Pesadelos na meia-idade podem aumentar risco de demência, revela estudo

Pesadelos frequentes na meia-idade podem ser um sinal de alerta para o desenvolvimento de demência, segundo um novo estudo apresentado no Congresso da Academia Europeia de Neurologia de 2024, realizado em Helsinque, Finlândia. A pesquisa conduzida pelo Imperial College London identificou uma forte associação entre episódios regulares de pesadelos e o risco aumentado de declínio cognitivo e demência em adultos de meia-idade e mais velhos. Este artigo explora os detalhes do estudo, suas implicações e possíveis mecanismos subjacentes.

Pesquisas anteriores do Imperial College London já haviam sugerido que adultos saudáveis de meia-idade que experimentavam pesadelos frequentes, definidos como ocorrências semanais, tinham um risco quatro vezes maior de sofrer declínio cognitivo na década seguinte, comparado àqueles sem tais sonhos perturbadores. Além disso, adultos mais velhos com pesadelos frequentes apresentavam um risco duas vezes maior de desenvolver demência.

Esses achados iniciais levantaram questões importantes sobre a possível relação entre a qualidade do sono e a saúde cognitiva a longo prazo. A nova pesquisa apresentada em Helsinque foi uma extensão desse trabalho anterior, focando em um subconjunto de participantes que possuíam dados genéticos disponíveis, permitindo uma análise mais detalhada dos fatores de risco.

Para o estudo recente, os pesquisadores analisaram exames de sangue, amostras de saliva e histórico familiar dos participantes para determinar se fatores genéticos poderiam influenciar a associação entre pesadelos frequentes e declínio cognitivo. Após controlar esses fatores, os resultados mostraram que a ligação entre pesadelos e declínio cognitivo permaneceu robusta. Além disso, não foi encontrada relação significativa entre a frequência de pesadelos e fatores genéticos em nenhuma faixa etária.

Esses resultados reforçam a hipótese de que os pesadelos podem ser um marcador independente de risco para declínio cognitivo e demência, independentemente da predisposição genética. No entanto, os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais para entender completamente os mecanismos envolvidos e explorar se intervenções para tratar pesadelos poderiam ajudar a prevenir o declínio cognitivo.

Uma das hipóteses mais promissoras para explicar a relação entre pesadelos e demência envolve o sono REM (movimento rápido dos olhos), uma fase do sono caracterizada por sonhos vívidos e maior atividade cerebral. Estudos anteriores já haviam associado transtornos do sono REM, incluindo pesadelos, a um risco maior de demência, especialmente em pacientes com Parkinson.

O professor Sebastiaan Engelborghs, chefe de neurologia da Vrije Universiteit Brussel, sugere que pesadelos frequentes podem ser um indicativo de transtorno comportamental do sono REM. Esse transtorno é caracterizado por comportamentos anormais durante o sono REM e pode preceder a demência em muitos anos. Segundo Engelborghs, pesadelos ou “sonhos angustiantes” são sintomas comuns desse transtorno, e sua presença pode ser um sinal precoce de risco aumentado para demência.

A qualidade do sono tem sido amplamente reconhecida como um fator crucial para a saúde cognitiva. Estudos têm mostrado que interrupções no sono, especialmente em idades jovens e médias, podem ter consequências duradouras na memória e na função cognitiva. Uma pesquisa recente indicou que pessoas com sono interrompido na faixa dos 30 e 40 anos têm o dobro de chances de enfrentar problemas de memória e pensamento uma década depois.

O sono de má qualidade, frequentemente causado por pesadelos, pode levar a um estresse crônico e inflamação, ambos associados ao declínio cognitivo. Além disso, a fragmentação do sono pode afetar a capacidade do cérebro de se regenerar e eliminar toxinas, como a proteína beta-amiloide, que se acumula no Alzheimer.

Embora o estudo do Imperial College London forneça evidências convincentes de uma ligação entre pesadelos e demência, os pesquisadores enfatizam que mais pesquisas são necessárias. Um dos próximos passos importantes seria realizar estudos de sono que incluam exames polissonográficos para avaliar com mais precisão o papel do sono REM e outros fatores do sono na relação entre pesadelos e declínio cognitivo.

Outra área de interesse é investigar se tratamentos para pesadelos, como terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) ou medicamentos que suprimem os sonhos, poderiam reduzir o risco de declínio cognitivo e demência. Se esses tratamentos forem eficazes, eles poderiam oferecer uma abordagem preventiva promissora para pessoas de meia-idade com pesadelos frequentes.