No coração da cidade de Split, na Croácia, onde o tempo parece ter moldado cada bloco de pedra com histórias imperiais, uma nova descoberta arqueológica mexeu com os alicerces do conhecimento sobre o Palácio de Diocleciano. A edificação, construída no final do século III d.C. como o refúgio de aposentadoria do imperador romano, é há muito estudada por especialistas e considerada um dos complexos mais bem preservados da Antiguidade. Ainda assim, a arqueologia provou mais uma vez que ruínas milenares sempre guardam um segredo a mais — e, neste caso, ele estava literalmente atrás de uma parede.
Enquanto buscavam vestígios de uma antiga torre desaparecida, arqueólogos se depararam com algo inesperado: uma passagem secreta esquecida há cerca de 500 anos. O achado aconteceu na muralha leste da fortificação, surpreendendo até mesmo os estudiosos mais familiarizados com a planta do palácio. A estrutura subterrânea, até então desconhecida, teria servido como ligação entre os porões monumentais do edifício e os andares superiores, incluindo os aposentos privados do imperador Diocleciano.
O caminho silencioso entre os andares do poder imperial
Com 1700 anos de história, o Palácio de Diocleciano não é exatamente um terreno de descobertas inesperadas. Já escavado, estudado e catalogado minuciosamente por gerações de arqueólogos, o local é uma mistura de fortaleza militar, vila imperial e cidade em funcionamento — ainda hoje, abriga lojas, cafés e residências. Mas a existência de um túnel secreto, escondido nas entranhas da muralha leste, desafiou tudo o que se sabia até então.
A descoberta ocorreu durante escavações organizadas com o objetivo de encontrar uma torre perdida descrita em documentos históricos. Embora essa estrutura não tenha sido localizada, a surpresa arqueológica tomou outro rumo: atrás de uma seção da muralha reforçada, surgiu uma abertura bloqueada por entulhos e pedras. O espaço, segundo os pesquisadores, ligava os subsolos — conhecidos por sua arquitetura impressionante e estado de conservação — a uma escadaria que levava diretamente aos andares superiores.
“Hoje, do outro lado dessas paredes, tudo é escuridão. Mas na época de Diocleciano, esse espaço era movimentado, com circulação intensa entre os níveis do palácio”, afirmou Vesna Bulić Baketić, diretora do Museu da Cidade de Split.
Defesas contra os otomanos e o esquecimento da história
A pista mais provável para o desaparecimento desse túnel ao longo dos séculos está nas reformas defensivas feitas no palácio durante os períodos de invasões, especialmente com o avanço otomano nos Bálcãs. O reforço das muralhas pode ter resultado no bloqueio intencional dessa passagem interna, considerada vulnerável ou desnecessária em um contexto bélico. Com o tempo, a estrutura foi esquecida — até agora.
Além do valor arqueológico da descoberta, ela contribui para compreender melhor como se dava a mobilidade dentro do complexo imperial. Os porões, que hoje recebem visitantes do mundo todo, parecem ter tido um papel mais funcional do que se imaginava: ao invés de serem apenas áreas de armazenamento, faziam parte de uma engrenagem interna sofisticada que conectava os diferentes espaços do poder.
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Apaixonada pela literatura brasileira e internacional, Heloísa Montagner Veroneze é especialista na produção de conteúdo local e regional, com ênfase em artigos sobre livros, arqueologia e curiosidades.