Sítio arqueológico de Moray, localizado no Vale Sagrado dos Incas, próximo a Cusco, no Peru. Essas estruturas circulares em diferentes níveis de profundidade foram utilizadas pelos incas como um laboratório agrícola.
Autor: Luiz Veroneze – MTB 9830/PR – Fotos: Silvana Veroneze
Viajar ao Peru é, para muitos, sinônimo de visitar Machu Picchu. E com razão: a cidadela inca é um dos destinos mais deslumbrantes do planeta. Mas o que poucos sabem é que o país guarda outros tesouros tão fascinantes quanto — de desertos com geoglifos milenares a ilhas flutuantes, cânions profundos e montanhas coloridas que parecem saídas de um quadro surrealista.
Em meio às cordilheiras, florestas tropicais e cidades coloniais, o Peru se revela como um verdadeiro mosaico de culturas, paisagens e histórias. Convidamos você, leitor do Jornal da Fronteira, a conhecer 33 lugares imperdíveis e desvendar os segredos que só os viajantes mais atentos descobrem. Prepare-se para ir além do roteiro óbvio e descobrir um Peru que encanta, surpreende e transforma.
O essencial
Machu Picchu e os mistérios que ainda ecoam
É impossível falar de turismo no Peru sem começar por sua joia mais preciosa: Machu Picchu. Conhecida mundialmente como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo, a cidadela inca localizada a 2.430 metros de altitude é envolta em névoa, lendas e engenharia impressionante. Apesar de sua fama, ainda há perguntas sem resposta: quem construiu Machu Picchu, qual era seu real propósito, por que foi abandonada?
Esses enigmas tornam o destino ainda mais intrigante. Para quem busca saber como ir a Machu Picchu, as opções incluem o trem turístico partindo de Ollantaytambo, trilhas como a Inca Trail, ou o combo trem + ônibus, com embarque na vila de Machu Picchu Pueblo, também chamada de Águas Calientes.
Cusco: Onde o passado está vivo
Porta de entrada para Machu Picchu, Cusco é muito mais do que uma cidade de passagem. Suas ruas de pedra, igrejas barrocas e muros incas revelam um encontro único entre culturas. A antiga capital do Império Inca respira história. É possível visitar sítios arqueológicos como Sacsayhuamán e Qenqo, além de explorar mercados coloridos, museus e restaurantes com culinária andina requintada.
Vale Sagrado: Um caminho de surpresas
Entre Cusco e Machu Picchu está o exuberante Vale Sagrado dos Incas, um corredor fértil onde se encontram as ruínas de Pisac, Ollantaytambo e Moray. Ollantaytambo, em especial, é um segredo à parte: uma cidade viva, com sua organização urbana inca ainda preservada. Moray, por sua vez, impressiona com seus círculos concêntricos que funcionavam como laboratório agrícola dos incas.
Montanha Colorida (Vinicunca): Natureza psicodélica
A melhor época para visitar a famosa Montanha Arco-Íris é entre maio e setembro. Com mais de 5.000 metros de altitude, Vinicunca exige preparo físico e aclimatação. Mas quem chega ao topo é recompensado com uma vista espetacular de tons que variam entre vermelho, verde, azul e amarelo — resultado da alta concentração de minerais no solo.
Vale do Colca: O cânion onde voam os condores
Maior que o Grand Canyon, o Vale do Colca é um espetáculo da natureza. Localizado nos arredores de Arequipa, o cânion atinge mais de 3.000 metros de profundidade. Um dos grandes atrativos é ver os condores andinos em voo livre ao amanhecer, cena que marca qualquer viajante para sempre.
A rota dos mistérios
Nazca: Os desenhos invisíveis ao olhar desatento
Os geoglifos de Nazca são uma das maiores incógnitas arqueológicas da humanidade. Desenhos gigantes esculpidos no deserto retratam figuras de animais, humanos e formas geométricas — e só podem ser vistos do alto. Para vê-los, é necessário embarcar em pequenos aviões que sobrevoam a região. Quem os fez? E por quê? São perguntas que ainda hoje mobilizam pesquisadores.
