Encontradas pegadas de dinossauro com 167 milhões de anos de espécie gigante

Imagem ilustrativa

Em um cenário que hoje abriga ventos gelados e paisagens rochosas, os cientistas descobriram algo que poderia muito bem ser cena de filme: pegadas de dinossauros gigantes perfeitamente preservadas, com cerca de 167 milhões de anos. O achado ocorreu na Ilha de Skye, ao norte da Escócia, e está deixando os paleontólogos em êxtase — e com bons motivos.

O que mais impressiona é o contraste entre o ambiente atual e o que se presume ter existido por ali durante o Jurássico Médio. Segundo os especialistas, a região era dominada por um clima subtropical úmido, com abundância de água doce e salobra, além de grandes estuários que provavelmente serviam como ponto de encontro para diferentes espécies de dinossauros.

Como as pegadas foram encontradas e analisadas

O trabalho da equipe liderada pelo paleontólogo Tone Blakesley envolveu tecnologia de ponta. Para analisar as marcas no solo — algumas medindo até 60 centímetros de diâmetro — os cientistas utilizaram drones para registrar milhares de fotografias aéreas da área. A partir dessas imagens, um software de fotogrametria gerou modelos digitais em 3D incrivelmente detalhados.

Esses modelos permitiram identificar dois tipos principais de pegadas:

  • Pegadas com três dedos, associadas aos terópodes carnívoros bípedes — dinossauros predadores que provavelmente mediam entre 3 a 5 metros de comprimento.
  • Pegadas mais arredondadas e largas, parecidas com marcas de pneus, deixadas por saurópodes herbívoros de pescoço longo, que podiam atingir 15 metros de comprimento ou mais.

O estudo das trilhas revelou que muitas das pegadas estavam em sequência, formando verdadeiros “caminhos” deixados por esses animais. Um dos trajetos mais longos encontrados tem cerca de 12 metros e é considerado um dos maiores da ilha.

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As distâncias regulares entre as marcas indicam que os dinossauros estavam caminhando lentamente, sem sinais de pressa ou perseguição. Isso sugere que as margens da lagoa onde as pegadas foram deixadas eram utilizadas como uma espécie de “zona de convivência” — um local tranquilo, propício para alimentação, hidratação e deslocamento.

A comparação é inevitável: assim como hoje vemos animais se reunindo em torno de lagos e rios — desde cervos até elefantes —, esses gigantes pré-históricos também seguiam o instinto natural de buscar água e segurança.

Carnívoros e herbívoros: convivência sem confronto?

Um detalhe que chamou a atenção dos pesquisadores foi a proximidade das pegadas de carnívoros e herbívoros, embora sem sinais claros de interação direta. Segundo Blakesley, não há indícios de confronto, perseguição ou ataque. Tudo indica que os registros foram feitos em momentos diferentes, com cada grupo utilizando a região em ocasiões distintas.

“Se eles estivessem ali ao mesmo tempo, provavelmente teríamos evidências de predadores atacando presas. Mas o que vemos são movimentos tranquilos, como se cada espécie soubesse a hora certa de ir até a lagoa”, explica o paleontólogo.

Durante o Jurássico Médio, há cerca de 167 milhões de anos, a Ilha de Skye não era nada parecida com o que é hoje. De acordo com os cientistas, o clima era quente e úmido, semelhante ao que encontramos hoje em regiões subtropicais como o sul da China ou partes do Brasil.

A paisagem era marcada por vegetação abundante, áreas pantanosas, grandes rios e lagunas, o que oferecia um ambiente fértil tanto para herbívoros como para carnívoros. As margens dessas lagoas funcionavam como pontos estratégicos para alimentação, socialização e até descanso.

Esse achado preenche uma importante lacuna no registro fóssil da Escócia e da Europa como um todo. Até pouco tempo atrás, havia escassez de registros detalhados de pegadas do Jurássico Médio. Isso dificultava a compreensão de como os dinossauros se distribuíam no continente europeu naquela época.

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A presença de tanto terópodes quanto saurópodes em uma única área indica que a região era ecologicamente diversa e atrativa para diferentes espécies. Além disso, a qualidade das pegadas — muitas delas bem preservadas e com detalhes anatômicos — oferece uma oportunidade rara de estudo.

O uso da tecnologia na paleontologia moderna

O uso de drones e fotogrametria revolucionou a maneira como os cientistas investigam sítios paleontológicos. Antes, o processo era lento e dependia exclusivamente de observações no solo e moldes de gesso. Hoje, com modelos em 3D, é possível estudar as pegadas em detalhes sem danificar o local.

Essa tecnologia também permite que as descobertas sejam compartilhadas globalmente com outros pesquisadores, aumentando o potencial de colaboração e abrindo caminho para novas hipóteses sobre o comportamento dos dinossauros.

A equipe de Tone Blakesley não pretende parar por aí. Eles já estão explorando outros pontos da Ilha de Skye e expandindo os estudos para áreas do sul da Inglaterra. O objetivo é mapear mais trilhas e entender melhor como os dinossauros circulavam por essas regiões.

Além disso, os modelos em 3D estão sendo utilizados para criar reconstituições visuais dos dinossauros em movimento, com base no comprimento do passo, profundidade da pegada e padrão de caminhada.

O interesse por dinossauros não é novidade — seja nas salas de aula, nos museus ou nas telonas do cinema. Mas descobertas como essa renovam o encanto e nos lembram que ainda há muito a ser desvendado.

Saber que há milhões de anos, em um lugar que hoje é frio e rochoso, gigantes de pescoço longo e predadores de três garras caminhavam calmamente pelas margens de uma lagoa, é algo que instiga nossa imaginação e reforça o quanto a Terra já foi — e continua sendo — surpreendente.

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