oeste (40,9%).
Edu Neves, CEO do Reclame Aqui, acredita que o apoio ao horário de verão pode estar relacionado a uma mudança no comportamento da população. “Percebemos que a preocupação com a adaptação ao novo ritmo de sono e saúde diminuiu. As pessoas parecem mais focadas nos benefícios de ter dias mais longos e claros para praticar esportes e socializar”, comenta.
Esse cenário, segundo especialistas, pode estar vinculado ao desejo de aproveitar mais as atividades ao ar livre, especialmente em um período pós-pandemia, onde a socialização voltou a ser uma prioridade.
Um dos principais argumentos a favor da volta do horário de verão é o impacto positivo no comércio e na economia. Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, reforça que a medida proporciona mais disposição para a população sair de casa, o que impulsiona bares, restaurantes e lojas. De acordo com a pesquisa, 43,7% dos entrevistados afirmam que se sentem mais propensos a socializar durante o horário de verão, o que naturalmente beneficia o setor de serviços.
Além disso, o tempo de luz natural estendido no final da tarde traz uma sensação de segurança para quem precisa transitar nas ruas, além de contribuir para a redução do consumo de eletricidade no início da noite. “O horário de verão sempre foi um período de maior vigor econômico, com as pessoas saindo mais e consumindo mais. Isso é ainda mais necessário no momento em que vivemos”, destaca Solmucci.
A volta do horário de verão não está apenas ligada ao lazer e à economia. O cenário energético atual do Brasil também pesa na balança. Com a seca prolongada e o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, a principal fonte de energia do país, o governo se vê forçado a acionar usinas termelétricas, que são mais caras e mais poluentes. Isso, combinado com o aumento do uso de aparelhos de ar-condicionado, tem elevado significativamente o consumo de energia.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou recentemente que a medida está sendo analisada e que a decisão sobre o retorno do horário de verão será tomada em breve, com base em estudos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS). A expectativa é que esses estudos levem em conta as atuais circunstâncias energéticas do país.
Contudo, mesmo que o horário de verão volte a ser implementado, especialistas apontam que a medida, por si só, não resolverá a crise energética. “É uma medida paliativa. Embora ajude na redução do consumo no curto prazo, o problema do Brasil está na sua dependência das hidrelétricas e na falta de um planejamento adequado para diversificar a matriz energética”, afirma o engenheiro elétrico Carlos Mendonça.
Embora a pesquisa indique um amplo apoio popular ao retorno do horário de verão, há também uma parcela significativa da população que se opõe à medida. Cerca de 45,1% dos entrevistados se mostraram contrários ao ajuste nos relógios. Grande parte dessa resistência vem de regiões onde o horário de verão não era historicamente adotado, como o Norte e o Nordeste do Brasil.
Entre os motivos para essa rejeição estão as questões de saúde e bem-estar. Muitos argumentam que a mudança de horário interfere no sono, trazendo dificuldades para acordar mais cedo, especialmente para quem já tem uma rotina intensa. Além disso, trabalhadores que começam seus expedientes muito cedo, como no setor agrícola, alegam que o horário de verão aumenta o tempo que passam trabalhando no escuro, o que pode ser desconfortável e até perigoso.
Outro ponto que gera controvérsia é a real economia de energia que o horário de verão traz. Desde o fim da medida em 2019, o governo tem sustentado que a economia gerada é mínima e não justifica a mudança. Estudos anteriores mostraram que o horário de verão proporcionava uma economia de aproximadamente 0,5% no consumo de energia durante o período, o que é considerado baixo por especialistas do setor.
A decisão sobre o retorno ou não do horário de verão deve ser tomada nas próximas semanas. Com o estudo da Aneel e do ONS em mãos, o governo poderá avaliar se a medida é viável nas circunstâncias atuais. No entanto, mesmo que a volta do horário de verão seja aprovada, é improvável que a mudança ocorra de imediato, já que a implementação exige planejamento e ajustes em diversos setores.
Enquanto isso, a população segue dividida. Para muitos, o horário de verão representa uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida, aproveitando mais o tempo ao ar livre e estimulando o comércio local. Para outros, a medida traz mais desafios do que benefícios, especialmente em termos de saúde e adaptação à rotina.
O presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, finaliza afirmando que o setor de bares e restaurantes aguarda ansiosamente uma decisão favorável. “Precisamos de incentivos que ajudem a reativar a economia, e o horário de verão é uma dessas soluções. Se não for neste ano, esperamos que no próximo a medida volte a ser implementada”, conclui.