Huacachina: Oásis e areia em estado bruto
A pequena vila de Huacachina, ao lado da cidade de Ica, é um verdadeiro oásis rodeado por dunas gigantes. Ali, é possível praticar sandboard, passeios de buggy e assistir a pores do sol de tirar o fôlego. Uma pausa perfeita para viajantes que buscam aventura e contemplação.
Lago Titicaca: Espiritualidade em altitude
O lago navegável mais alto do mundo (3.812 m) é também um dos locais mais místicos do Peru. Dividido com a Bolívia, o Titicaca é lar das ilhas flutuantes dos Uros, feitas de totora, uma planta aquática. Há ainda Taquile e Amantaní, onde o tempo parece ter parado. As lendas dizem que foi do Titicaca que nasceram os primeiros incas — e muitos habitantes locais ainda creem nisso.
Por falar em lago, na foto acima, apresentamos a você, leitor, a Lagoa Humantay é um reservatório natural de água proveniente do desgelo das geleiras da montanha Humantay, que está localizada na província de Anta, no departamento de Cusco, no Peru.
Arequipa: A cidade branca e seus vulcões
Arequipa, com suas construções de pedra vulcânica branca, é uma das cidades mais bonitas do Peru. Ao fundo, os vulcões Misti, Chachani e Pichu Pichu compõem uma paisagem dramática. O mosteiro de Santa Catalina, uma cidade dentro da cidade, e o centro histórico, patrimônio da UNESCO, são paradas obrigatórias.
Cajamarca: História, banhos termais e paisagens
Foi em Cajamarca que o último imperador inca, Atahualpa, foi capturado pelos espanhóis. Hoje, a cidade mistura ruínas, arquitetura colonial e banhos termais. É um destino pouco explorado, mas que revela um Peru mais autêntico, com montanhas, fazendas e tradições vivas.
Joias culturais que encantam os sentidos
Paracas: Um mar de história e natureza
A reserva de Paracas, situada na costa sul do Peru, é uma das regiões mais surpreendentes do país. Conhecida por suas formações rochosas, praias desertas e vida marinha rica, abriga também o misterioso Candelabro de Paracas, um geoglifo esculpido na encosta de uma duna, visível apenas do mar. O passeio de barco até as Ilhas Ballestas, apelidadas de “Galápagos do Peru”, revela leões-marinhos, pinguins de Humboldt e dezenas de espécies de aves em seu habitat natural.
Trujillo: Dança, cores e ruínas pré-incas
Trujillo, no norte peruano, é berço da Marinera, uma das danças típicas mais elegantes do país. Mas também se destaca pela herança arqueológica. Nas redondezas estão as Huacas del Sol y de la Luna, templos da civilização Moche, e a impressionante cidade de barro de Chan Chan — maior centro urbano pré-colombiano da América, com sua estrutura de adobe esculpido e corredores labirínticos.
Huaraz e a Cordilheira Branca: O paraíso do trekking
Para os amantes de trilhas e montanhismo, Huaraz é ponto de partida obrigatório. Situada aos pés da Cordilheira Branca, a cidade dá acesso a algumas das paisagens mais espetaculares do continente. O Laguna 69, com suas águas azul-turquesa glaciais, e o Parque Nacional Huascarán, são tesouros naturais de tirar o fôlego — literalmente, já que boa parte dos percursos se dá acima dos 4 mil metros.
Iquitos: A porta para a selva amazônica
Iquitos é uma cidade única: acessível apenas por avião ou barco, está encravada no coração da Amazônia peruana. É o ponto de partida para expedições pela selva, com passeios de canoa, avistamento de botos-cor-de-rosa, visitas a comunidades indígenas e estadias em lodges ecológicos. Uma experiência sensorial e espiritual, onde se ouve a floresta, sente-se a umidade do ar e prova-se sabores exóticos.
