Pesquisa revela, apenas 7% das pessoas com transtornos mentais são tratadas

A pesquisa identificou quatro etapas cruciais que as pessoas enfrentam ao buscar ajuda para transtornos mentais

A saúde mental, tema de crescente atenção mundial, enfrenta um desafio alarmante: mais de 90% das pessoas com transtornos mentais ou uso de substâncias não recebem um tratamento eficaz. Este é o resultado de uma nova pesquisa, publicada na prestigiada revista científica JAMA Psychiatry nesta quarta-feira (7).

O estudo, realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica e da Escola Médica de Harvard, revela não apenas a magnitude do problema, mas também destaca as barreiras estruturais e pessoais que dificultam o acesso a cuidados adequados.

O estudo analisou dados de quase 57 mil participantes de 21 países ao longo de 19 anos, com o objetivo de mapear o trajeto que leva uma pessoa a receber tratamento eficaz para transtornos mentais comuns, como transtornos de ansiedade, de humor e uso de substâncias. O que os pesquisadores descobriram é alarmante: a jornada até o tratamento adequado é longa, difícil e permeada de obstáculos. Um dos maiores desafios é a dificuldade do próprio paciente em reconhecer a necessidade de ajuda profissional. Mesmo quando essa percepção está presente, o caminho até o tratamento eficaz é tortuoso, com muitas perdas ao longo do percurso.

A pesquisa identificou quatro etapas cruciais que as pessoas enfrentam ao buscar ajuda para transtornos mentais: (1) reconhecer que precisam de tratamento, (2) procurar ajuda profissional, (3) receber um tratamento mínimo adequado e (4) receber um tratamento eficaz. O estudo revelou que, embora 46,5% dos participantes reconhecessem a necessidade de tratamento, apenas 34,1% realmente procuraram ajuda no sistema de saúde. Desses, a maioria (82,9%) recebeu um nível mínimo de tratamento adequado, mas apenas 47% desses conseguiram alcançar o estágio de tratamento eficaz.

A estatística mais alarmante é que, no final desse processo, apenas 6,9% das pessoas analisadas receberam o tratamento eficaz que realmente precisavam. Esse dado expõe uma falha significativa no sistema de saúde global, que, apesar de estar em contato com a pessoa que sofre, muitas vezes não consegue proporcionar os cuidados adequados.

De acordo com Daniel Vigo, autor principal do estudo e professor associado do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Colúmbia Britânica, esses resultados são uma clara indicação de que decisões políticas e alocação de recursos para a saúde mental precisam ser baseadas em dados concretos e específicos, algo que nem sempre aconteceu no passado. “Entender onde estão os gargalos para cada um desses distúrbios fornece um modelo único e anteriormente indisponível para que os tomadores de decisão entendam os problemas objetivamente e tentem ajustar o sistema”, afirmou Vigo.

Uma das principais descobertas do estudo é a queda significativa na continuidade do tratamento, especialmente após o paciente procurar ajuda. Isso sugere que, embora o primeiro passo para o tratamento seja dado, muitos pacientes não recebem a continuidade necessária para garantir que seu tratamento seja efetivo. O estudo também aponta que os médicos de família e clínicos gerais, que são geralmente o primeiro ponto de contato para essas pessoas, precisam ser melhor preparados para diagnosticar e tratar transtornos mentais leves a moderados, além de encaminhar os casos mais graves para especialistas.

A formação e o treinamento desses profissionais são fundamentais para melhorar a qualidade do atendimento e reduzir as perdas ao longo do processo. Como destaca o estudo, melhorar a capacidade desses médicos em diagnosticar e tratar os transtornos mentais mais comuns pode ser a chave para a solução do problema. “Melhorar a capacidade desses clínicos gerais e médicos de família de diagnosticar e tratar as formas leves a moderadas, e saber quando encaminhar pessoas mais gravemente afetadas para especialistas, torna-se a pedra angular do sistema”, afirma Vigo.

A pesquisa identificou quatro etapas cruciais que as pessoas enfrentam ao buscar ajuda para transtornos mentais