Chachapoyas: A civilização das nuvens
Menos conhecida do que os incas, a civilização Chachapoya deixou um legado imponente na região norte do Peru. Em Chachapoyas está a fortaleza de Kuelap, uma espécie de “Machu Picchu do norte”, construída no alto das montanhas. Suas muralhas circulares impressionam tanto quanto as paisagens ao redor. Também ali se encontra a Catarata de Gocta, uma das maiores quedas d’água do mundo, envolta por vegetação exuberante e lendas de sereias encantadoras.
Cusco tem algo mais
Igreja da Companhia de Jesus
A Iglesia de la Compañía de Jesús, localizada na Plaza de Armas de Cusco, no Peru. Essa igreja é uma das construções coloniais mais importantes da cidade, famosa por sua fachada barroca em pedra rosada e interior ricamente ornamentado com altares dourados e pinturas da Escola Cusquenha. Foi construída sobre o antigo palácio inca de Huayna Capac, o que simboliza a sobreposição da cultura espanhola sobre a civilização andina.
A Plaza de Armas de Cusco, onde a igreja se encontra, é o centro histórico e cultural da cidade, cercado por museus, restaurantes, lojas de artesanato e outras igrejas, como a Catedral de Cusco. É ponto de partida obrigatório para quem visita a capital do antigo Império Inca.
Salineras de Maras
As Salineras de Maras, um dos lugares mais impressionantes do Vale Sagrado dos Incas, no Peru. Trata-se de um complexo de milhares de pequenas piscinas retangulares escavadas nas encostas da montanha, usadas para a extração de sal desde os tempos pré-incas. As águas salgadas vêm de uma nascente subterrânea e são canalizadas para encher os tanques.
Com a evaporação, o sal é colhido manualmente — processo que permanece praticamente inalterado há séculos. O cenário é surreal, especialmente sob o sol, que intensifica os tons brancos e alaranjados das salinas. As Salineras de Maras ficam próximas a Moray e costumam ser visitadas no mesmo roteiro a partir de Cusco ou Urubamba.
Sítio arqueológico de Tambomachay
O sítio arqueológico de Tambomachay, localizado nos arredores de Cusco, no Peru. Tambomachay é conhecido como o “Banho do Inca”, devido às suas fontes cerimoniais, aquedutos e canais de água que ainda hoje fluem com precisão impressionante. Os incas provavelmente usavam o local para rituais ligados à água e à purificação, possivelmente relacionados à fertilidade e ao culto das divindades hídricas da natureza andina. O sítio está a aproximadamente 3.700 metros de altitude e é uma das quatro principais atrações do “City Tour Arqueológico” de Cusco, ao lado de Qenqo, Puka Pukara e Sacsayhuamán.
Conclusão
O Peru é um daqueles destinos que vai muito além das fotos clássicas e dos roteiros engessados. Cada cidade, cada vila, cada trilha esconde um pedaço da alma andina, seja na forma de uma dança ancestral, de um prato típico servido com afeto ou de uma ruína esquecida em meio às montanhas. Neste artigo, listamos lugares imperdíveis — alguns mundialmente famosos, outros ainda pouco explorados. Mas todos eles têm algo em comum: a capacidade de surpreender até o viajante mais experiente.
Do altiplano ao litoral, da floresta à cordilheira, o Peru pulsa com vida, história e cultura. Ao planejar sua próxima viagem, considere estender seu olhar além de Machu Picchu. O país guarda muito mais do que se vê no cartão-postal. E os maiores segredos — como sempre — estão justamente nos caminhos menos trilhados.
Leia mais: O mistério da porta secreta de templo antigo das ruínas de Machu Picchu
Com mais de 20 anos de atuação na área do jornalismo, Luiz Veroneze é especialista na produção de conteúdo local e regional, com ênfase em assuntos relacionados à política, arqueologia, curiosidades, livros e variedades.